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Francisco Beltrão
quinta-feira, 05 de junho de 2025

Edição 8.220

06/06/2025

Gorda, feia, palito, quatro olhos; apelidos continuam cruéis e podem levar alunos à depressão

Gorda, feia, palito, quatro olhos; apelidos continuam cruéis e podem levar alunos à depressão

A prática é comum em todas as escolas, sejam públicas ou particulares. De repente, alguns alunos são vítimas de apelidos, gozações e são tachados pelos colegas de gordinhos, quatro olhos, burros e até são discriminados pela cor da pele. Os apelidos parecem inofensivos, mas, aos poucos, a criança vítima das agressões verbais se sente inferior e perde o interesse pela escola. A isso se dá o nome de Bullying.
Foi o caso de Sandra, 10 anos, que estuda na 4ª série da Escola Municipal Nossa Senhora do Sagrado Coração, no bairro Padre Ulrico. Hoje, depois de uma rigorosa dieta com acompanhamento de especialistas, a aluna está com 64 quilos, mas chegou a pesar 78 ? demais para sua estatura. Sandra ainda sofre quando a chamam de ?gordinha? e ?feia? pelos corredores da escola, mas está aprendendo a conviver com o problema. ?Nunca fiz nada pra ninguém, eles só me olhavam com cara feia e começavam a falar mal.?
Sandra, mesmo criança, precisou enfrentar a depressão. O problema de saúde se originou por causa das agressões verbais e pressão psicológica que vivia diariamente. Do ano passado para cá, a aluna já consegue olhar no espelho e sentir orgulho do que vê. ?Minha autoestima melhorou, estou emagrecendo e sei que sou bonita?, ressalta.
Outro grupo de alunos enfrenta todos os dias a agressão de quem acredita não ter nenhum problema, são as crianças e adolescentes que estudam nas classes especiais na escola Sagrado Coração. As salas são especiais porque atendem estudantes com dificuldades de aprendizagem, e o mais impressionante, segundo o diretor Abenur Miguel Savegnago, é que muitos pais que se dizem esclarecidos consideram essas crianças fora dos padrões. ?Houve pais que chamaram os alunos da classe especial de loucos, isso é inadmissível?, comenta.
Mais do que ser chamado de burro, João, também da 4ª série, é o gago da classe. Ele sofre com os problemas de dicção e a dificuldade de falar. Apesar das muitas piadas de gagueira que precisa escutar por dia, João não se sente à vontade, e nem tão pouco vê graça nas brincadeiras de mau gosto. ?Eles ficam me imitando, só conversam comigo assim. Eu fico triste e não entendo porque fazem isso.?

O quatro olhos
O simples fato de uma criança usar óculos pode colocar em jogo sua tranquilidade no ambiente escolar. Pelo menos com Tereza é assim. Emocionada, durante a entrevista ela confessa que se sente rejeitada e humilhada por alguns colegas de classe. ?Ficam me chamando de gorda e de quatro olhos, tenho vontade de não vir pra escola?, justifica. Ao lado de outros alunos que sofrem discriminação e de professores que se colocam à disposição para amenizar o problema, Tereza se sente mais protegida e não segura as lágrimas. ?Não gosto disso, não mesmo. Falo para meus pais o que passo na escola, mas eles dizem que não preciso dar bola.?
Para o diretor, essa não é a melhor postura. Em casos assim é necessário se envolver e vir até a escola conversar sobre o problema. ?Aqui na escola procuramos chamar os pais e discutir a questão. Tanto os pais de quem agride quanto dos que são agredidos. Neste processo, a família é importante, caso contrário o aluno se reprime e acaba se anulando do convívio escolar?, explica.
Quieta e com cara de poucos amigos,  Bianca se abre e fala o que lhe chateia tanto. Aluna da classe especial, com dez anos, ela ainda não sabe ler. Está aprendendo, com dificuldades, reconhece, mas diz que alguns colegas não gostam dela justamente por este motivo: ?me incomodam na sala, jogam borracha, tudo isso só porque eu não sei ler ainda?. *Os nomes dos alunos são fictícios.

Quando a brincadeira passa dos limites
Eles dizem que não ligam, acham até engraçado os apelidos que têm, mas no fundo sentem o preconceito.
Diferente dos alunos da outra escola, que preferiram não ser identificados, a criançada da Escola Municipal Bom Pastor, do bairro Luther King, resolveu não esconder o rosto. Mesmo dizendo que não gostam das brincadeiras ?bobas?, também são capazes de devolver na mesma moeda, como afirma Thifany Gonçalves Fontana, 10. ?Me chamam de olho gordo, de gordinha, de feia, mas também não fico quieta.?
Com bom humor, Dionathan Carneiro dos Santos, 10, diz que dois apelidos não lhe incomodam. ?Sou magro e então me apelidaram de ?palito?. Também tenho a orelha grande e sou o ?ligue-ligue 14?. Não ligo mais tanto pra isso?, admite. Mas há um que ele não gosta. ?Tomo remédio controlado por causa da hiperatividade, e qualquer coisa que eu faço ficam falando ?esqueceu de tomar Gardenal?, ?lá vai o Gardenal?. Nem é esse o remédio que eu tomo, e mesmo que fosse não é motivo pra brincadeira.?
Gabriel Venzo, 9, e Jhonatan Leite, 10, têm a resposta das provocações na ponta-da-língua. ?Quando me chamam de quatro olhos digo que é melhor ter quatro que apenas dois?, diz Gabriel. Já Jhonatan, o gordinho da turma, não se sente à vontade com o apelido de Faustão, mas sabe se defender: ?Ele (o Faustão) nem é mais gordo?. Por causa do preconceito, Jhonatan brigou na escola; uma questão que preocupa pais e professores. ?Quando o problema passa da brincadeira verbal e passa para a agressão física pode ser tarde demais para recuperar a autoestima do aluno?, comenta a diretora Rosemeri Risso.
Mas existem sim os apelidos que não trazem reflexos negativos na vida dos alunos, pelo contrário. Débora Cristina da Silva e Anderson Pilati Pereira são os ?artistas? da sala. Ela é chamada de Débora ?Seca?, em comparação com a atriz global Débora Seco, e Anderson é o Chimbinha da banda Calypso. Débora nem é tão magra assim para ganhar o apelido e Anderson não lembra muito o músico. ?Não ligo, acho a Débora bonita?, brinca ela, que lembra mesmo a atriz. (CS)

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