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Francisco Beltrão
quarta-feira, 25 de junho de 2025

Edição 8.232

25/06/2025

Futuro Integral: O aluno é o protagonista do próprio aprendizado

A finalidade é permitir o domínio de novas habilidades, mudança de comportamento, prevenção de violência, inclusão social e redução da evasão.

 

Luis Felipe da Silva.

Luiz Felipe da Silva, 13 anos, é estudante do 8º ano do Colégio Estadual Tancredo Neves, em Francisco Beltrão. Na terça-feira, 2, quando a reportagem do Jornal de Beltrão acompanhou uma aula do programa Futuro Integral – do Sesc em parceria com Governo do Estado – ele não soltava das mãos um cubo mágico. O restante da turma usava barbante e alfinetes para moldar figuras, utilizando conceitos de simetria.

A orientadora Alice Regina Hunhoff utiliza essas brincadeiras para melhorar o raciocínio lógico e, consequentemente, ajudar no aprendizado da matemática.  Além de memorizar sequências, a atividade exige concentração e observação. No fundo, o que o menino está aprendendo com o cubo mágico, sem se dar conta, são noções de análise combinatória, probabilidade e geometria, fundamentais no entendimento da disciplina.
O Futuro Integral do Sesc é um programa de educação complementar que se soma diretamente aos esforços das escolas paranaenses da rede pública de ensino, estadual e municipal, com o objetivo de promover atividades de complementação curricular, para crianças e adolescentes de baixa renda, matriculados no ensino fundamental e ensino médio.
As atividades de contraturno escolar focam em raciocínio lógico e letramento – duas barreiras a serem vencidas na educação brasileira – mas com uma metodologia inovadora. Com isso, espera-se reverter um triste cenário: Crianças e adolescentes brasileiros enfrentam sérios problemas para aprender língua portuguesa e matemática. 
No Paraná, segundo dados da Prova Brasil de 2015, 34% dos alunos (41.033) do 5º ano apresentaram pouco aprendizado de matemática e 9% (10.367) quase nenhuma noção da matéria.
Os números são ainda piores no 9º ano, no qual 59% (71.531 estudantes) tem o conhecimento básico – considerado pouco – e 26% (31.719) aprendizado insuficiente, ou seja, sabem próximo de nada do conteúdo para a série indicada.
Na disciplina de português, o retrato é melhor, mas não menos preocupante, pois no 5º ano, 35% não sabem o suficiente e no 9º ano, 69% não aprenderam o adequado. Esse déficit no aprendizado influencia diretamente na formação dos brasileiros.
A leitura, a escrita e os cálculos acompanham o ser humano em toda sua vida social e profissional. O entendimento do mundo, o sucesso na carreira, o desenvolvimento de uma mente crítica e do pensamento analítico dependem muito destas duas disciplinas.

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Sarau Literário, ocorrido dia 18 de agosto, com participação dos alunos do Caic.
Foto: Divulgação/Sesc

 

 

Curiosidades dos alunos
 O programa Futuro Integral abrange um conjunto de ações e oficinas de educação complementar, com foco nas áreas curriculares de letramento, raciocínio lógico e arte-educação, as quais são desenvolvidas em horário de contraturno escolar.
As atividades acontecem duas vezes na semana no horário contrário ao das aulas regulares. E isso se faz com oficinas educativas livres, que organizam as aulas de modo mais prático a partir de curiosidades e interesses dos alunos.
Rosani Variza, técnica de atividades do Sesc de Francisco Beltrão, ressalta que o programa não significa apenas mais tempo do educando no ambiente educativo, mas cria estratégias pedagógicas diversificadas, promovendo uma educação efetiva, que vai além da sala de aula. O Futuro Integral, que começou em 2011, é desenvolvido em todas as unidades do Sesc no Estado. Na microrregião, estão em andamento 17 turmas em Francisco Beltrão e duas em Marmeleiro, atendendo em torno de 400 alunos. Normalmente ocorrem dentro do próprio ambiente escolar.
Na rede municipal, podem participar alunos matriculados nos 4º e 5º anos. E na rede estadual, estudantes do 8º e 9º anos, e até mesmo do Ensino Médio (1ª a 3ª séries).
É adotada uma metodologia de ensino contextualizada, que visa repassar conhecimentos construídos a partir de interesses e necessidades do aluno, que é produtor de saberes junto com os colegas e o educador.

