As placas tectônicas da alma foram levadas ao extremo. Basta dar uma olhada na fisionomia das pessoas nas ruas.
Que 2022 seja mais brando com todos nós.
Olho para trás e vejo tudo amassado. A retrospectiva deste ano está como uma barra de metal toda marcada por enormes impactos. É como se um deus da mitologia nórdica tivesse erguido um enorme martelo e batido com violência seguidas vezes naquilo que minimamente tentávamos escrever. Como formigas, agarrávamos no varal que dançava conforme o vento forte se intensificava. Ninguém saiu ileso.
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Certa vez, inundado em uma ingenuidade absurda, ousei falar que dificilmente a vida me surpreenderia outra vez. Estufei o peito para largar ao vento que, após enfrentar uma boa coleção de adversidades, estaria calejado para qualquer coisa. Não poderia estar mais enganado.
Este ano me ensinou que nunca devemos subestimar a criatividade da vida. Se fosse possível utilizar a escala Richter para ter uma noção dos impactos que este ano causou, diria que precisaríamos aumentar a régua. As placas tectônicas da alma foram levadas ao extremo. Basta dar uma olhada na fisionomia das pessoas nas ruas. O ar de cansaço materializado em olheiras e cifoses é homogêneo. Abraçados em singelos objetivos, mas ainda zonzos com o ano que havia acabado, começamos 2021 com algum resquício de esperança. A vacina chegava e um novo normal começava a ser esboçado. Porém, de forma muito particular, as adversidades, como um cachorro manso pedindo abrigo em um dia chuvoso, sorrateiramente chegaram na vida de cada um de nós.
E elas não estavam para brincadeira. Aceitar que pouco podemos controlar é o começo de uma vida mais leve. De um lado, sim, nossas escolhas possuem um peso incrível em nossa escrita. De outro, ou seja, aquilo que nos é imposto, demanda a grande habilidade da adaptação. E é na mistura destes dois lados que está a graça da vida. Ela também é bela por nos trazer o inesperado. Mas é mais linda ainda por nos ensinar a sorrir naquilo que jamais imaginamos viver.
E que 2022 seja mais brando com todos nós.