O fraudador enviou uma tela já montada com o nome de uma mulher. Indaguei: “quem é Jessica?”.
Dia desses, enquanto fazia uma entrevista com um especialista em cibersegurança, fui vítima de tentativa de um crime digital. O golpista, travestido em contato com foto e celular com DDD de uma sobrinha, me chamava de tia e pedia um depósito de R$ 3.500. O dinheiro emprestado seria devolvido no dia seguinte pela manhã.
No primeiro momento, bate uma estranheza, mas diante da foto ser a mesma atualmente usada no contato do Whatsapp, da abordagem demonstrando intimidade, fui conversando. No entanto, nenhum crime é perfeito. Nem na internet. O golpista não respondeu nada quando mencionei se outras duas pessoas da família não poderiam ajudar.
E perguntei qual o banco para o depósito. Diante da minha informação de que não uso pix, o fraudador enviou uma tela já montada com o nome de uma mulher, números de agência e conta diferentes do padrão do banco em questão e, no final, um pix. Também não obtive resposta quando indaguei “quem é Jessica?”. Ao bater o olho nessas informações, me dei conta do golpe e, claro, não tiraram nenhum centavo de mim nem de outros parentes a pretexto de pagar um computador novo. Agimos rápido para avisar todos e saímos ilesos, mas, sabemos, ficou a lição de que não podemos medir esforços nas medidas de proteção dos nossos aparelhos.
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Ainda preservamos uma certa inocência diante do mundo digital, esquecendo que os riscos existentes para os bens materiais também acontecem em relação aos bens invisíveis, que são nossos dados pessoais e das empresas. É que o uso da internet cresceu rapidamente a partir dos anos 1990, as inovações tecnológicas se multiplicaram, com tendência de aceleração deste movimento, e tivemos pouco tempo para migrar do universo offline para o online. Especialmente para as gerações nascidas antes da digitalização.
O fato é que ao lado das facilidades trazidas pelos aplicativos e outras ferramentas eletrônicas uma forte dependência foi criada e, o pior, uma grande insegurança. E não só de sofrer ataques de hackers, que aperfeiçoam seus métodos e tornam pessoas e empresas reféns do sequestro de banco de dados inteiros, exigindo pagamentos altíssimos para devolver “a chave do cofre”. As fraudes aumentam, representando riscos para os usuários, como recentemente passou a acontecer com o pix, modalidade de pagamentos bancários feitos em um clique no celular e em tempo recorde. A falta de segurança atinge os próprios sistemas digitais, como aconteceu no início da semana com os aplicativos WhatsApp, Facebook e Instagram, todos pertencentes a uma das gigantes globais da economia digital criada por Mark Zuckerberg.
Diante da falta de apresentação de uma causa clara para o conglomerado ter ficado fora do ar durante seis horas no dia 4 de outubro, a pane universal gerou especulação e queda do preço das ações das empresas nas bolsas de valores. E deixou o questionamento sobre até que ponto toda a estrutura digital existente no planeta não estaria sujeita à sabotagem. Uma pane com duração de tantas horas não havia acontecido antes. A maior pane de redes sociais da história afetou mais de 2,7 bilhões de pessoas e 6 milhões de empresas que anunciam na plataforma ou dependem de posts patrocinados.
Segundo cálculos do Netblocks, site que monitora o impacto de paralisações da internet, o prejuízo à economia global foi da ordem de US$ 160 milhões (R$ 876 milhões). Esses números, por si só, revelam as consequências do colapso das plataformas digitais. O apagão gera efeito cascata na vida das pessoas, que relataram elevado grau de ansiedade por ficar sem acessar suas redes sociais; empresas amargaram prejuízos nas vendas e assim por diante.