Maturidade
Na próxima terça-feira chegarei aos 38 anos. Número que antes parecia tão distante, agora bate de forma rude em minha porta. É rude porque o corpo nem cogita disfarçar. Quando menos percebi, estava gemendo para me levantar e sentindo dificuldade para amarrar os cadarços. Quando pego o celular do meu pai, que é de uma marca diferente do meu, levo horas para achar os atalhos. E nem vou falar sobre aprender a mexer em novos aplicativos. Tudo que era fácil, lentamente foi ficando mais complicado. É uma época esquisita.
Eu faço parte da geração que está entre os mais velhos, que consideram vídeo game algo estúpido, e os mais novos, que precisam de uma tela para absolutamente tudo. Aproximar-se dos 40 é soltar uma gíria perto de jovens, com a preocupação interna de parecer o tiozão que quer se enturmar. É reclamar que as costas estão doendo perto de alguém mais velho e aguardar o comentário de que você é muito novo para sentir isso.
Quando me percebo dentro do mercado, usando camiseta de banda de rock da década de 70, decidindo se Ariel é melhor que Omo, a sensação é absurdamente estranha. Eu, que antes acreditava que existiam somente dois tipos de queijo – mozarela e cheddar –, agora fico um bom tempo na prateleira escolhendo com ousadia qual irei experimentar.
Notei que uma linha havia sido ultrapassada quando pedi educadamente ao garçom de uma pizzaria para baixar o volume do rádio porque estava difícil de conversar. Foi exatamente no instante que fiz este pedido que começaram a nascer pelos nas minhas orelhas. Passei a ter preguiça de ouvir álbuns que não estão no Spotify. E isso que sou da época em que se esperava a música tocar na rádio para gravar em fita cassete.
E foi reclamando que não existem mais pilotos como Ayrton Senna que me dei conta que já não sou mais nem tão velho e nem tão novo. Maturidade é quando não podemos mais fazer besteiras, colocando na conta da juventude, e nem deixar de seguir nossos sonhos, culpando a idade. Este texto poderia ser sobre como fechamentos de ciclos mexem conosco ou como a idade traz sabedoria. Mas não consegui. Virou um desabafo. Apenas espero que você, que também está vivendo essa fase esquisita, não se sinta tão sozinho lendo este texto. Estamos juntos!