Alunos do Colégio Tancredo Neves durante atividade do Futuro Integral.
Foto: Niomar Pereira/JdeB

 

 
A formação do cidadão do amanhã
Luiz, o aluno do início da reportagem, conta que melhorou seu desempenho nas duas disciplinas. Segundo ele, quebrar a rotina da sala de aula, com brincadeiras, jogos, trabalhos em grupo, favorece o aprendizado. “A gente sempre aprende algo novo. Às vezes nem nos damos conta, mas os professores veem que melhoramos.” O estudante está empolgado, porque dentro da área de letramento, ele e os colegas estão produzindo um curta metragem, que irá mostrar a realidade dos bairros do município. “Vamos apresentar coisas boas, mas também os problemas urbanos das comunidades.”
Rosani diz que a finalidade do Futuro Integral também é permitir o domínio de novas habilidades, a mudança de comportamento, a prevenção da violência, maior participação e inclusão social, diminuição da evasão e aumento do rendimento escolar, desenvolvimento da criatividade e ampliação do repertório cultural.
De acordo com ela, todo esse processo vai além de ajudar os estudantes com o português e a matemática – base de todas as áreas do conhecimento -, ajuda no desenvolvimento do cidadão do amanhã. “Não tem como não trabalhar conteúdo curricular, mas é feito de uma forma diferente, em que o aluno assume o protagonismo do seu aprendizado. Ele não recebe o conteúdo pronto, é motivado a construir junto. A partir disso surgem jogos, brincadeiras, visitas técnicas, entre outros. Tivemos recentemente o Dia da Matemática e o Sarau Literário.”
A técnica do Sesc afirma ainda que a melhoria dos alunos é visível com o passar do tempo. “Às vezes, não é que não absorve o conhecimento porque tem déficit de atenção ou dificuldade de aprendizado, mas simplesmente porque eles não conseguem sentar e ouvir.”
Por meio da ludopedagogia e da metodologia de projetos, os orientadores conduzem os alunos a uma imersão transversal nos conhecimentos, de modo que a aprendizagem se torna significativa, dinâmica e cheia de vida. “No primeiro semestre debatemos a sociedade na arte, na ciência e na cultura. Depois disso, houve aula de campo para aproximar a experiência da sala. Já tivemos uma visita ao museu do município e em outubro está agendada a ida em uma feira de tecnologia na cidade de Pato Branco.”

Lucas Emanuel Fernandes Zanetti, 9, estudante
do 4° ano na Escola Municipal Nossa Senhora do Sagrado Coração.
participando do Piquenique Literário.
Foto: Divulgação/Sesc

 

 
No contraturno ou grudado na TV e no celular?

 Dentro do cronograma, os participantes têm aulas sobre a sociedade, ciência, sustentabilidade, democracia e cultura. “Essa concepção ajuda eles a aperfeiçoar seu comportamento, se tornando melhores como pessoa, pois reforça bastante o respeito pelo outro”, destaca Rosani Variza.
Victor de Camargo, 13 anos, aluno do 8º ano, gosta justamente das atividades culturais. Na opinião dele, é uma forma divertida e lúdica de aprender, fazendo maquetes, desenhos e conhecendo melhor os amigos. “Fiz muitas amizades e senti que melhorei na sala de aula. Os orientadores apresentaram uma série de conceitos sobre diversidade cultural e história que motivam a gente a refletir.” Se não estivesse no contraturno, Victor fala que estaria em casa grudado na TV ou no celular. “Vindo aqui consigo aprender coisas mais úteis. “
A professora Alice, que é orientadora do programa há um ano e meio, observa que muitos alunos têm dificuldade em matemática, porque se condicionam a pensar que a matéria é ruim ou que tem dificuldade com números. “A matemática exige muita concentração e é por isso que aqui no programa trabalhamos diferente. Fizemos desafio de mágica, de ilusão de ótica, simulamos compras em um mercadinho, para ajudá-los a calcular. E, em meio a isso, repassamos valores sociais, éticos, morais para que haja um relacionamento melhor entre todos. Muitos eram bastante tímidos, hoje se socializam melhor. Aliás, tem que colocar a mão na massa, são eles que pesquisam aquilo que querem aprender e nós fazemos a orientação.”
Os projetos educacionais são prioridade da instituição, já que em 2014, através de um acordo firmado com o Governo Federal, 33,3% de toda arrecadação do Sesc é destinada para a área. O projeto é gratuito e um dos critérios para participar é a renda familiar seja de até três salários mínimos.
 
 
“O melhor programa na escola”, diz diretora
 A professora Lúcia Rocha, diretora do Colégio Tancredo Neves, afirma que o Futuro Integral é o melhor projeto em andamento na escola. “Faz três anos que temos aqui na escola e todo final de ano quando nos reunimos ele recebe a melhor avaliação.” Ela salienta que de uma forma dinâmica, com oficinas variadas, os alunos estão melhorando seu desempenho em português e matemática. “Nós temos 30 alunos no programa que foram selecionados com uma série de critérios, levando em consideração os que mais precisam estar na escola. O ideal é que tivessem mais vagas, mas como não há condições fazemos um rodízio entre os alunos para atender o máximo possível.” A diretora expõe que o problema é a falta de espaço. Há um outro projeto de contraturno, chamado Sala de Apoio, também com a parceria do Sesc, que acontece em uma sala emprestada do Centro da Juventude, que fica há alguns metros da escola.

 

406 
alunos matriculados no Futuro Integral no Sesc Francisco Beltrão em 2017. 

1.172 
alunos já passaram pelo programa no município.

11.000 
alunos matriculados no Futuro Integral em todo Paraná em 2017.

256
escolas parceiras

27 
cidades atendidas

 

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