Cadeiras ocupadas, quase todas. Gente esperando. Gente chegando. Calor. É sala de espera. Gente com dor, gente de máscara, gente com a dor estampada na cara. Gente cansada de esperar. Calor. Gente encolhida pra ver se a dor passa. Gente com sangue não mão, gente com feridas nas pernas, gente que não usa as pernas. Uma criança de colo grita, mas não parece dor. Em todas as mãos celulares. Exceto nas mãos enrugadas e duras, que só tem a dor pra apertar. Calor. Na tela da sala de espera, nomes, um de cada vez. Mas nunca é o nome de quem tem dor. É sempre outro nome. Nas costas e braços, desenhos e suor. Nunca chega a vez de quem espera com dor. No começo o tempo não passa. Depois passa demais. Os ponteiros correm, a dor não sai do lugar. Se vai uma hora. Mais um nome na tela. Lá fora começa a chover, a chuva belisca os vidros da sala de espera. O calor se distraí com a chuva e cochila. Pelo sistema de som, uma voz convoca algum fulano pela terceira vez. Terceira e última vez, avisa. E sempre chega mais um. A criança do colo continua gritando. A chuva para. O calor acorda cheio de disposição. E quando se vê, já se foram duas horas. A criança de colo cansou de gritar, amoleceu. E sempre chega mais um pra esperar. Outro nome na tela. Nunca é o de quem tem dor. Chega mais um. É outro com dores nas juntas. A colega de escola, a escola de décadas atrás, cuida da mãe. Problema de rim. Na dor, todo mundo é igual. É dor sem fim. Tem pilhas de dengue e lixo pela cidade. Melhoras pro seu pai. Obrigado. Pro corpo com dor, o tempo não passa. Por corpo com dor, pão e circo não bastam. Outro fulano é chamado na tela. Outro fulano é chamado pela terceira vez. Também não apareceu. Desistiu de esperar e morreu. É sala de espera lotada.