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Francisco Beltrão
domingo, 25 de maio de 2025

Edição 8.211

24/05/2025

Tragédia não é espetáculo

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O problema não está na tecnologia, no imediatismo da informação. O mal está em não saber usá-la. E nos últimos dias tivemos em Francisco Beltrão pelo menos dois exemplos de como o ser humano é primário com celular em mãos. As pessoas não param mais nos acidentes na estrada, ou nas tragédias pelos bairros, para se solidarizar pelo sofrimento das vítimas. Muita gente usa o momento de tristeza das famílias para fazer mídia escrota, de mau gosto e nojenta. Sério, que pessoa é essa que fotografa a cabeça esmagada de uma mulher no asfalto e repassa a imagem para os amigos no Whatsap? Ou pior, faz vídeos da cena terrível e junto com a mensagem envia o seguinte comentário: “agora o face vai bombar”. Nós, jornalistas, temos a obrigação de noticiar os fatos, sejam eles bons ou ruins. Quando chega a informação na Redação de que aconteceu um acidente grave, ninguém pula de alegria e corre fazer a cobertura. Mesmo acostumados à rotina, a gente sofre só de pensar na família e temos todo o cuidado para preservar a imagem do falecido, poupando os familiares e amigos de detalhes desnecessários. Nossa missão é dar a informação e tentar, se possível, sempre nos colocar no lugar de quem sofre a perda, de quem virou notícia nas páginas policiais do dia pra noite. Não venham me dizer que esse povo que fotografa e filma tragédia alheia nas ruas das cidades ajuda na comunicação. Isso é crime, é um absurdo, é o fim da picada. Você que faz isso e acha divertido, já experimentou se colocar no lugar da família? Já imaginou se enquanto navega pelas redes sociais, despreocupado, clica num link e abre uma foto de alguém importante na sua vida morto, desfigurado, sangrando, sendo usado como espetáculo para morimbundo ver? A polícia que atende as ocorrências deveria usar sua autoridade para coibir que pessoas assim fiquem como urubus sobrevoando a cena e querendo tirar proveito da situação. Aliás, nem sei que proveito tiram em transmitir tais imagens e vídeos. 
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Essa velocidade com que as informações chegam até nós é assustadora. É tudo muito rápido: aconteceu às 14 horas e às 14h10 está no mundo virtual. Não tem como evitar e ir contra o furo jornalístico, a ânsia dos repórteres em dar a notícia em primeira mão. Dentro desse tiroteiro de informações, ninguém está livre de saber da morte de um parente da pior forma possível: pela mídia, por desconhecidos. Com meu pai foi assim, Meu irmão faleceu em 2001, de acidente de carro, enquanto ia trabalhar em Salgado Filho. Seu Ivaldino tinha no velho rádio de pilha o companheiro de todas as manhãs. Não deu outra. Naquele dia, ouviu o nome do filho no noticiário. Nem preciso dizer que perdeu o chão. Neste fato, o veículo não tem culpa, fez seu trabalho, deu a notícia. Meu pai é que teve o azar de sintonizar a rádio naquele horário. 
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Deixo aqui registrado meu desabafo e uma espécie de corrente: vamos nós, pessoas de bem, xingar os amigos e conhecidos que nos mandam essas mensagens de horror. Não vamos compactuar com tanta maldade. Se não há quem veja, a coisa tende a não diziminar na NET e os urubus perdem a motivação. 

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