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Francisco Beltrão
quarta-feira, 11 de junho de 2025

Edição 8.223

11/06/2025

As máscaras salvadoras dos heróis sem capa ou espada

A máscara, que em outros tempos era identificada com algo negativo (“o sujeito é mascarado”…), hoje é uma declaração de amor próprio, de respeito ao semelhante e um símbolo que veio para ficar ainda por um bom tempo.

Com o início da retirada, em várias cidades, das restrições impostas nos últimos 600 dias contra a proliferação do vírus da Covid-19, chegou a hora de prestar uma justa homenagem a um simples acessório que ajudou a salvar milhões de vidas – nem conseguimos mensurar isso direito. Além de monumentos aos profissionais de saúde – heroicamente na linha de frente do combate à doença, muitas vezes arriscando a própria vida pela falta de recursos nos hospitais –, as máscaras filtraram a entrada do ar em nossos pulmões, livrando-nos da contaminação e, em última instância, da morte. A máscara, que em outros tempos era identificada com algo negativo (“o sujeito é mascarado”…), hoje é uma declaração de amor próprio, de respeito ao semelhante e um símbolo que veio para ficar ainda por um bom tempo.

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E que por isso mesmo merece ser valorizada cada vez mais numa sociedade assustada e à espera de dias melhores. Ainda estamos longe de atingir perto de 100% de brasileiros vacinados; a quarta onda está chegando em alguns países da Europa e outras pandemias estão previstas, em decorrência da destruição ambiental. Nesses quase dois anos aprendemos a ver até com uma certa naturalidade as máscaras que conhecíamos de imagens sobre a busca de proteção contra a intensa poluição em cidades chinesas, por exemplo. Ficamos sabendo que a máscara não é vilã, é salvadora; não é feia, é bonita em seus variados modelos e cores (será que vem aí o samba “com que máscara eu vou?”), e foi a fonte de renda de muitos brasileiros surpreendidos pela crise sanitária e econômica.

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Não por acaso, desde o início da crise sanitária inúmeras estátuas pelo mundo têm recebido o acessório colocado por manifestantes como alerta à pandemia, assim como a recente capa da conceituada revista The Economist trazendo o Cristo Redentor com uma máscara de oxigênio (https://www.bbc.com/portuguese/brasil-57343059). Nas redes sociais lemos que quem não usa máscara na história em quadrinhos é o Tonto, e não o Zorro, o herói do rosto coberto.

Do ponto de vista da convivência social, o impacto da máscara não é menos relevante. Se, por um lado, ela incomoda uma parte negacionista da população, de outro tem propiciado desenvoltura a outros segmentos que preferem o anonimato e a equidistância e provavelmente terão esse escudo de segurança como um parceiro por muito tempo ainda, mesmo quando eventualmente não for mais exigido. Seja como for, o pedaço de pano ou outro material que representa uma cara ou parte dela, e se destina a cobrir o rosto da pessoa que o usa, cumpriu – e cumpre – sua função maior de contribuir para que os brasileiros chegassem ao ponto atual dessa jornada desafiadora com chances redobradas de vida.

Parte das autoridades do País, que até agora tinham ficado ao lado dos defensores das medidas de restrição para salvar vidas, neste momento iniciam uma trajetória de aposentadoria da exigência da máscara. A decisão é contestada pelos cientistas, que consideram cedo para esta liberalização, uma vez que somente em torno de metade da população está imunizada com duas doses da vacina e parcela ínfima recebeu a terceira dose, que já se impõe como uma necessidade. Diante dessas incertezas ainda rondando a tragédia da Covid-19, causa de mais de cinco milhões de mortos no planeta – dos quais mais de 600 mil somente no Brasil –, tudo indica que levará tempo para a máscara ser efetivamente aposentada.

Enquanto isso, o que podemos dizer é que num Brasil onde muitas máscaras caíram desde o início da pandemia, no sentido simbólico, cada cidadão com um pedaço de pano protegendo o ar que respira é um herói sem capa e espada, mas com uma vontade tremenda de continuar respirando. Porque além de vírus letais para a saúde, temos de enfrentar outros desafios que, a exemplo da palavra vírus, do Latim, significam venenoso ou toxina. Por que além de riscos letais para a saúde, temos de enfrentar muitos outros desafios nesse árduo processo de reconstrução de tudo aquilo que o vírus e seus aliados levaram de nós e do país.

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