Enquanto um lava, o outro se escora na bancada, desenrola uma conversa amistosa e a louça é enxugada. Às vezes a gente reclama do que, na verdade, é bênção disfarçada de rotina.
Essa frase é da designer e artista Ida Feldman, e viralizou depois que um amigo fotografou a louça e, cá entre nós, mostra a sabedoria que a pia com louças sujas na cozinha carrega.
Crescemos sonhando com dias perfeitos, rotinas onde tudo dá certo, casas com cada coisa no seu lugar. Mas a vida, aquela vida de verdade, insiste em nos lembrar que não existe perfeição. Porque enquanto estivermos vivos, vai ter louça na pia.
E vai ter louça porque houve café compartilhado, almoço apressado, jantares muito planejados, visitas inesperadas, bolos que deram errado, e conversas que só acontecem quando a gente diz: “Fica mais um pouco, está tão boa nossa conversa!”.
A pia cheia é um retrato da nossa existência, da nossa vida. Um sinal que houve gente, presença, movimento e histórias bonitas acontecendo em torno da mesa.
Louça na pia é a marca discreta do cotidiano. É a consequência de ter um lar vivo e não um cenário de revista impecável. Uma cozinha com alma, um lugar onde a generosidade impera e é compartilhada.
Quem busca uma casa sem louça suja talvez precise se perguntar se não está, na verdade, buscando uma vida sem marcas. Sem histórias. Sem rastros. Sem sinais de humanidade.
A vida real — ah, essa é feita de sobras de café no bule, farelos de pão na toalha da mesa, da frigideira suja no fogão, dos copos esquecidos na mesinha ao lado do sofá, e, claro, das pilhas de pratos esperando por mãos pacientes e das panelas que parecem multiplicar.
Talvez o segredo não seja esbravejar sobre a pia lotada de louça suja, aguardando para ser lavada, mas aprender a vê-la como um local onde a vida pulsa, dos encontros que alimentam — o corpo e a alma —, das rotinas que constroem, das conversas deliciosas que acontecem entre lavar e enxugar a louça.
Quer ritual mais bacana do que ter companhia na cozinha? Enquanto um lava, o outro se escora na bancada, desenrola uma conversa amistosa e a louça é enxugada.
Às vezes a gente reclama do que, na verdade, é bênção disfarçada de rotina. Acredito, sim, enquanto estivermos vivos e entregues à vida, vai ter louça na pia.
