Vi gente sendo mal interpretada, ou interpretando mal também. Ou só vendo o que quer. Ou o que a cegueira permite. Dizem que é do ser humano, que, às vezes, é normal isso acontecer.
Hoje vi muita gente se ofender. Ontem, semana passada, talvez amanhã de novo. Na verdade, já tenho visto há muito tempo. Gritar, apontar o dedo, demonstrar raiva no olhar. Vi gente cortando o contato, parando de seguir nas redes sociais, amizades terminando, famílias se afastando. Vi gente que nunca mais vai se falar. Vi gente que deixou de lado o “como você está?”, o “deixa pra lá”, o “tô aqui contigo”, o “eu te amo”. Vi gente invertendo a ordem das prioridades, gente perdendo a cabeça, saindo do sério, desejando o pior.
Vi gente sendo mal interpretada, ou interpretando mal também. Ou só vendo o que quer. Ou o que a cegueira permite. Dizem que é do ser humano, que às vezes é normal isso acontecer. Mas o que não é normal é achar que tudo isso é mais importante do que aquilo que sempre carregamos e levaremos até o fim: a nossa essência. Se tem uma coisa que aprendi na vida, foi que no fundo a gente não controla nada. Não escolhemos quando vamos chegar e nem quando vamos ir. Não escolhemos quem aparece, quem fica e nem quem vai embora. Não escolhemos quando uma guerra vai chegar.
Não escolhemos quando a felicidade vai bater. Somos apenas peças movidas pelo tempo e por alguma força superior. E um dos nossos piores erros é querer saber demais. E querer controlar demais o que, na verdade, não é nosso dever. Aprender que não controlamos nada me fez não deixar para depois. Me fez levar algumas coisas menos a sério. Me fez nunca esquecer que os dias vão passar, o mundo vai girar, a dor vai amenizar, a cabeça vai esfriar, nossa opinião vai mudar. E só deixaremos para trás as nossas atitudes e as marcas em quem cruzou o nosso caminho.
Talvez a dica seja levar mais leve, deixar o senhor do tempo e do espaço agir em paz, trabalhar para a roda da vida girar. E pronto. Porque, no fim, vai ser isso: só você. Você e aquilo que tem aí dentro, algo que não tem nome, que é o que você é. Então, nunca se acomode achando que está tudo resolvido. E nem que está tudo acabado. Simplesmente, não deixe para depois. Afinal, a gente não controla nada.
Excelente texto! Às vezes sinto calafrios ao ver alguém tão jovem, sendo capaz de produzir textos tão significativos e reflexivos como este. Mas sinto esperança, também. Esperança ao ver que, quando eu deixar este mundo, ainda haverão os mais moços com brilho e grandeza para movimentar o relógio do tempo que já não mais faço parte.