Infância pobre, tornada ainda mais difícil pela falta de carinho dos pais, amenizada quando amizade com um velho português, à vida abastada na casa dos padrinhos, em que precisa ditar os rumos de sua juventude.
Entre 1963 e 1974, o carioca José Mauro de Vasconcelos escreveu a saga de Zezé. Publicado em 1968, “O meu pé de laranja-lima” é o título de mais notoriedade de uma trilogia, completada com “Doidão” (1963) e “Vamos aquecer o sol” (1974).
Doravante, “O meu pé” não se trata unicamente do maior sucesso entre os três volumes. É também a grande referência de toda a carreira de José Mauro. Mais ainda: um dos maiores clássicos da literatura nacional, traduzido para mais de 50 idiomas e, conforme ilustra a contracapa da versão da editora Melhoramentos, com mais de 2 milhões de exemplares vendidos.
A grande aceitação entre os leitores é justificada por uma narrativa comovente e compreensível a vários públicos. Tanto assim que é querida e indicada por adolescentes, jovens, adultos e idosos.
Drama, muito drama
Zezé mora em Bangu com os pais e os irmãos. Pequenino e pobre, tem poucos recursos para se divertir, o que o torna dono de uma imaginação fértil. A questão é que seus divertimentos muitas vezes resultam em alguma travessura que irrita quem está ao seu redor. Desempregado, o pai desconta a frustração em verdadeiros espancamentos sobre o garoto.
Diante das dificuldades financeiras, a família muda-se para outra casa. Ao chegarem ao local, cada irmão escolhe para si uma árvore do quintal. Para Zezé, resta um pequeno e não muito vistoso pé de laranja-lima. Da frustração, Zezé encontra na planta um amigo imaginário – tão comum às crianças. O pézinho torna-se o único a compreender Zezé.
Até que o garoto, num improvável resultado de suas “artes”, se aproxima do português Manuel Valadares. Velho rico, o lusitano era temido por toda a meninada da região, dono de um veículo portanto, por sua vez sonho de consumo dos pequenos.
Certo dia, Zezé resolve pegar “carona” no estepe do veículo. Porém, a manobra é descoberta por Manuel, que lhe aplica um corretivo humilhante. Traumatizado, o garoto foge a todo custo do carro, antes tão estimado.
Com o pé machucado após furá-lo num caco de vidro, em mais uma brincadeira que não terminou bem, Zezé fica um bom tempo sem ir para a escola. Quando retorna, é abordado no caminho justamente pelo português, que de início cuida do ferimento. Nasce então uma amizade entre o idoso rico, mas solitário, e a criança pobre de uma família enorme, mas que o despreza.
As continuações
Assim como no caso de “O Bem-Amado”, retratado pela “Meninos, eu li”, embora “O Meu pé de laranja-lima” seja aclamado, poucos sabem da continuação. “Doidão”, que na realidade encerra a trajetória literária do personagem, foi o primeiro a ser publicado, em 1963. Narra as aventuras de Zezé em plena juventude, dividindo-se entre os namoros e a cobrança pela dedicação aos estudos. Tudo isso, retratado em Natal, na casa dos padrinhos, que o adotam. Em “Vamos aquecer o sol”, é retratada a fase adolescente do personagem, já morando na capital potiguar.
É inegável que as histórias de adolescência e juventude de Zezé não tem a mesma “força” de “O meu pé de laranja-lima”, mas para quem foi ou ainda será arrebatado pela trajetória do garoto, vale a pena descobrir sobre seu futuro.
O autor
A trilogia é autobiográfica. José Mauro morreu em 1984, aos 64 anos. Apesar de ter sido um escritor de sucesso em vendas, passou a carreira sendo contestado pela crítica nacional, que o subestimava.
Referência
Título:O meu pé de laranja-lima;
Gênero: Romance;
Autor: José Mauro de Vasconcelos;
Número de páginas: 232;
Editora: Melhoramentos;
Ano de lançamento: 1968.
Referência
Título: Doidão;
Gênero: Romance;
Autor: José Mauro de Vasconcelos;
Número de páginas: 120;
Editora: Melhoramentos;
Ano de lançamento: 1963.
Referência
Título: Vamos aquecer o sol;
Gênero: Romance;
Autor: José Mauro de Vasconcelos;
Número de páginas: 342;
Editora: Melhoramentos;
Ano de lançamento: 1974.