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Francisco Beltrão
domingo, 25 de maio de 2025

Edição 8.211

24/05/2025

Amyr Klink e o local mais perigoso do mundo

Amyr Klink

Algumas pessoas levam uma vida que mais parece um filme de aventura. E nós, que levamos uma vidinha feijão com arroz, às vezes damos a sorte de encontrá-las. Amyr Klink é um destes sujeitos que colecionam façanhas impensáveis para a maioria. E ele as conta de forma mais limpa e modesta do que a gente, que costuma dar aquela enfeitada quando descreve a nossa atuação naquele jogo de futebol que, no fim das contas, nada valia e, por isso mesmo, ninguém lembra. Mas há certa lógica neste contraste de comportamentos. As boas histórias, assim como as pessoas diferenciadas, não precisam de muitos enfeites e firulas para se destacar. O comum é que carece de adornos. Amyr Klink é um sujeito no mínimo diferenciado. Mas, não pela aparência, não pelo vocabulário difícil ou pelas roupas, e sim pela vivência, pela ousadia. Ele palestrou no Redescobrindo – um baita evento promovido pela Rede Forte, em Foz do Iguaçu – e, apesar de ter cruzado com ele por lá, só o reconheci quando foi chamado ao palco. Antes disso, aquele senhor, sentado discretamente numa mesa, era mais um. O homem que sozinho já atravessou o Atlântico Sul num barco a remo e até agora foi o único a contornar, sozinho num veleiro, a Antártica, não é um palestrante tradicional. No lugar de terno e gravata, roupas despojadas, parecendo aquele seu tio do interior que vem pra cidade uma vez por mês pra ir no banco e levar susto no semáforo. No lugar das frases feitas e da entonação enstusiasmada, a fala mansa, pitadas de humor e um mar de histórias interessantes.

Estagnação causada pelo conforto
Entre as muitas passagens envolvendo seu amor pelo mar, pelas coisas simples, pelas viagens solitárias e, mais recentemente, por empreendimentos ligados à água – ele comanda um estaleiro no interior de São Paulo e uma marina em Parati (RJ) -, me chamou a atenção uma sobre a estagnação causada pelo conforto, pela fartura. Amyr, morador de uma casa simples, feita por ele próprio, num paraíso perdido em Parati, antes de partir para uma viagem que levaria dois anos, pediu a um caseiro e amigo que consertasse uma janela quebrada. O sujeito avisou que não consertaria naquele dia porque iria pescar. Ok. Seiscentos e tantos dias depois, Amyr estava de volta e uma das primeiras coisas que observou é que a janela não havia sido consertada. Ele se preocupou, pois achou que o caseiro tinha morrido, não parecia possível que em dois anos não tivesse feito uma tarefa tão simples. Foi então procurar notícias do sujeito, que morava a alguns quilômetros. Para sua surpresa, o sujeito estava vivo e, acredite, chegando de outra pescaria. Questionado sobre a janela, a resposta foi: “Seu Amyr, não vai acreditar, mas não deu tempo”. A conclusão do navegador foi a de que Parati é o lugar mais perigoso do mundo. Como assim? É que tem fartura e a fartura é uma armadilha. Onde nada falta, onde não há necessidade, também não há estímulo para a inovação. 

Objetivo, planejamento e orgulho
Faço um paralelo, óbvio, desta historinha com os negócios. Sem necessidade e sem objetivos, não há crescimento, não tem evolução. E nos negócios isso é sinônimo de naufrágio. A própria crise, da qual tanto se fala, não é mais do que um desafio depurador, que nos desperta do conforto para a necessidade de agir rápido. Com isso, a gente avalia se os rumos estão corretos e se tudo o que carregamos é necessário ou não. Menos peso garante mais mobilidade com vento fraco. E quem consegue navegar nesta condição, voa quando estiverem favoráveis os ventos.Voltando ao que falou Amyr Klink, o fundamental para as viagens solitárias e para os empreendimentos é planejamento. “Não há vento favorável para o marinheiro que não sabe aonde ir”. A frase é batida, sei, mas ganha uma boa dose de verdade quando sai da boca de um senhor que, sozinho, enfrentou os mares mais turbulentos do planeta e voltou pra ensinar o que é necessário para superá-los. Compartilhar conhecimento é outra das filosofias defendidas por ele. Pra encerrar, outra frase do navegador/empresário: “O sentimento mais importante é orgulho pelo que se faz, isso é muito mais importante que dinheiro; a gente (que se orgulha do que faz) contamina as pessoas com entusiasmo”.

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