Entre Sergipe e Alagoas, onde Lampião, sua companheira Maria Bonita e mais oito integrantes de seu bando foram mortos, em 1938, ventiladores movidos pela luz do sol aliviam o calor de 40º graus. Logo ali, ao lado de tanta exuberância de águas.
Desde rodas d’água antigas que geravam energia para descascadores de arroz ou moinhos transformadores de milho em farinha – como na minha infância nos anos 1960 e 1970 no interior do Paraná –, até as pás (ou hélices) captadoras do vento para transformá-lo em eletricidade, passando pelas placas solares fotovoltaicas… O mundo evoluiu nas últimas cinco a seis décadas. Apenas alguns anos atrás, ao conhecer o rio São Francisco, me deparei com instalações de energia solar no Eco Parque, na divisa entre Sergipe e Alagoas. Lá, onde Lampião, sua companheira Maria Bonita e mais oito integrantes de seu bando foram mortos, em 1938, ventiladores movidos pela luz do sol aliviam o calor de 40º graus. Logo ali, ao lado de tanta exuberância de águas.
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Aquele ponto do Brasil profundo enfatiza o nosso potencial gigante e capaz de nos colocar como grande produtor, distribuidor e consumidor de combustíveis alternativos ou renováveis. O tamanho do nosso agronegócio fortalece essa inclinação pelo elevado volume de resíduos no campo. Outro ponto forte são as condições favoráveis à chamada economia circular, na qual resíduos são insumos para a produção de novos produtos e, assim, estimulando uma economia mais sustentável. Entretanto, é preciso priorizar a energia alternativa ou renovável em complementação às fontes fósseis (poluidoras) e, inclusive, a hidrelétrica.
A começar pela transição entre a situação atual, de predominância dos derivados de petróleo (gasolina e óleo diesel), emissores de CO2 na atmosfera e facilitadores do aquecimento global, para as fontes renováveis (eólica, solar, do biogás e do próprio etanol e biodiesel, o HVO ou “diesel verde”, entre outros). Os combustíveis menos poluidores – como o gás natural, ainda de origem fóssil, porém menos prejudicial ao meio ambiente e à saúde humana – se mostram como a ponte entre o presente e o futuro não tão distante. Embora o amanhã idealizado seja “elétrico”, com a energia carbono zero total, esta realidade está distante e uma mudança eclética se impõe.
Ou seja, com a convivência das fontes atuais, inclusive fósseis, com as “verdes”. Não dá para imaginar que de uma hora para outra a vilã, porém poderosa indústria do petróleo, deixará de existir. Iniciativas indicam esta saída. A indústria automotiva desenvolveu e já comercializa, inclusive no Brasil, veículos de transporte de carga e de passageiros movidos a gás. Os motores de caminhões movidos a gás natural têm a mesma tecnologia dos motores a biogás – extraído da biomassa do bagaço da cana-de-açúcar, só para citar um tipo de fonte, e do esgoto sanitário em volumes estratosféricos nos nossos centros urbanos. Segundo a Abiogás, entidade dos produtores desse combustível, 70% do diesel queimado nos transportes no país poderiam ser automaticamente substituídos pelo biogás. O biodiesel (álcool) avançou muito a partir da legislação, obrigando a mistura com a gasolina e o diesel.
A abundância de rios resultou em uma matriz energética equilibrada, com as usinas hidrelétricas, embora essa força seja relativizada, neste momento, pelo baixo nível dos reservatórios. A crise hidrológica obriga o governo a acionar as termelétricas – usinas movidas a diesel e carvão –, resultando em aumento na conta de luz para os consumidores. A energia solar e eólica (ventos) caminha, mas ainda devagar diante das necessidades. Oxalá não desperdicemos essa vocação natural do Brasil e possamos pegar este bonde a tempo de transformá-la em uma energia positiva.