Preferem mais tempo livre para viajar e aproveitar a vida, sem abrir mão de valorização financeira. No entanto, esta proposta não se sustenta — a menos que você tenha alguém que te sustente.
O Jornal de Beltrão publicou recentemente uma matéria sobre o crescimento do número de pessoas com formação superior nos municípios da região. Em Francisco Beltrão, o total de graduados subiu de 1.948, no ano 2000, para 15.933 em 2022. Já em Pato Branco, o número passou de 2.796 para 16.701 no mesmo período.
Esse avanço na qualificação acadêmica, no entanto, traz consigo um desafio: a demanda por melhores salários e condições de trabalho. É natural que quem investe anos nos estudos busque crescimento financeiro e profissional, o que também contribui para a alta rotatividade nas empresas, pois se não há um plano de carreira, logo a pessoa fica desmotivada.
Em conversa com a gestora de RH de uma empresa local, ela destacou a dificuldade crescente em manter os jovens no emprego. Segundo ela, essa geração demonstra mais ansiedade, quer promoções rapidamente, tem dificuldades com hierarquia, e, ao menor sinal de insatisfação, pede demissão. “Em uma seleção para estágio, ao informarmos que a jornada era de oito horas diárias, o candidato questionou que tempo sobraria para ele ter qualidade de vida”, confidenciou-me.
E esse é justamente o ponto: os jovens buscam mais conforto e equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, mas sem necessariamente aumentar o esforço. Preferem menos horas de trabalho, mais respeito, mais tempo livre para viajar e aproveitar a vida, sem abrir mão de valorização financeira. No entanto, esta proposta não se sustenta — a menos que você tenha alguém que te sustente.
As empresas precisam de produtividade para oferecer melhores salários, mas o Brasil enfrenta um problema sério neste quesito. A produtividade do trabalhador brasileiro equivale a apenas um quarto do americano, conforme apontado em matéria da Folha de S. Paulo de 2024. Se não há geração de riqueza, não há como distribuí-la.
Além disso, concluir uma graduação não significa estar pronto para o mercado. Alguns profissionais só vão perceber isso ao enfrentar dificuldades no início de carreira, aumentando sua frustração. Outro fator preocupante é a escolha do curso superior. Algumas graduações já não oferecem boas perspectivas, pois o mercado está saturado.
Diante desse cenário, muitos vão em busca de uma segunda formação, novamente, sem garantia de melhores oportunidades. Outros, ao perceberem as limitações das ofertas de emprego, irão migrar para atividades autônomas, como motoristas de aplicativos ou entregadores para plataformas como Uber, iFood, Shopee e Mercado Livre. Nessa modalidade, há a vantagem de administrar o próprio tempo e obter ganhos proporcionais ao esforço pessoal.
E quem atua neste segmento diz que a renda é melhor do que trabalhar no comércio e indústria. No fim das contas, para quem não tem outra fonte de renda, trabalhar é a única alternativa.