Por Murilo Fabris – Honestamente, eu nem sequer sei por onde começar a descrever a minissérie da Netflix Bebê Rena. Logo no começo do primeiro episódio, o telespectador é alertado: essa é uma história real. Diferentemente dos filmes de terror onde essa observação não me causa nenhuma comoção, dessa vez, devo admitir, foram sete capítulos de puro assombro, constrangimento e agonia. Não se engane, tudo isso são qualidades de uma trama excelente.
Donny Dunn é um coitado: sua carreira como comediante vai de mal a pior e, ainda por cima, ele mora com a ex-sogra da namorada que o abandonou. A única coisa que vai mais ou menos bem é seu trabalho como bartender. É durante um dia de expediente que ele conhece Martha, outra coitada que não tem dinheiro nem para comprar uma xícara de chá. Com dó da moça, Donny lhe oferece uma bebida por conta da casa. Mal sabe ele que ao fazer isso, vai conquistar não só o coração da dona, como também sua obsessão. A partir daí, ele percebe que as intenções de Martha são pra lá de macabras, quando ela passa a persegui-lo.
Falo sério quando digo que constrangimento não falta na trama estrelada, escrita e dirigida por Richard Gadd. É impossível não se contorcer de desconforto ao ver a relação dos dois protagonistas. Martha é claramente uma pessoa instável ― para não dizer psicopata ― e, apesar de parecer sonsa, ela sabe exatamente o que está fazendo. Donny, por sua vez, fica tão envolvido na psicose da maluca, que fica difícil negar que o louco da história, na verdade, é ele.
Claro que nada disso é gratuito e é aí que está toda a delicadeza brutal da série. Quando nos aprofundamos na mente e no passado dos personagens ― principalmente de Donny ―, vemos que o buraco é bem mais embaixo. Ele não tem um trauma, ele é um. Cabe ao telespectador abraçar toda essa confusão. Nesse caso, se sentir repulsa e angústia, significa que Bebê Rena atingiu o seu propósito.
