Em 2008, com 60 salários mínimos era possível adquirir um lote de 300 m² no Jardim Seminário (R$ 25 mil). Em 2025, no mesmo bairro, 93 salários mínimos (R$ 140 mil).
No passado, as famílias eram numerosas, geralmente residiam no campo e possuíam pequenas propriedades. Ou seja, o patrimônio a ser dividido entre todos os irmãos, com algumas exceções, era pequeno.
A maioria das pessoas que desejava um futuro melhor precisava se lançar pelo país, migrando para outros estados para conquistar suas próprias terras, construir sua estabilidade econômica, adquirir bens e buscar uma profissão, seja por meio dos estudos ou do trabalho.
É verdade que nunca foi fácil, mas atualmente parece ainda mais difícil para uma pessoa conseguir construir um patrimônio mínimo. Até alguns anos atrás, com um pouco de organização financeira, o trabalhador conseguia comprar um terreno e construir sua casa com mais agilidade.
Sem aprofundar a pesquisa, encontrei nos classificados de 2008 do Jornal de Beltrão terrenos de 300 m² no bairro Jardim Seminário, em Francisco Beltrão, por R$ 25 mil. O salário mínimo da época era de R$ 415. Ou seja, com 60 salários mínimos era possível adquirir um lote.
Em 2025, um terreno de 300 m² no mesmo bairro, na opção mais acessível encontrada em uma olhada rápida, custa R$ 140 mil, o equivalente a 93 salários mínimos. Há regiões da cidade onde a valorização foi muito maior, como no Nossa Senhora Aparecida, quase 100% em apenas 10 anos, conforme informação do corretor José Carlos Vieira. Isso demonstra claramente como o trabalhador perdeu poder de compra ao longo dos anos.
Existe uma sensação de que as coisas não estão tão ruins, pois há muitas oportunidades de emprego em municípios como Francisco Beltrão. Com disposição, é possível encontrar trabalho com relativa facilidade. Além disso, o preço dos alimentos está mais acessível, em parte devido às isenções tributárias aplicadas nos últimos anos.
Mas é só isso: trabalhar para sobreviver, com perspectivas mínimas de melhora na qualidade de vida. Para uma pessoa assalariada que não herdou nada, adquirir um imóvel ou construir um patrimônio com ativos realmente valiosos — aqueles que geram receita — tornou-se praticamente impossível.
Em uma conversa recente com alguns contadores, esse cenário foi confirmado pelas declarações de Imposto de Renda: as pessoas estão estagnadas, não conseguem aumentar seu patrimônio e, pior, muitas contraíram dívidas.
Com tudo isso, o que quero dizer é que pessoas que ganham entre R$ 3.000 e R$ 3.500 por mês estão apenas sobrevivendo. Compras no mercado, uma pizza no fim de semana, combustível — se tiverem carro —, aluguel, despesas básicas… e acabou.
Se optarem por financiar um imóvel, o máximo que podem comprometer é cerca de R$ 1.000 por mês e, com uma taxa de juros de aproximadamente 9% ao ano, conseguem um valor máximo de financiamento em torno de R$ 126 mil. Ou seja, em 30 anos, não conseguem sequer pagar um terreno.