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A metade do ano passado foi maluca por aqui. Passamos da primavera ao inferno em poucos dias acompanhando as manifestações pelas ruas brasileiras. Entre os que sempre se interessaram e se informaram sobre política, duvido alguém que não tenha se empolgado com todas aquelas pessoas marchando pelas ruas de São Paulo, fechando a Avenida Paulista e exigindo resposta dos poderes públicos. Porém, não durou muito e percebemos que quem foi às ruas foi o pessoal que antes não se interessava muito por política, não tinha a menor noção sobre movimentos sociais. “O gigante acordou”, diziam. Protestar contra a corrupção? É tudo que os políticos desejam para se sentirem tranquilos: uma passeata contra um inimigo invisível, não palpável, que obviamente vai dar em nada.
Táticas semelhantes a essa, usadas em sentido contrário, já elegeram presidentes no Brasil, Jânio Quadros e a sua campanha com a vassoura é um deles, o homem que iria varrer para sempre a corrupção. Com Fernando Collor, os marajás. Cria-se um inimigo abstrato e apresenta-se o herói que irá derrotá-lo. Nunca se materializando mudanças palpáveis. O movimento de 2013 derrotou-se quando os brasileiros “acordaram” e resolveram exorcizar todos os seus demônios de uma vez só, em um passeio pela Avenida Paulista, a corrupção, a má educação, a saúde precária, dentre outros. Tudo de uma vez só. Não haveria outro resultado que não a derrota.
A Folha de S. Paulo em parceria com a O2 Play Filmes, produziu o documentário Junho, com imagens e entrevistas durante o ano de 2013. Em um documentário mais imparcial do que se esperava, reconheceu seus erros e os do resto da grande mídia em editoriais. Quando em certos momentos clamavam por mais pulso firme da polícia militar, resultando nos dias mais repressivos. Emocionante em alguns momentos, Junho registra bem a faísca de esperança que se criou em 2013 e por lá ficou, guardada em nossas cabeças. Não trata-se de um documentário excelente, mas para quem gosta do gênero vale um tempo de sofá.
Junho – O mês que abalou o Brasil
Brasil – 2014
Direção: João Wainer
Elenco: Gilberto Dimenstein, Luiz Eduardo Soares, Contardo Calligaris
Produção: TV Folha e O2 Filmes
Duração: 72 minutos
Classificação: 12 anos