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Francisco Beltrão
quarta-feira, 18 de junho de 2025

Edição 8.228

18/06/2025

”Recolhimento Macaúbas”, primeiro colégio de meninas do Brasil (1714)

colégio de meninas

Quando de minha infância, morador de Lagoa Santa (MG), coisas muito antigas – como a Gruta da Lapinha, o Convento de Macaúbas, onde as freiras viviam em absoluto recolhimento – povoavam minha imaginação. Criança não poderia cogitar uma visita àquele local. Era clausura … dava medo! Era como se fosse mandado para o Colégio do Caraça, local de muita severidade. Passei minha infância sem ir a Macaúbas, embora tivesse visitado a fazenda de Zé de Abreu à beira do rio das Velhas. Só em 1996, com o velho amigo Mário Lúcio andamos por Macaúbas, no interior de Santa Luzia.
Do alto de uma figueira, avistamos o interior do claustro do Convento de Macaúbas, do qual, reza a história, Chica da Silva foi interna.
 Minas Gerais tem a glória de ter construído, nos idos de 1714/1716, o recolhimento de Macaúbas, em Santa Luzia, a 38 km de Belo Horizonte, a pouco mais de 500 metros do rio das Velhas, que viria inundá-lo. Uma nova construção foi feita, mais acima, a cavaleiro do rio. Inaugurado em 25 de dezembro de 1743, conta o célebre padre Joaquim Silvério de Souza – autor do clássico “Sítios e Personagens”, que dedicou quase uma centena de páginas para contar a vida desse recolhimento – que estudaram algumas filhas de Chica da Silva. 
Durante mais de 150 anos, o Convento ou Recolhimento de Macaúbas recebeu meninas para estudar e candidatas à vida religiosa contemplativa. Enclausuradas, como é ainda hoje, as freiras de Macaúbas fazem adoração perpétua. É possível que tenha sido a primeira foto batida do interior do claustro, tomada de 10 metros de altura por Mário Lúcio Pinto. Os muros de quatro metros de altura, um de largura separam do mundo, há 200 anos, essas irmãs contemplativas. A igreja do Convento tem Nossa Senhora da Conceição entronada no altar-mor, além de dois altares com Nossa Senhora do Carmo e Santana. As peças de imaginária são de Manuel Antônio Azevedo Peixoto. A Igreja é de talha simples e bem proporcionada. O edifício tem dois corpos principais que ladeiam a capela. Portada  encimada por cruz, ladeada por janelas envidraçadas provindas de cimalhinha, sobre os corpos laterais do edifício, com janelas envidraçadas ou de venezianas, elevam-se mirantes que têm, na parte da frente, larga superfície coberta de treliças que lembram os muxarabis de Diamantina. 
A pessoa pode ver, mas não é vista. Não me foi permitido ingressar na parte superior do convento, daí citar parte da descrição de Paulo Kruger Correa Mourão e de Salomão de Vasconcelos em artigos para “O Diário”, Belo Horizonte, de outubro de 1945 e maio de 1959.
Internamente, como pude ver, em parte “da árvore”, possui pátio amplo, horta e quatro galerias claustrais. No pavimento superior, há salão que serve de coro privativo e de consistório, dotado de filas de bancos, tendo ao centro a tribuna da madre superiora. Painéis no teto, restaurados, embelezam o ambiente. Próximo ao salão, capelinha com porta. 
Meu velho conhecido Dom Serafim Gomes bem poderia mandar editar um livro sobre o velho Recolhimento de Macaúbas, hoje uma relíquia da pátria, que pertence muito mais à história do Brasil do que à história da Igreja.  O Cônego Raimundo Trindade, considerado o príncipe dos historiadores mineiros, fala de Macaúbas em sua obra “Arquidiocese de Mariana”, 2º volume: “A propósito ainda de Macaúbas, devo frizar que ali se fundou a primeira escola de educação para meninas que houve em Minas Gerais. Nesse colégio educou o desembargador João Fernandes de Oliveira nove filhas com Chica da Silva. O que é comprovado ainda pelo seguinte trecho de uma pastoral de Dom Viçoso, de 3 de maio de 1846, dirigida ao padre Morais Torres: “Ultimamente lembramos ao Revmo. Delegado  […] que disponha as coisas de maneira que essa Casa seja destinada só à vida contemplativa das Recolhidas, senão também à educação das pessoas do seu sexo, como nos tempos passado se praticava”.

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