
Vivemos tempos loucos, e talvez pré-apocalípticos. Então, vale a pena relembrar uma produção imperdível, que esteve por essas paragens: “Dr. Fantástico ou como aprendi a parar de me preocupar e amar a bomba”, de Stanley Kubrick.
Baseado no livro “Alerta Vermelho”, do ex-tenente da Força Aérea Britânica, Peter George, faz uma veemente crítica à Guerra Fria entre EUA e URSS. Com um roteiro extremamente inteligente, usa um humor ácido muito bem focado na paranóia belicista e no lado humano e louco daqueles que podem deflagrar ou evitar uma guerra atômica. Chega a ser assombrosa a possibilidade de estarmos à mercê de humores e manias de alguns.
Tudo na produção é perfeito. O fato de ainda ser em preto e branco (o último monocromático de Kubrick) só ajuda, já que sua fotografia valoriza muito a história e o jogo entre claro e escuro, bem e mal, e seus meio tons. O enquadramento da câmera e a construção dos cenários dão a exata noção de grandeza e importância dos fatos, ao mesmo tempo em que os closes enfatizam que tudo pode se resumir a uma mente pequena e egoísta.
As atuações de Peter Sellers e George C. Scott são primorosas e inesquecíveis. O primeiro deveria fazer quatro personagens, mas escapou de interpretar o major T.J. “King” Kong e fez “apenas” o capitão Lionel Mandrake, o presidente Merkin Muffley e o Dr. Fantástico, com seu braço nazista com vontade própria. Cada personagem é uma paródia de um elemento político ou militar que compunha o explosivo cenário mundial no início dos anos 60.
Na trama, um general louco envia, por conta própria, mais de 30 bombardeiros B-52 atacarem a Rússia com bombas nucleares. Correndo contra o tempo, as cabeças dos EUA tentam evitar a retaliação russa enquanto que a tripulação dos aviões está incomunicável. O filme brinca ainda com a desconfiança dos personagens com as informações apresentadas.
Criador da mais emblemática música para filmes de guerra bem humorados, “Dr. Fantástico” tem ainda uma das mais famosas cenas do cinema, com o cowboy galopando uma ogiva nuclear enquanto ela ruma para o alvo. Filme obrigatório.