23.6 C
Francisco Beltrão
domingo, 25 de maio de 2025

Edição 8.211

24/05/2025

Falar do Pelé é falar da nossa vida

Por Ivo Pegoraro* – Pra quem nasceu nas décadas de 40 e 50, falar do Pelé é recordar sua própria vida. A primeira vez que ouvi falar dele foi em 1962. Eu tinha 9 anos, morávamos em Paim Filho (RS). Não tínhamos rádio, muito menos TV e jornal.

Lembro do Doraci Slongo (hoje ele reside em Catanduvas, PR), montado em seu cavalo, ao lado do poço, na entrada da noite, falando pro meu pai, Luiz, da Copa do Chile. Mesmo sem Pelé, o Brasil era bicampeão. E as perguntas inevitáveis: “Pai, o que é bicampeão? Quem é o Pelé? Quem é o Garrincha? Onde fica o Chile?” Em 66, estávamos de mudança de Realeza (perto de Salto Caxias), pro Verê. O pai trocou uma porca com leitões por um super rádio Teleparken. Bem no tempo da Copa. O Pelé e o Brasil já eliminados. Na final, Inglaterra (campeã) e Alemanha. “…pode ser o gol de empate, espalma o goleiro!” Pai, o que é espalma? Passada a Copa, veio o nosso futebol.

O pai escutando e eu fazendo perguntas. É quanto jogador pra cada lado? Quanto tempo de jogo? Pai, o que é Grenal? É Grêmio contra Internacional. E o senhor torce pra qual? Pro Internacional. Lá, embrenhado naquelas incríveis florestas do interior de Realeza, em 1966, vi nascer mais um colorado. Ouvindo Pelé. Anos depois, quando o Pelé judiava do Inter, marcando gol não só em São Paulo mas também no velho estádio dos Eucaliptos de Porto Alegre, eu me conformava, ele era o rei.

- Publicidade -

Naqueles tempos de União da Barra, no Verê, lembro do Mauro Ramos, que torcia pro Paulista de Jundiaí. E eu, em São Paulo, era santista, ou pelezista. Quando começou o ginásio, no Verê, o assunto do nosso lado era, claro, futebol. Uma noite discordamos do Otávio Daros (alô Otávio, como está o Verê hoje?). Ele dizia que o Pelé tinha muitos gols porque ele era o titular e, mesmo que não jogasse, se o seu substituto marcasse gol, era anotado pro Pelé. Não pode ser, Otávio! Não pode mesmo. Mas dessa eu nunca esqueci. Um dia caiu nas minhas mãos uma revista (ou era livro, manual, ou simples artigo) “Jogando com Pelé”. Repete o chute, o pé de apoio tem que pisar bem ao lado da bola.

Meu chute melhorou muito e muitos gols marquei com o que o Pelé ensinou, através daquela publicação. Do Pelé podem-se citar cenas patéticas, como aquela da Fórmula-1 que ele não deu a bandeirada ao vencedor. Esquece. Fora do futebol, o Pelé era um ser humano como qualquer um de nós. Mas em campo ele era o rei e, pra mim, continua sendo. Jogou em outros tempos? Verdade.

Era mais fácil para um craque se infiltrar numa defesa? Talvez. Tem que ver que a tática de seu time também era bem primária, comparando às de hoje. Esquecendo o nível técnico, eu sei, na prática, em minhas peladas, como funciona. Nada adianta você enfrentar um adversário frágil, se teus companheiros também são frágeis e não te ajudam. Se o técnico adversário armou mal seu time, mas o seu técnico ficou no mesmo nível. Sempre é difícil. Menos para os craques. Ou os gênios do futebol, como Pelé.

Rei Pelé, você me emociona. Devo muito a você.

*Ivo Pegoraro é jornalista em Francisco Beltrão

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques