Geral
Por Maicon Portes
Um dos mais belos filmes sobre o tema, Longínquo explora com todos os recursos a solidão humana. Nada fica muito tempo acompanhado na história, toda interação entre personagens é momentânea e burocrática. Desde a dificuldade em estabelecer contato com uma ex-mulher até os problemas em iniciar uma amizade com a moça bonita do bairro, dialogar é um parto. O estado natural das pessoas em Longínquo é a solidão. Viver em sociedade parece pesar toneladas, acentuadas pela paisagem glacial de Istambul.
Acompanhamos aqui a vida de Mahmut, um fotógrafo que vê cada vez mais a sua história se afastar do que tinha em mente quando jovem. Observa, sentado em sua confortável poltrona, o comodismo — de ter um bom emprego em meio à crise que a Turquia atravessa — destruir suas antigas ambições. Ao mesmo tempo, precisa conviver com um primo, Yusuf, recém-demitido de uma fábrica, que veio do interior para Istambul em busca de seus sonhos: arranjar um emprego em um navio e viajar pelo mundo. Mahmut vê em Yusuf a sua juventude, um homem com desejos e objetivos, e isto o perturba. Perceber que já não é aquele homem de antigamente.
Ganhador do Grand Prix (segundo prêmio em importância) de Cannes, Uzak (seu nome em turco) agradou muito a crítica especializada quando lançado. Suas cenas contemplativas conseguem dar à solidão um nível a mais. Seus enquadramentos dentro da casa de Mahmut, incrivelmente mais afastam os dois personagens do que aproximam. Um filme turco é sempre difícil para o público médio, não vamos ter nesta obra a agilidade de Hollywood, por exemplo, mas para todos aqueles que apreciam abrir a cabeça para novas ideias, a recomendação é máxima. Se você é um destes, aproveite a obra do diretor e fotógrafo turco Nuri Bilge Ceylan.
Longínquo 
(Uzak)
Turquia – 2002
Diretor: Nuri Bilge Ceylan
Produção: Nuri Bilge Ceylan
Roteiro: Nuri Bilge Ceylan
Elenco: Muzaffer Özdemir, Mehmet Emin Toprak
Fotografia: Nuri Bilge Ceylan
Duração: 110 minutos
