“Eu faço diárias, meu marido tem carteira assinada e mesmo assim às vezes antes de chegar o final do mês já estamos ficando sem as coisas.”
Por Niomar Pereira – O preço dos alimentos é um dos principais vilões do orçamento das famílias nos últimos três anos. Um comparativo dos preços dos itens da cesta básica para o período de abril de 2019 a abril de 2022, feito pela Unioeste, mostra significativa queda no poder aquisitivo dos brasileiros.
Nesse período, a cesta básica aumentou em 68,19%, em Dois Vizinhos; 59,11%, em Francisco Beltrão; e 64,66%, em Pato Branco. Enquanto o salário mínimo aumentou de R$ 998 para R$ 1.212, ou seja, um crescimento de 21,44%.
Em abril de 2019, a aquisição da cesta básica individual comprometia 37,53% do salário mínimo em Dois Vizinhos, mas em abril de 2022 comprometeu 51,99%. Maior comprometimento do salário mínimo com a cesta básica também foi constatado em Francisco Beltrão que saltou de 38,30% para 50,19% e, em Pato Branco, cujo o comprometimento foi de 37,21% para 50,45%.

O professor José Maria Ramos, coordenador da pesquisa da cesta básica, observa que o custo da alimentação tem pesado cada vez mais no bolso do brasileiro, notadamente o assalariado, que não tem como escapar da inflação e com isso perde poder de compra a cada aumento dos preços de alimentação, energia elétrica, transportes, etc.
Entre os produtos com maior alta de preços para todas as cidades, cabe destaque ao óleo de soja (900 ml) que aumentou 196,9% em Dois Vizinhos; 175,42% em Francisco Beltrão e 222,84% em Pato Branco. O preço médio do quilo da carne bovina de primeira (alcatra e coxão mole) e o litro de leite integral apresentaram aumentos superiores a 80% em Dois Vizinhos e Pato Branco. Na pesquisa de preços, o pacote de açúcar de 5 quilos apresentou comportamento de alta expressiva em Pato Branco, 115,46%; Dois Vizinhos, 91,22%.
Família com seis crianças
Sandra Barbosa, mãe de seis filhos (3, 5, 6, 9, 10, 15), sendo quatro biológicos e dois sobrinhos (filhos da irmã, mas que ela cria), diz que está cada vez mais difícil ir ao supermercado por causa dos preços. “Eu faço diárias, meu marido tem carteira assinada e mesmo assim às vezes antes de chegar o final do mês já estamos ficando sem as coisas.” Ela recebe R$ 450 mensais de auxílio do Governo Federal, mas este dinheiro fica todo na farmácia com gastos em medicamentos. “O leite tá R$ 5,50 o litro e meus filhos tomam em média 4 litros por dia.” Além do mercado, farmácia e gás de cozinha, a família paga R$ 650 de aluguel, R$ 280 de água e R$ 150 de luz. Eles ganharam um terreno no loteamento Terra Nossa e agora a família está fazendo uma campanha para arrecadar material de construção e construir uma casa para sair do aluguel. Quem quiser ajudar o telefone é (46) 98817-4564.
Queda no poder aquisitivo impacta na venda dos mercados de bairros
JdeB – Nos mercados dos bairros de classe assalariada, os pedidos de “caderninho” (o famoso fiado) estão voltando em Francisco Beltrão. Joelci Campos, administrador do Mercado Três Irmãos, do Bairro Padre Ulrico, disse que nunca viu um aumento de preços dos alimentos como neste ano.
“Antes, tinham os reajustes normais, uma ou duas vezes no ano, variava entre 4% e 8%; agora quando vem o reajuste é de 20%. A linha de higiene. muitos itens já aumentaram mais de 100%. Antes o dólar estava em alta agora baixou e não mexeram em nada para diminuir o preço.” Segundo ele, a venda do estabelecimento diminuiu em virtude dos aumentos, pois o poder de compra das famílias está caindo. Joelci diz que está cada vez mais difícil para os pequenos e médios mercados, que além de verem o poder de compra da população encolher, ainda competem com grandes redes.