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Francisco Beltrão
terça-feira, 24 de junho de 2025

Edição 8.231

24/06/2025

Tancredo Neves e a frase que Tiradentes nunca proferiu!

Geral

David Carneiro, em 1984, na porta de seu museu, em Curitiba, à Rua
Brigadeiro Franco, 1828. (Foto-Arquivo Baleeiro)

Quando da Campanha das Diretas, o espertíssimo Mauro Salles criou uma frase, atribuiu-a a Tiradentes e colocou-a na boca de Tancredo Neves: “Haveremos de fazer deste País uma Nação”. Fiquei intrigado com aquilo porque lera os 10 volumes dos Autos da Devassa da Inconfidência Mineira, do acervo na Biblioteca da Facibel. Repassei-os, uma vez mais, e nada achei. Escrevi, então, ao escritor, historiador e erudito David Carneiro, autor de mais de 80 livros, a maior cultura do Paraná, à época, valendo-me de sua situação de biógrafo de Tiradentes.

Respondeu-me o sábio David Carneiro em sua caligrafia de escriba medieval. Disse-me na carta: “Embora não haja nos Autos da Devassa a frase expressa nos termos em que com razão contestou, toda ação do Tiradentes leva a crer etc.”. Ora, não estou tratando de hipótese, de dedução, sim de uma frase que um marqueteiro (Mauro Salles) criou para a campanha de Tancredo Neves. A frase pegou e, hoje, até nas comemorações em Ouro Preto ela é repetida como se verdade fosse.

David Carneiro comprova que apenas por dedução essa frase foi criada: “É a ação dele que sugere essa verdade: Quiséssemos, faríamos deste país uma grande nação”. Pelo respeito que tinha pela grande idade de David Carneiro, pela sua obra, preferi o silêncio. Nada escrevi, mas obviamente não aceitei sua versão. Como, por dedução, colocar nos lábios de um herói da Pátria, de um mártir, uma frase dessa magnitude, forjada por um marqueteiro, ainda que erudito? Hoje, não, qualquer Mané do Marketing Político pode inventar frases de efeito e atribuir a seus candidatos.

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 O povo não está preocupado, por exemplo, com o que Lula diz ou deixou de dizer. Tornou-se um falastrão, língua-de-trapo.

Agora mesmo leio uma obra clássica de Woodrow Wilson, célebre presidente norte-americano, edição de 1925: “Congresional Government-a study in American Politics” — em inglês — presente de meu saudoso amigo e mecenas Sérgio Correa da Costa (embaixador e escritor).

Imaginem, meus três leitores, se Woodrow Wilson enchesse de frases suas esse livro e as atribuísse a Jefferson, a Adams, a Washington e a Hamilton?

Se um publicitário inventar alguma frase usando o nome de algum dos Founder Fathers, no mínimo estará com a carreira encerrada.

Reproduzo a carta manuscrita de David Carneiro como homenagem a sua memória. Tinha por ele grande estima. A geração atual nada sabe sobre ele. Imagino que o museu que criou ainda exista!

David Carneiro faleceu em 1990, aos 86 anos. Um dia será nome de município. É o mínimo que o Paraná pode fazer pela sua memória.

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