Desinteresse, conflito familiar e vulnerabilidade social são as principais causas do abandono e evasão escolar.

Foto: Agência Brasil
No ano passado, 326 adolescentes abandonaram os estudos nas redes estadual e municipal e particular de Francisco Beltrão. Os dados foram divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) com base no Censo Escolar de 2016. A série com maior abandono é o primeiro ano do ensino médio, com 10% de abandono e 13% de reprovações. Essa mesma série detém 23% dos alunos com atraso escolar de dois ou mais anos. São muitos problemas enfrentados no cotidiano das escolas.
“Os abandonos e as evasões envolvem vários problemas sociais. O maior índice é o desinteresse dos alunos e grande parte deles estão nos locais com maior vulnerabilidade social. Por isso, são articulados serviços para a diminuição do abandono escolar. Serviços que vão além do trabalho pedagógico”, diz José Lúcio Machado, integrante da Rede de Proteção do Núcleo Regional de Educação de Beltrão.
Números maiores
Os índices nacionais são ainda mais preocupantes. A cada ano, três milhões de jovens abandonam a escola e até o final deste ano, um em cada quatro jovens entre 15 e 17 anos de idade vão abandonar os estudos. Isso corresponde a um universo de 2,8 milhões de pessoas, 27%, entre os 10 milhões de jovens estimados no País nessa faixa etária e que deveriam estar frequentando a escola. Os dados ainda revelam que mais da metade das nações tem menor porcentagem de jovens fora da escola que o Brasil. Se mantiver este ritmo, o País levará 200 anos para atingir a meta estabelecida no Plano Nacional de Educação (PNE) de universalizar o atendimento escolar para esta faixa etária. Esses estudos foram realizados pelo Ensino Superior em Negócios, Direito e Engenharia (Insper).
A realidade local
Em 2016, o Conselho Tutelar de Beltrão atendeu 2.302 situações envolvendo crianças e adolescentes, desses 46% eram de conflitos familiares e 24% de evasão escolar. Para completar as cinco primeiras posições da lista, estão casos de violência sexual com 20%, 7% de negligência e 1% de trabalho infantil.
O presidente do Conselho Tutelar, Elton de Vargas, já avalia 2017 como um ano ainda mais preocupante. “Este ano, os atendimentos de evasão escolar estão bem maiores que o ano passado. É uma das nossas maiores demandas. Dos casos de conflito familiar, muitos também estão ligados com a evasão e abandono escolar”, informa.
Estrutura social e familiar
O JdeB conversou com as direções dos colégios estaduais Vicente de Carli, do Bairro São Miguel, e Léo Flach, do Bairro Padre Ulrico. Ambas foram unânimes em citar a estrutura social e familiar como ponto-chave na interrupção da educação para os jovens. “De cada turma podemos citar de dois a quatro casos complexos que estão em situação de risco”, conta o vice-diretor do Léo Flach, Rogério Rech.
Ele acrescenta que “o aluno que repetiu dois anos, por exemplo, provavelmente não virá mais ao colégio”.
A diretora do Vicente de Carli, Andreia Savoldi, conta que no período da noite o número de desistências é maior. “Temos muitos alunos que trabalham o dia todo, portanto, no período noturno há mais evasão. Além disso, podemos citar a desmotivação, o desinteresse e o abandono familiar como causas primárias desse contexto”.
Índices de 2017
O JdeB tentou contato com o Núcleo Regional de Educação de Francisco Beltrão. Há dados preliminares do primeiro semestre deste ano, porém, a Secretaria de Estado da Educação não permite a divulgação antes do fechamento dos índices no fim do ano.