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Sou do tipo pé no chão, não curto fortes emoções, gosto de rotina. Prefiro a calmaria. Já tive meus tempos de juventude, de certa inconsequência, mas até nessas horas era mais comedida, nunca fui de me arriscar demais. O medo até me tirou de algumas enrascadas e eu agradeço. Depois que ficamos mais velhos, com filhos para criar e que dependem totalmente de nós, qualquer novo passo deve ser bem calculado. A vida deveria ser assim, planejada, com pesos e medidas, para os acertos serem maiores que os erros. Mas chega uma hora em que as coisas mudam de direção e temos que fazer escolhas, nos permitir sentir o friozinho na barriga que toda mudança proporciona. E eu coloquei algo na minha cabeça que me deixou mais confiante nesse período de milhares de pensamentos: “Tem sempre uma porta que fecha e várias janelas que se abrem, é a vida”. Comigo, depois de anos trabalhando em Francisco Beltrão, foi assim. Decidi que o momento era de abraçar as novidades e curtir. A mudança não partiu diretamente de mim, foi uma decisão de meu marido, uma oportunidade de crescimento profissional que não tinha eu o direito de lhe jogar um balde de água fria, ser o freio de mão da história. Somos um casal, somos uma família e comprei seu sonho como se fosse meu também. Decidi que sim, estava na hora de dar um novo passo.
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Para muitos o meu medo pode até parecer motivo de riso, afinal, a mudança é pequena se vista pelo lado geográfico. Vou morar em Pato Branco, numa cidade a 50 quilômetros de Beltrão, tão próxima que não dá nem pra dizer que vamos fazer uma viagem. Também não vou mudar de Estado, nem de sotaque, tampouco de costumes: o povo do Sudoeste é, em geral, meio parecido, tem a fama de ser hospitaleiro, batalhador, gente que se conhece pelo nome, pelas amizades, que valoriza a companhia dos amigos e conhece os vizinhos. Gosto de cidade assim, que cresce, que se desenvolve, mas mantém o clima de interior. Vou trocar minha cidade natal, a qual acolheu minha família e que amo muito por outra que criei laços bastante fortes. Foi em Pato Branco que concluí a faculdade de Jornalismo e foi lá que conheci o amor da minha vida, hoje meu marido, pai dos meus filhos. Não é apenas por ele que decidi dar essa guinada, mas por mim mesma.
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Para os que gostam de meu trabalho, que esperam essa coluna todas as sextas-feiras, que torcem pelo meu sucesso, dou a boa notícia: só troco de cidade, não de trabalho. Sou jornalista por paixão, por vocação, amo o que faço. E felizmente encontrei no Jornal de Beltrão muito mais que uma empresa. Hoje, quase 11 anos depois daquele dia 2 de março de 2005, tenho a certeza de que fiz a escolha certa em entrar pela porta, sentar à frente do seu Ivo Pegoraro e pedir uma oportunidade de trabalho. Que venha 2015, que venha Pato Branco. Nos vemos novamente em janeiro, daí!