
Abraçadas a postes, placas de lona azul informam nomes de ruas e respectivos bairros de Francisco Beltrão. Estão em postes antigos, que souberam se esquivar de veículos embriagados ou pouco habilidosos.
Prudentes, as placas estão a uns três metros de altura, longe do alcance dos vândalos e, ao que parece, do tempo — um vândalo incorrigível que, apesar dos antecedentes, não pode ser detido.
Foi na segunda administração João Arruda, 1993/96, que as lonas azuis surgiram. Vieram com o Mattos, de Curitiba. Antônio Carlos Duarte de Mattos era uma espécie de encarregado de sinalização naqueles tempos.
Mattos tinha uma companheira, a diabetes. Ele não era fiel. Sempre que surgia oportunidade, buscava a companhia do cigarro, da cerveja e do churrasco. Se a oportunidade não se apresentava, ele ia atrás dela.
Silenciosa, a diabetes fez de conta que não sabia de nada, mas, aos poucos, foi apagando a visão do Mattos e pintando ele de uma cor entre o marrom e o verde. Até o dia em que concluiu sua vingança.
Lembrei do Mattos ao encontrar uma das suas velhas lonas azuis. Rua Romeu Lauro Werlang – Bairro Industrial, dizia na lona grudada ao poste escurecido pelo tempo. Depois de dar de cara com a primeira, notei outras.
Na primeira metade da década de 1990 e talvez um pouco depois, Mattos era um personagem que frequentemente visitava o Jornal de Beltrão. Nem sempre nos momentos mais oportunos, é verdade.
A sua presença não era motivada por amor ao jornalismo impresso. No jornal havia arte-finalistas e uma HP LaserJet, apropriada para imprimir em papel vegetal, matéria prima pro trabalho dele.
De posse de impressões com os nomes de ruas e bairros, em letras garrafais, Mattos ia pra oficina de placas e sinalização, na UPMO, onde as letras passavam do vegetal pra tela de serigrafia e depois pra lona azul.
Nas últimas vezes que esteve no JdeB, os óculos grossos não bastavam pra conferir se as palavras impressas nos vegetais estavam corretas. Trazia uma lupa. Funcionava, às vezes ele encontrava algo fora de lugar.
Enquanto tinha fiapo de visão, creio, acompanhou a instalação de lonas e placas e as pinturas de sinalização nas ruas da cidade. Encerrada aquela gestão, não sei se alguém deu continuidade ao trabalho com as lonas.
A ideia era boa: usar estrutura existente e abundante, os postes, pra afixar o nome das ruas. Se as lonas que ainda se veem por aí são da era Mattos, o processo se comprovou exageradamente eficiente, barato e durável.
Talvez por isso não foi levada a diante. O fato é que, indiferentes a tudo, lonas azuis seguem agarradas a postes na área urbana de Francisco Beltrão e mantêm viva a memória do velho Mattos.