Homens sem máscara e a masculinidade frágil
A masculinidade insegura se manifesta em atitudes já muito ultrapassadas. A moto que faz muito barulho, o cavalinho de pau (e outras imprudências no trânsito) e a velha assobiada para flertar com uma mulher são alguns exemplos. Em tempos de pandemia e reclusão, estes comportamentos diminuíram, ou melhor, foram substituídos. Agora a masculinidade frágil também se materializa de outra forma: na ausência da máscara.
É comum notar nas ruas casais com os filhos, todos fazendo uso da máscara para se proteger da Covid-19, exceto o homem. Atitude que claramente coloca em risco todos os outros da família. A grande maioria das situações em que alguém fez escândalo ao ser barrado na entrada de um comércio por estar sem máscara foi protagonizado por homens.
Em outras palavras, não usar máscara foi a maneira que alguns indivíduos encontraram para mostrar que a “virilidade” está em dia. A nova versão do homem que não precisa ir ao médico para cuidar da saúde é a do machão que não tem medo de virar estatística na pandemia. Afinal de contas, como diria aquele que encabeça o retrocesso da masculinidade, é só uma gripezinha, não é?
As insígnias do que representa o masculino costumam ser transmitidas de pai para filho. Na sequência, a transmissão acontece no social. O problema é que por muito tempo os distintivos que eram passados exigiam demonstrações de força e intolerância. Demandavam ausência de sentimentos. Aquela velha história que homem não chora. Logo, virilidade era sinônimo de intransigência. Eram comportamentos brutos que funcionavam como uma máscara para disfarçar inseguranças. A ironia é que hoje essa fragilidade se apresenta justamente na não utilização de máscara.
Felizmente, há uma revolução vigente que pretende rever o conceito de masculinidade. Os pais mais recentes têm mostrado a seus filhos uma versão diferente do paizão rude que resolve as coisas no grito. São mais responsáveis na apresentação de um mundo afetuoso e sensível. Trata-se de uma transmissão mais empática que favorece um entendimento de que a sociedade funciona de forma coletiva. Meninos que, quando adultos, utilizarão máscaras apenas se outra pandemia surgir.