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Francisco Beltrão
segunda-feira, 23 de junho de 2025

Edição 8.230

21/06/2025

A série ‘Adolescência’ e o bullying que já conhecemos

É estúpido pensar que o ser humano possa evoluir como adulto saudável sendo criado em um ambiente de humilhação e violência.


Foto: Divulgação/Netflix

Não tão recentemente assim, estreou na Netflix uma minissérie intitulada “Adolescência”, que narra os eventos em torno de Jamie Miller, um garoto de 13 anos acusado de assassinar uma colega de escola, e o sofrimento da sua família, que teve a vida devastada por causa deste crime.

Embora o foco da série seja abordar primariamente a subcultura digital em que Jamie está inserido – adolescentes heterossexuais que, por serem rejeitados, tratam mulheres com discurso de ódio e aversão –, a série também nos mostra algo que já conhecemos desde nossos pais: o ambiente hostil e selvagem do mundo adolescente.

Em um determinado episódio que se passa na escola de Jamie, vemos a sufocante realidade que centenas de adolescentes lidam diariamente. Um mar de hostilidade. Uns se fecham, outros tentam se afirmar através da dominância, humilhando colegas. Arrogância, petulância e desdém são escancarados em cada cena. Nem mesmo os investigadores se livram das piadas feitas pelos alunos.

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Não é meu objetivo aqui tratar da obra cinematográfica em si. Essa parte sempre fica com os dedicados colegas Marcos Staskoviak e Murilo Fabris, na coluna Pipoca e Guaraná. Minha intenção, no entanto, é discutir uma solução para algo que já aconteceu comigo, e talvez até tenha acontecido com você também.

Hoje conhecido como bullying, até algumas décadas atrás era visto como “brincadeira saudável entre crianças”. Há quem diga, mesmo com todo o conhecimento que temos, que esse tipo de atitude violenta não passa de um rito necessário. Mas é estúpido pensar que o ser humano possa evoluir como adulto saudável sendo criado em um ambiente de humilhação e violência.

Para demonstrar o quão grave é essa hostilidade juvenil, um estudo do Serviço Secreto dos Estados Unidos apontou que, dos ataques a escolas registrados no mundo entre 1966 e 2011, 87% dos atiradores sofreram bullying e foram movidos por desejo de vingança.

No Brasil, um adolescente de 13 anos, chamado Carlos, morreu após ser agredido por dois colegas nas dependências do colégio onde estudava, em Praia Grande. Pedro, um aluno de 14 anos, cometeu suicídio após sofrer bullying, em São Paulo. São histórias reais, de sofrimentos reais, que aconteceram entre 2024 e 2025.

Para piorar o cenário, esse ambiente de hostilidade tem crescido na internet, onde crianças passaram a utilizar diversas plataformas para criar comunidades secretas que praticam abusos físicos, psicológicos e sexuais. Tudo isso ao alcance dos nossos filhos, trancados em seus quartos, com celulares ou computadores.

Essa discussão não é nova. A adolescência sempre foi tratada como um período de descobrimento, instabilidade, dúvidas e rebeldia. Mas a tecnologia, usada para o propósito errado, tem criado um ambiente ainda mais nocivo.

É preciso mais ações contundentes contra o bullying, mais acompanhamento dos pais com seus filhos, mais segurança nos colégios e mais rigor contra crimes violentos cometidos, mesmo por adolescentes.

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