Alunos dos bairros São Miguel, São Francisco e Novo Mundo teriam que estudar em outras regiões da cidade.

Caso a modalidade de ensino cívico-militar seja aprovada na consulta pública, o Colégio Vicente de Carli pode perder o ensino noturno. Isso porque uma das premissas das unidades que irão adotar o modelo é não ter aulas à noite, atendendo somente as turmas diurnas. Atualmente, o Vicente possui cerca de 600 alunos matriculados, 120 deles estudam no 9º ano do Fundamental e em séries do Ensino Médio, à noite. Também há duas turmas do Ceebja (educação de jovens e adultos) que usam as salas do colégio no mesmo período, segundo a direção.
Se a mudança se confirmar, os alunos terão que ser transferidos para o colégio mais próximo. Estudantes do São Miguel, Novo Mundo e São Francisco teriam que ir até o Suplicy ou Reinaldo Sass (reativando as turmas regulares). Só que, até ontem à tarde, o Vicente de Carli não havia atendido o quórum para validar a consulta pública, que seguiu até as 20h. Se a votação não alcançar a maioria da comunidade escolar, segue por mais um dia.
A extinção do ensino noturno pode fazer com que estudantes que já enfrentam uma jornada exaustiva deixem de frequentar as aulas. “Muitos alunos dos bairros daqui precisam começar trabalhar na adolescência e estudar à noite. Muitas vezes vêm com pressa, mal alimentados, já cansados, mas essa é opção de ensino que eles têm e se for tirada daqui será pior, devido à distância e consequente evasão escolar”, argumenta a professora Lucia Vaz Pereira, que leciona há 26 anos no Vicente. Ela deixa claro que não é ligada à APP-Sindicato, pois muitos professores contrários à proposta são taxados de sindicalistas pelos colegas ou pela comunidade devido ao posicionamento.
Já no Colégio Beatriz Biavatti, 70% dos pais e funcionários aptos à votação tinham opinado na consulta até o fim da tarde.
Os prós e contras da nova modalidade, segundo educadores
A adoção do ensino cívico-militar não é um consenso, principalmente entre educadores. A presidente regional da APP-Sindicato, Eliane Figura, se manifestou ontem criticando o modelo proposto pelo Estado por priorizar investimentos num número reduzido de escolas. “Precisamos de investimentos, segurança e estrutura em todas as escolas e não apenas em algumas. Dez por cento das escolas vão receber milhões e o restante vai ter que continuar fazendo rifas, festivais de pastel, pra continuar mantendo sua estrutura”, disse.
Eliane comentou também sobre a pressa do Estado, que divulgou a lista de colégios selecionados na segunda e convocou a votação para os dois dias seguintes, além da falta de definição de como o modelo irá funcionar na prática, com a edição posterior do regimento interno, resoluções e plano pedagógico.
No entanto, a educadora Rosebeli de Miranda, que leciona Matemática, no Vicente de Carli, acredita que, apesar de perder o ensino noturno, os benefícios serão maiores ao colégio a longo prazo. “Temos pouca participação dos pais no colégio, pouco envolvimento, penso que agora podemos ter a oportunidade de pensar diferente e trazer um pouco mais de responsabilidade para os pais e alunos”, comenta. Rosebeli cita que brigas no portão da escola são comuns nos últimos anos, que há dificuldade em organizar os alunos antes de iniciar as aulas e ainda tem que lidar com a indisciplina. Ela usa a experiência positiva do Proerd como exemplo de que o modelo cívico-militar pode melhorar o ambiente escolar.