Qual a lógica em aceitar que aqueles dois que perderam a hora para chegar ao trabalho tiveram a proteção divina ao contrário dos demais?
Em quase todas as catástrofes, seja a queda de avião ou um desastre de ônibus, alguém se salva porque chegou atrasado. E as pessoas costumam comentar que é a mão de Deus, o que certamente não é uma explicação satisfatória. Porque Deus agiria para salvar uma pessoa especificamente enquanto tantos outros morreram no mesmo acidente?
Naquele acidente do avião da Voepass, que saiu de Cascavel, teve um passageiro que, mesmo brigando por um assento, não conseguiu embarcar. Difícil entender que Deus agiu para salvá-lo, enquanto permitiu a morte de 62 passageiros e tripulantes.
Nas vésperas do Natal, em Gramado, um avião caiu sobre um estabelecimento comercial. Duas pessoas que deveriam estar na loja destruída naquela manhã se atrasaram para chegar ao trabalho e se salvaram, enquanto os 10 ocupantes do avião morreram. Qual a lógica em aceitar que aqueles dois que perderam a hora para chegar ao trabalho tiveram a proteção divina ao contrário dos demais?
A resposta, seja qual for, é de difícil entendimento. Além da mão de Deus e de tantas coincidências, a que pode-se atribuir o fato de duas pessoas terem escapado por sua impontualidade? Ao observar fatos assim, temos a impressão de que existe algo sobrenatural, muito além do nosso entendimento.
Não deixa de ser angustiante pensar que temos tão diminuto poder sobre nosso futuro e que nossa vida está nas mãos do destino. Sobram-nos tão poucas alternativas e, ainda assim, algumas delas nos levarão — queiramos ou não — para rumos que não gostaríamos.
Talvez isso explique porque algumas pessoas acabam tendo uma vida completamente diferente daquela que haviam planejado. E tudo, por mais insignificante que pareça, vai definindo rumos e direcionando para o que está escrito para acontecer.
E isso vale não apenas para acidentes. Parece haver uma teia frágil e misteriosa que determina o que acontecerá com o futuro de todos nós.