16.2 C
Francisco Beltrão
sexta-feira, 20 de junho de 2025

Edição 8.229

20/06/2025

Os tagarelas

Geral

Tagarelas são pessoas que gostam de falar demais. Sempre além da conta. No sentido pejorativo da palavra, elas também são conhecidas como linguarudas, ou seja, falam pelos cotovelos, sendo que do conteúdo de seu linguajar, pouco se aproveita, e na maioria das vezes revela a natureza insidiosa de seu caráter.
É sabido que quanto mais falamos, maior é a probabilidade de dizer besteiras. Outrossim, há momentos nos quais não é prudente que fiquemos calados, assim como, em certas situações também é preferível que façamos uso da verborragia, isto é, falamos mais de propósito com intuito de dissimular certas qualidades que não possuímos, mas que desejamos ostentar com segundas intenções.
Leonardo da Vinci, como exemplo de proveito que se tem quando mantemos a boca fechada, citava a natureza: ?A ostra se abre totalmente na lua cheia. Quando o caranguejo a vê, joga uma pedrinha ou alga marinha, ela não pode mais se fechar e serve de alimento para ele. Tal é o destino de quem abre demais a boca e se coloca, portanto, à mercê de seu ouvinte?.
Estudiosos do comportamento das pessoas, costumam  comparar a língua humana a um animal selvagem que poucos conseguem dominar. Está sempre se esforçando para sair da jaula e, se não for domesticado, vira uma perigosa fera a causar sérios problemas.
Na história da antiga Roma, o escritor Joost Elffers cita Gnaeus Marcius, general e político falido, mais conhecido como Coriolano. Enquanto militar, foi um grande herói, quase uma espécie de figura lendária. Poderia ter acabado sua carreira com glórias e todos os louros para si.
Todavia, cometeu seu único e fatal erro na vida: concorrer às eleições ao alto posto de cônsul. Deitou falação estúpida em relação aos representantes do povo ? os tribunos ?, com idéias de entregar o governo da cidade aos patrícios. Foi sentenciado à morte. Por sorte, os aristocratas comutaram a pena para degredo perpétuo.
No século III a.C., Han-fei-tsé, filósofo chinês, ensinava que as pessoas não devem abrir a boca antes dos seus subordinados, pois quanto mais calados permanecemos, mais rápido os outros começam a dar com a língua nos dentes. Referindo-se à alta corte, dizia que: ?Se o soberano não é misterioso, os ministros terão oportunidade de se aproveitar?.
Na história mundial, o escritor Robert Greene narra o conto no qual a língua nem sempre é o látego da alma; às vezes também é a adaga direto no coração: ?Em 1825, um novo czar, Nicolau I, subiu ao trono da Rússia. Uma rebelião liderada por liberais, exigia que o país se modernizasse.
Esmagando brutamente essa revolta, o imperador condenou à morte um de seus líderes, Kondrati Rileiev. No dia da execução, o condenado subiu ao patíbulo, a corda no pescoço. O alçapão se abriu ? mas, quando Rileiev ficou suspenso no ar, a corda se rompeu e ele foi ao chão.
Na época, esse tipo de ocorrência era sinal da providência ou vontade divina e quem se salvasse da morte dessa forma costumava ser perdoado. Quando Kondrati se levantou, sujo e arranhado, mas acreditando que estava com o pescoço a salvo, gritou para a multidão:
? Estão vendo, na Rússia não sabem fazer nada direito, nem mesmo uma corda.
Um mensageiro seguiu para o Palácio de Inverno, contando por que o enforcamento não havia acontecido. Irritado com essa reviravolta frustrante, o monarca começou a assinar o perdão. Antes, porém, o czar virou-se para o arauto e perguntou:
? Rileiev disse alguma coisa depois desse milagre?
Quando o núncio repetiu as últimas palavras do apenado, logo após o incidente, o soberano disse:
? Nesse caso, vamos provar o contrário, e rasgou o pergaminho do perdão. No dia seguinte, o condenado foi para a forca de novo. Desta vez a corda não se partiu?.
Moral da história: as palavras, sejam elas escritas ou faladas, são facas de dois gumes; tanto cortam àqueles que são proferidas, quanto àqueles que as proferem.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques