Cada cidadão tem valores e concepções de que não abre mão, e quando vê algo circulando pela internet que compactue e reafirme aquilo que ele pensa, taca o dedo no compartilhar, mesmo sem saber a veracidade daquilo.
Outro dia, o motorista de aplicativo que me levava para casa comentou algo sobre caminhões com donativos estarem sendo retidos pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Disse para ele que deveria ser mais uma das tantas fake news que foram espalhadas durante a catástrofe das enchentes. Ele ainda não sabia que já havia um comunicado oficial desmentindo informações deste tipo, inclusive divulgado nas redes sociais.
Novamente, em um momento de grave crise no Brasil, as fake news voltaram a ser o centro da discussão. Quem produz e divulga essas falsas informações, assim como ocorreu na pandemia, só pode ter como intenção criar o caos e desestruturar o país, a ponto de o cidadão não confiar em mais nada, sobretudo nas instituições, colocando perigosamente em risco a democracia brasileira.
Mais uma vez, foi o jornalismo sério que levou ao cidadão as informações corretas e assegurou veracidade sobre a terrível enchente no Rio Grande do Sul. Mas o problema é que a verdade não alcança a mesma proporção que a mentira. Um estudo publicado ainda em 2018 pela revista Science (https://www.science.org/doi/10.1126/science.aap9559) chegou à conclusão de que as notícias falsas proliferam mais longe e mais rápido do que as verdadeiras.
Para entender como as notícias falsas se espalham, Vosoughi et al. utilizaram um conjunto de dados do Twitter de 2006 a 2017. Cerca de 126.000 histórias foram espalhadas por cerca de 3 milhões de pessoas. As notícias falsas alcançaram mais pessoas do que as verdadeiras; o 1% das principais notícias falsas foi difundido entre 1.000 e 100.000 pessoas, enquanto a verdade raramente foi difundida para mais de 1.000 pessoas.
As fake news difundiram-se mais longe, mais rapidamente, mais profundamente e mais amplamente do que a verdade em todas as categorias de informação, e os efeitos foram mais pronunciados nas notícias políticas falsas. As notícias falsas eram mais novas do que as verdadeiras, o que sugere que as pessoas eram mais propensas a compartilhar informações novas.
Enquanto as histórias falsas inspiravam medo, repulsa e surpresa nas respostas, as histórias verdadeiras inspiravam expectativa, tristeza, alegria e confiança. E pasmem com o mais interessante: os robôs (algoritmos das redes sociais) aceleraram a propagação de notícias verdadeiras e falsas ao mesmo ritmo, o que implica que as notícias falsas se espalham mais do que a verdade porque os humanos, e não os robôs, são mais propensos a espalhá-las.
Sim, são as pessoas que espalham mentiras para causar burburinho na internet. Isso tem motivado uma série de debates sobre a regulamentação das redes sociais. Cada cidadão tem valores e concepções de que não abre mão, e quando vê algo circulando pela internet que compactue e reafirme aquilo que ele pensa, taca o dedo no compartilhar, mesmo sem saber a veracidade daquilo. É como se dissesse: “Olha aqui aquilo que te falei como é verdade” (mesmo sendo mentira).
O Brasil precisa, sim, discutir mecanismos para controlar a disseminação das fake news, e as redes sociais devem ser chamadas à responsabilidade. Mas, mais importante do que isso, precisamos educar as pessoas. Elas têm que entender a gravidade dos seus atos no mundo virtual, assim como no mundo real. As redes sociais são um instrumento extraordinário de disseminação de informação.
Bilhões de pessoas em todo o mundo estão conectadas; jamais em toda a história da humanidade conseguimos impactar um número tão grande de pessoas com informações de forma absurdamente rápida, contudo, assim como o mundo real tem regras, o mundo virtual também precisa ter.