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Francisco Beltrão
quarta-feira, 25 de junho de 2025

Edição 8.232

25/06/2025

Zeca no país das maravilhas!

O deputado federal Zeca Dirceu publicou um artigo intitulado “Quem torcer contra o Brasil vai perder a aposta!” (JdeB de sábado, pág. 13), o qual faz uma série de relatos desenvolvimentistas, atribuindo ao governo todo um sucesso, que, para os mais desavisados, seriam maravilhosos. No artigo, o mesmo conta algumas historinhas, falando em reconstrução e crescimento que, confesso, chegam a comover.

O deputado afirma que “de acordo com a OCDE, o Brasil foi o 2º principal destino para os investimentos estrangeiros diretos em todo o mundo em 2023, perdendo só para os Estados Unidos”. Perfeito, porém, ele esqueceu convenientemente de informar (creio que deva ter tido alguma crise de amnésia) onde o próprio Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços destacou que a queda dos Investimentos Estrangeiros Diretos no Brasil foi de 13% em relação a 2022.

Em outro ponto do mesmo artigo, o ilustre afirma: “Outro dado relevante é o aumento do número de pedidos de autorização de residência de estrangeiros para trabalho e investimento no País. No primeiro semestre de 2024, foram 20.085 solicitações, 23% a mais que o mesmo período do ano anterior. Esse movimento aponta o Brasil como porto seguro para a realização de oportunidades profissionais e de negócios”. Nem vou considerar a enxurrada de venezuelanos que adentraram ao Brasil nos últimos anos, mas deixo aqui um ponto relevante, pois a análise precisa ser um pouco mais ampla. Dados do próprio Governo confirmam que mais de 2,6 milhões de brasileiros foram embora do país de 2012 pra cá… saltou de 1,89 milhão para 4,6 milhões de brasileiros que foram embora do nosso país em pouco mais de 10 anos. É para refletir!

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Quanto ao turismo, mais especificamente por parte dos estrangeiros, afirma que bateram todos os recordes quando comparadas ao governo anterior. De fato – passamos por uma pandemia onde o turismo mundial retraiu –, não precisa nem entender de economia pra saber disso. Mas vamos às narrativas: “O gasto de turistas estrangeiros durante o primeiro trimestre deste ano registrou o maior valor da série histórica, iniciada em 1995. Ao todo, foram deixados no país cerca de R$ 10,45 bilhões no período. O valor também é 21,3% maior que o registrado nos primeiros três meses de 2023, quando os visitantes deixaram R$ 8,63 bilhões nos destinos brasileiros”. Ao olharmos os números, percebe-se que a entrada de estrangeiros no Brasil foi de apenas 1,9% maior que 2019, dos quais praticamente 25% destes são argentinos – historicamente turistas que gastam pouco quando comparados a americanos, alemães e ingleses, por exemplo.

Outro dado importante destacado pelo petista: “As fábricas brasileiras estão voltando a produzir a pleno vapor. A produção da indústria brasileira cresceu 1,7% no primeiro trimestre, na comparação com igual período de 2023, acima da média mundial (1,4%). Assim, o Brasil voltou ao “top 50″ global, no 45º lugar entre 116 países analisados”. Dados do próprio IBGE indicam um crescimento da indústria nacional de apenas 0,2% em 2023. Sinceramente não sei se estamos falando do mesmo país, mas, enfim, tem quem acredite. Pode ter setores que cresceram mais – sim, é fato –, mas teve setores que retraíram, e na média fechou nos 0,2%. Portanto, outra fantasia do magnânimo deputado.

Ele justifica que o crescimento do país só não é maior em virtude das altas taxas de juros do BC. Aqui merece uma ressalva: absolutamente ninguém gosta de pagar juros, é fato. Porém, o objetivo das taxas de juros é controlar a inflação, esse monstro que gera miséria em qualquer país. Remédios amargos, mas que previnem doenças piores – inflação, fome, miséria e desemprego, ao ponto que o Brasil retomou o crescimento antes mesmo que americanos, alemães e ingleses.

Por fim, o nobre deputado afirma que “ao final de 2024 chegaremos a 8ª economia do mundo com um crescimento do PIB de 2,5%.” Claro que torço muito para que isso aconteça, afinal é aqui que vivemos. Mas não existe crescimento sem investimentos. Com a taxação de produtos importados para a produção de energia fotovoltaica, por exemplo, dificultam o crescimento já que a energia (ainda mais se for barata) é um dos principais insumos da indústria. Nesse sentido o mercado e o FMI sinalizam para um crescimento de 1,9% para este ano. Entretanto, é preciso fechar o ano para ver.

Inácio Pereira – Economista – Adviser Consultoria
www.adviserconsultoria.com.br

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