Elas ainda podem ter acompanhamentos, afinal mesa farta enche os olhos e a barriga, mas fica ainda melhor quando tudo combina.

Ela não nasceu no Brasil, mas foi adotada como nossa. De origem alemã, a cuca chegou, primeiramente, ao Rio Grande do Sul pelas mãos dos imigrantes, ainda na primeira metade do século 19. Saborosa, logo ganhou popularidade e se tornou um dos clássicos da culinária, presente em toda a mesa de café da manhã ou da tarde.
O nome deriva, assim como a própria receita, da cultura germânica: vem do alemão kuchen, que significa “bolo”, e passou a ser grafado como se pronuncia: cuca. Como não se trata de um bolo convencional, o nome original completo é streuselkuchen — bolo granulado ou com flocos. É uma massa fermentada de base simples, coberta por uma farofa crocante, à base de manteiga, farinha e açúcar.
As primeiras cucas que se popularizaram no sul do país eram simples, sem recheio, onde eram utilizadas geleias como um complemento no sabor. Logo surgiram outras com recheios, possibilitando diversos atrativos e sabores diferenciados. As cucas com frutas são as mais populares. A uva lidera a lista, mas a banana, o abacaxi e o coco também marcam presença com frequência. Outras opções, como o morango, a laranja e a amora, também harmonizam – comprovando a versatilidade da cuca.
Elas ainda podem ter acompanhamentos, afinal, mesa farta enche os olhos e a barriga, mas fica ainda melhor quando tudo combina. No caso das cucas, o requeijão ou a nata deixa cada pedaço ainda mais cremoso e saboroso. O doce de leite, que muitas vezes já vem na receita, é outro parceiro que combina muito bem.
Tem a turma que gosta e outra que torce o nariz, como eu, mas é fato: o consumo da cuca com churrasco e até com salame. A versão gourmetizada também chegou. A minha amiga Jacke Bolos e Doces faz a sua versão com figo e ricota ou doce de leite e nozes, simplesmente divinas. Já o chef Claudio Grazik, da Bom Bocado, usa a massa de fermentação natural e, na cobertura, amora e chocolate branco; abacaxi e coco; chocolate e banana — uma festa de sabores.
Cuca, obviamente, combina muito com café. Mas, se quiser uma dica, cervejas de trigo e vinho rosé enriquecem a experiência de degustar um saboroso pedaço de cuca.
A cuca é um quitute tão representativo no seu país de origem que é comum encontrá-lo nas festas típicas alemãs aqui no Brasil, como a Pomerana, de Pomerode, e um festival somente para a cuca, o Blumen Kuchen, festival blumenauense de cucas.
Passada de geração para geração, é comum associá-la à casa da avó e boas lembranças. A minha melhor recordação é a cuca que a minha avó materna, Sabina, fazia. Com grãozinhos de uva misturados na massa fofinha e docinha, que garantia acidez e um sabor único, lembrança essa que tem sabor e amor, que o tempo não apaga da minha memória.