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Francisco Beltrão
domingo, 25 de maio de 2025

Edição 8.211

24/05/2025

Professores chilenos falam sobre neoliberalismo

Universidades do Chile precisam se auto sustentar.

Professores doutores Maria Francisca Elgueta e Eric Eduardo Palma (em pé), da Universidade do Chile, contribuíram com o mestrado em Educação, da Unioeste.

Foto: Leandra Francischett/JdeB

O Programa de Pós-Graduação em Educação – Mestrado contou neste mês com a presença dos professores doutores Maria Francisca Elgueta e Eric Eduardo Palma, da Universidade do Chile, na unidade de Pedagogia Universitária e Didática do Direito. Eles colaboraram com a discussão sobre as políticas neoliberais e o seu impacto nas universidades públicas. Confira a entrevista.

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Quais são os impactos dessas políticas neoliberais?
Maria Francisca Elgueta: Bem, vou começar com o impacto que tem a ver com a realidade do Chile. Lá no Chile, ao longo de 1973, começa uma transformação, com a ditadura militar, então a política pública virou de uma presença forte do Estado a ser uma presença muito forte do mercado. As universidades públicas têm muitas cercanias, que são próprias do Estado. Então o que acontece com a transformação do nosso País com uma política neoliberal é que com o mesmo mercado de oferta e de demanda, perdendo a importância e o direito à educação, a educação já não é um direito, educação secundária. Além disso, a escola começa a ser uma oportunidade de mercado, então os estudantes têm que pagar pela educação. A educação pública como um direito já não existe, tem que pagar por isso, isso é uma política que atentou fortemente com as universidades públicas, porque tiveram que ser financiadas por elas mesmas e começar então a aprender com a natureza própria do público a conviver em uma realidade competitiva, em que não se garantisse o direito à educação.

Quais as consequências?
Eric Eduardo Palma: O mais forte propósito desta iniciativa é que os estudantes agora vão pensar sua educação como um projeto individual e vão se aproximar da universidade pública como um cliente, então nisso é o que o neoliberalismo entrou com força, porque a universidade pública tem uma missão de transformação da sociedade, de aporte na sociedade e o que faz o estudante é pensar no seu próprio projeto, que não é o projeto da universidade, nem do resto da comunidade. Então o individualismo e a competência são mais importantes que nós e que a realidade de todos nós, isso é uma das coisas mais fortes de olhar e de compreender neste processo.

Como está a situação da universidade pública no Chile?
Maria Francisca: No Chile, a universidade pública participa do mercado, porque senão o Estado não dá dinheiro para que ela possa fazer pesquisa, para que ela possa fazer internacionalização, a construção de edifícios, gestão de processos de qualidade, tudo o que tem que fazer; o Estado só dá 10% de todo pressuposto da universidade pública para sua manutenção, os 90% restantes a universidade tem que produzir, então o que acontece é que elas estão cada dia mais pobres; é muito difícil a situação produto do sistema neoliberal.

Eric: Há, neste momento, um pequeno retrocesso das políticas neoliberais, porque o movimento estudantil, a força da população, reclamando o término do lucro da universidade integral, algumas pessoas recuperaram o direito à gratuidade. O Estado se obrigou a investir mais na educação estatal, mas isso é resultado das lutas protagonizadas pelos estudantes, professores, para que a educação pública se torne novamente relevante e de qualidade e, ademais, gratuita. Estamos em processo de recuperação. O processo começou em 2011, quando foram pra rua multidões. O resultado disso foi a gratuidade, mas é como um voucher, o estudante escolhe a universidade. A pública recebe estudantes com gratuidade, mas as privadas também, então o dinheiro do Estado pra financiar a gratuidade da educação vai também para universidade privada, porque se logrou a gratuidade, mas se mantém o conceito do voucher, no qual eu vou para instituição que eu goste.

Em geral, as universidades trabalham no tripé ensino, pesquisa e extensão, mas muitas vezes parece que as pesquisas ficam apenas dentro da instituição e a população não vê os resultados. Os senhores concordam?
Maria Francisca: Temos diferentes tipos de pesquisa, a básica e a aplicada. A básica tem a ver com linhas de pesquisa em que a universidade vai produzir conhecimento que não tem a ver com as necessidades do mercado, o que se faz é pesquisa pra produzir novo conhecimento preciso pras disciplinas. A pesquisa aplicada é aquela que terá conexão com as necessidades da população ou as necessidades do mercado. Então, a comunicação que deve fazer a universidade tem que ser de ambos os tipos, mas é necessário compreender que a pesquisa é uma forma de transformação da realidade, por isso tem que ter relação com a transformação do País. Lograr fazer boa pesquisa e comunicação com a realidade implica uma gestão do conhecimento muito complexa, então a universidade tem que ter uma profunda relação com a realidade. Penso que a universidade pública sempre tem aquela dificuldade, sempre tem que dar mais, sempre é pouco para o País, sempre é insuficiente.

Eric: O grande problema do neoliberalismo é que esta universidade completa, que investiga, é muito cara e implica gasto para o Estado. Então se promove uma ideia pobre de universidade e no sentido de que só se pode fazer docência, formar profissionais e basta isso, não requer as outras tarefas. É empobrecida porque não se necessita gastar com outras coisas como internacionalização, extensão – vinculação com o meio social, investigação. Basta a docência.

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