De dez instituições melhores avaliadas, sete são federais.
Escolas públicas com melhor desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) formam estudantes desde o 1º ano do ensino médio, têm maior parte dos professores formados na área que lecionam e atendem estudantes de nível socioeconômico alto ou muito alto. Os dados de 2015 foram divulgados ontem, 4, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Nove das dez escolas têm 80% dos estudantes matriculados na instituição desde o 1º ano do ensino médio e têm mais de 70% dos professores formados na disciplina que lecionam. “Isso demonstra que o Brasil sabe fazer uma escola pública extremamente estruturada com professores mais valorizados e isso acaba tendo resultado”, diz o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara.
Sete das dez escolas com as melhores médias gerais são federais. Integram a lista escolas militares e escolas técnicas estaduais. Cara ressalta que são, na maioria, escolas que selecionam os estudantes, mas, segundo ele, não são boas porque os estudantes são selecionados, mas selecionam, segundo ele, porque a qualidade é alta e a procura por essas instituições é grande.
Desigualdade
No ranking geral, considerando também as escolas privadas, a primeira escola pública aparece na 33ª posição, o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa, em Viçosa (MG). A primeira escola pública estadual a despontar entre as melhores médias está em 147º lugar, o Colégio Estadual Tiradentes, em Porto Alegre (RS), que atende a alunos de nível socioeconômico alto.
Entre as privadas, seis das dez com melhores médias têm menos de 20% dos estudantes formados pela instituição desde o 1º ano do ensino médio. Também atendem alunos de nível socioeconômico muito alto ou alto – quatro das escolas estão sem informações.
“O que é preocupante é que o Enem por escola demonstra o quanto o Brasil reproduz desigualdades, entre as privadas, entre as públicas. As escolas que vão bem, são escolas de elite”, diz Cara.
“A larga maioria das escolas ainda deixa muito a desejar”, diz o diretor de articulação e inovação do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves Ramos. “Para mim, mudar o currículo é apenas um lado da moeda. Outro fator muito importante para reduzir a desigualdade que começa na alfabetização é que é preciso ter qualidade e equidade para todos os estudantes e isso passa pela formação do professor”.
Ranking
Ao todo, foram divulgados pelo Inep os resultados de 14.998 escolas, que são aquelas nas quais pelo menos 50% dos alunos do terceiro ano participaram no Enem e esse número equivale a pelo menos dez estudantes. No País, são 25.777 escolas com alunos matriculados no 3º ano do ensino médio regular.
Contextualização
O presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação e ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Francisco Soares, defende que os dados precisam ser contextualizados. Segundo ele, rankings colocam escolas que selecionam seus estudantes no topo e deixam de considerar projetos pedagógicos que merecem ser conhecidos e podem inspirar mudanças na educação brasileira.
“Divulgar os dados sem dizer que por trás daquele dado existe uma diferença é complicado”, diz à Agência Brasil.
“Há escolas que não selecionam seus alunos, que são de nível socioeconômico baixo que precisam ter os projetos conhecidos e inspirar outras escolas”, acrescenta.
Redação
Apenas 115 escolas de quase 15 mil em todo País tiveram média igual ou superior a 800 pontos na redação no Enem 2015. Dessas, quatro são públicas.
Colégio Águia de Beltrão consegue o melhor índice no Sudoeste
O Colégio Águia, de Francisco Beltrão, conseguiu a melhor nota no Enem de 2015, como divulgado ontem pelo Ministério da Educação. O Colégio Águia Beltrão recebeu índice 623,4. Em segundo lugar vem o Colégio Glória, com 614, também de Beltrão; o Colégio Mater Dei, de Pato Branco, com 602,03.
Irineu Ferraz, um dos diretores do Águia em Beltrão e Pato Branco, diz que é a terceira vez que a unidade local fica em primeiro lugar na região. A unidade de Pato Branco conseguiu o índice de 579,41. No entanto, Irineu ressalta que as turmas contam com a mesma equipe de professores, o mesmo material didático. Apesar da nota mais baixa do Águia de Pato Branco, ele argumenta que “ainda assim a média é alta”, destacou.
Ele disse que a instituição de ensino faz um trabalho “gigante” de preparação dos estudantes.
Outro destaque no Sudoeste, na redação do Enem 2015, foi a unidade do Instituto de Educação Federal (IFPR) de Palmas, com índice 697,69. Mas no desempenho geral o IFPR conseguiu a média 573,1.