Na mesma sala ou não, irmãos lidam numa boa com semelhanças e diferenças
Eles são iguais e ao mesmo tempo tão diferentes. Assim são os gêmeos, irmãos que nascem de uma mesma gestação. Podem ser muito parecidos fisicamente, ter o mesmo sexo, ou, muitas vezes, ser um menino e uma menina, um loiro e outro moreno, um baixo e outro alto. Não tem como dizer que os gêmeos são pessoas com características e personalidades próximas só porque nasceram da mesma mãe, no mesmo momento. Prova disso, são os quatro casais de gêmeos matriculados na Escola Municipal Maria Helena Vandresen em Francisco Beltrão.
Pâmela e Paola, filhas de Evandra Hillesheim, 8, estudam no 4º ano D. Elas são até bem parecidas vendo de fora, mas foi só passar um tempinho com elas pra notar que cada uma tem sua personalidade bem acentuada. Pâmela se mostrou mais falante diante da reportagem, respondendo as perguntas com mais rapidez. Já Paola se manteve mais contida. Por elas, não estudariam juntas, na mesma sala. O problema, segundo Pâmela, é que a irmã entrega tudo que ela faz, ou deixa de fazer dentro da escola. Coisa de criança e de irmãos, sejam gêmeos ou não, que estudem na mesma turma.
Para Evandra, o fato das filhas estarem juntas, na mesma sala, é positivo. “Acredito que uma pode ajudar a outra em momentos de dificuldade, sem falar que uma fica de olho na outra, e isso é sempre bom”, diz. Desde o início da vida escolar, Pâmela e Paola estudam juntas, mas garantem que “se uma trocasse de sala, encarariam numa boa”. Em casa elas também se auxiliam nas tarefas, e quem aprendeu melhor o conteúdo pode dar uma de professora.
A mãe dos gêmeos João Paulo e Júlia, Ana Cláudia Morandi, pensa da mesma forma. Os filhos ainda são pequenos, tem apenas 4 anos e estão na pré-escola. Mas ainda assim, Ana prefere que eles estejam juntos na sala para que possam se ajudar quando necessário. “Eles são muito próximos, um cuida do outro pra mim. Brincam e brigam juntos, mas acho que é interessante que sentem afastados na sala.”
Esse ponto é crucial, por que sentados distantes na turma, João Paulo e Júlia podem fazer novos amigos e na hora de formar grupos para trabalhos, ficarem separados — o que também é muito saudável.
João Paulo e Júlia com a mamãe Ana Cláudia.
Evandra com as filhas Pâmela e Paola: iguais e diferentes.
Salas diferentes às Anas e nada de trauma
Geralmente, quando se trata de gêmeos a preocupação dos pais e professores, quanto a deixá-los na mesma sala, fica mais evidente. Quando são menores, como é o caso de João Paulo e Júlia, é natural que isso aconteça, até porque, nesta fase, precisarem de maior apoio do irmão.
No entanto, depois que crescem um pouco mais, não há uma regra que diga que é melhor uma coisa ou outra. Independente disso, é preciso que pais e educadores saibam que cada gêmeo é uma pessoa única, com talentos e defeitos, e é necessário saber olhá-los também de forma individualizada. Quando um se apoia demais no outro, e fiqua na dependência, é hora, talvez, de analisar uma mudança de turma.
Para as gêmeas Ana Júlia e Ana Laura, 8, estudantes do 3º ano, a opção foi frequentar salas diferentes. Segundo elas, orientada pela psicóloga da família, a mãe preferiu deixar as filhas separadas, para evitar dependências. A “separação” é encarada numa boa pelas meninas, que garantem não ter vontade de estarem na mesma sala tão cedo.
Os irmãos Renato e Roberto, 5 anos, são alunos do 1º ano. Fisicamente, até que são bem diferentes: um é loirinho e outro tem cabelo castanho escuro. Mas numa característica poderiam ser classificados como gêmeos idênticos: a timidez. Para responder às perguntas, só fazendo indicando “sim” ou “não” com a cabeça, e de vez em quando a reportagem arrancava um sorriso.
Mas nem precisa falar muito pra notar que eles adoram estudar juntos e são parceiros em sala de aula. Até as professoras Rita dos Santos e Márcia Wons admitem que, ao contrário dos outros gêmeos, Renato e Roberto não se acostumariam fácil com a separação das turmas. “Eles são bem apegados, mas também, assim como João Paulo e Júlia, ainda são muito pequenos e é natural essa maior dependência.”
Projeto na escola
Trabalhar a identidade das crianças. Este é um dos projetos da Escola Maria Helena Vandresen. Segundo a supervisora Márcia, em todas as turmas está sendo visto com as crianças o porquê do nome, do sobrenome, a história das famílias e a importância do registro de nascimento e da identidade, para os maiores.
A questão dos irmãos gêmeos também é explorada pelas professoras em sala de aula, já que ter um amigo que é igual a outro gera muitas dúvidas aos colegas. “Queremos que eles entendam que cada um tem sua história, é um ser único e precisa se conhecer e conhecer os outros. Ter um colega gêmeo pode confundir pelo aspecto físico, mas aos poucos eles percebem que há diferenças e que cada um é um”, explica a professora. Segundo Márcia, a escola nunca teve tantos alunos gêmeos matriculados como em 2014. ”
Roberto e Renato são bem parecidos quando o assunto é não falar muito. Diante da reportagem, ficaram bem tímidos.
A mãe de Ana Júlia e Ana Laura preferiu que elas estudassem em salas separadas. E elas adoraram.