
Falta de propósito, exaustão, outras opções ou pelos três motivos juntos. O fenômeno da “grande renúncia” chegou ao Brasil de um jeito surpreendente. O termo “great resignation” criado pelo psicólogo americano Anthony Klotz para descrever a onda de demissões voluntárias nos Estados Unidos, até então parecia uma opção factível apenas para pessoas em cargos privilegiados ou com boa retaguarda financeira. Não é o que mostram os dados.
Apesar de estarmos vivendo um período de inflação, com mais de 10 milhões de pessoas desempregadas no país, somente no mês de março de 2022 mais de 600 mil brasileiros pediram demissão. Dados levantados a pedido da revista Você S/A apontam que os cargos mais renunciados foram, nesta ordem, os de operadores de telemarketing, auxiliares de logística e atendentes de restaurantes fast food. Três áreas que, pelos indicadores, estão em alta — visto o crescimento dos canais de comunicação, do e-commerce e dos pedidos de alimentação delivery. O perfil desses profissionais é majoritariamente do sexo masculino e de até 30 anos.
Quando falamos no trabalho, há um universo em que as mudanças são de fato consideráveis. A revista Fortune publicou uma reportagem sobre a insatisfação dos funcionários da Apple em relação às políticas de retorno ao trabalho presencial. Realizada de forma anônima pela rede social Blind, a pesquisa aponta que 76% dos colaboradores desaprovam a obrigatoriedade de estarem presencialmente uma vez por semana. E mais: 56% afirmaram que pretendem deixar a empresa caso a política permaneça inflexível.
Ao mesmo tempo, houve um movimento oposto. O Airbnb anunciou que funcionários podem trabalhar 100% remotamente para sempre, o que causou enorme repercussão na imprensa e nas redes sociais. Em uma carta, o CEO e cofundador Brian Chesky aproveitou para dizer que a companhia quer “contratar e reter as melhores pessoas do mundo” — e que essas pessoas não estão necessariamente no raio de deslocamento dos escritórios da empresa. Corajosa, a postura está alinhada também ao fenômeno da descentralização.
Flexibilidade é o nome do jogo. Aprovada em agosto no Brasil, uma Medida Provisória regulamenta o trabalho híbrido — parte remoto, parte presencial. Conectando a opinião dos executivos e outros movimentos no mundo do trabalho, podemos afirmar que os escritórios em prédios comerciais como conhecemos, com estações de trabalho, salas de reunião e aglomeração de pessoas está sendo repensado. Na transformação para o modelo híbrido, a pergunta não é “quando” ir ao escritório, e sim “por qual motivo”.
Fará mais sentido a criação de espaços específicos como: auditório para eventos, salas amplas e iluminadas para trabalhos em time e espaços reservados para a execução de tarefas que pedem silêncio. Sem a presença de todo mundo o tempo todo.
Olha aí a descentralização de novo. Quebrar paradigmas é um caminho sem volta. Uma vez que enxergamos algo, é impossível “desver”. Nunca mais trabalharemos da mesma forma, e sou otimista: só temos a aprender com isso!