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Francisco Beltrão
sexta-feira, 30 de maio de 2025

Edição 8.215

30/05/2025

Turmas em vários bairros garantem a jovens e adultos o acesso à educação

As aulas são praticamente diárias em várias escolas públicas.

Na cidade de Francisco Beltrão dezenas de estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA) também iniciaram o ano letivo no dia 5 de fevereiro. São pessoas de todas as idades que frequentam as 13 turmas espalhadas pela cidade.

As turmas de EJA contam com jovens, homens e mulheres que por algum motivo não concluíram seus estudos e agora retornam aos bancos escolares em busca da formação. A secretária municipal de Educação, Mariah Ivonete Silva, relata que o município é responsável pela EJA Fase 1, que consiste na alfabetização. São atendidos alunos que nunca frequentaram a escola e os que não conseguiram concluir os estudos.

As aulas são diárias, à tarde, ou à noite. A Prefeitura de Beltrão disponibiliza professores efetivos da rede municipal, garantindo ensino de qualidade. As turmas da EJA funcinam nos colégios estaduais Tancredo Neves (Pinheirinho), Léo Flach (Padre Ulrico) e João Paulo 2º (Bairro Júpiter), nas escolas municipais Higino Pires Neto (Bairro Sadia), Recanto Feliz (Pinheirinho), Madre Boaventura (São Miguel), Germano Mayer (Marrecas), Francisco Manoel da Silva (Novo Mundo), Pedro Algeri (Seminário) e Bom Pastor (Luther King), além de uma turma no Ceebja (Centro) e outra no Centro Catequético do Bairro Padre Ulrico.

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Uma das 13 turmas da EJA espalhadas pelas escolas estaduais e municipais da cidade.

Muitas histórias
No Bairro Padre Ulrico estuda a turma da professora Carmem Sandra Guidini, que se sente realizada em trabalhar com adultos: “Estou quase me aposentando e há três anos resolvi encarar esse desafio, que está sendo a coroação do meu trabalho como professora. São muitas histórias e lições de vida que aprendo com meus alunos. Nesse processo acontece a verdadeira troca de aprendizagem”, comenta a professora.

Quem não terminou os estudos e deseja frequentar as aulas da EJA, basta procurar uma das escolas citadas, a Secretaria Municipal de Educação ou ligar para (46) 3520-2140. “Muitas pessoas que não tiveram a oportunidade de estudar ou de concluir os estudos na idade considerada ideal, aproveitam a oportunidade através da EJA.

Nosso objetivo é que todos os beltronenses sejam alfabetizados, por isso a administração municipal disponibiliza a estrutura necessária”, finaliza a secretária Mariah.

Nos últimos anos, a conclusão do Ensino Médio passou a ser exigida por diversas empresas do comércio e indústria. Há empresas que antes da contratação de novos funcionários já expõem que necessitam de pessoas com Ensino Médio completo ou que tenham curso profissionalizante de nível médio.

 

Sirlei: sonho é cursar uma faculdade.

“Ainda vou fazer faculdade”, diz dona Sirlei

Por Flávio Pedron
Dona Sirlei Barbosa de Morais Silva, 43 anos, tem uma história de superação. Sua família era humilde. Na década de 1980 ela e os irmãos perambulavam pelas ruas e casas da cidade de Francisco Beltrão pedindo esmolas. Os pais tiveram oito filhos e moravam debaixo da ponte do Rio Marrecas – onde hoje tem a trincheira da PR 483. Há 25 anos está casada, tem quatro filhos, trabalha e está cursando o Ensino Fundamental 1, na Escola Municipal Francisco Manoel da Silva, do Bairro Novo Mundo, em Beltrão.

Sirlei cursou até a 3ª série do Ensino Fundamental no Colégio Estadual Reinaldo Sass, do Bairro Alvorada. Lembra que, na década de 80, levava corridões de pessoas por estar nas ruas e casas pedindo esmolas. “Nós vivia desse jeito”, relata. Poderia ter optado por caminhos tortuosos na vida, mas conseguiu mudar de vida. “Tivemos muita oportunidade de ser gente que não presta”, conta.

Sirlei ficava na frente de uma churrascaria, ao meio-dia, para pedir auxílio às pessoas. “Ficava na frente, no murinho, esperando por comida. Essa foi a nossa vida [na infância e adolescência].” Hoje atuando como serviços gerais na Escola do Novo Mundo e aluna da turma do EJA, ela lembra o período de dificuldades da família. “A gente passou por muita necessidade. Chegava na casa das pessoas e elas perguntavam: o teu pai ou mãe não trabalham?”.

Sirlei lembra com carinho de uma pessoa que a ajudou na época da adolescência. “Eu nunca tive oportunidade de estudar, quem me acolheu foi a dona Onira Lopes. Ela me acolheu na casa dela. O que eu sei, eu devo a ela”, fala, em tom de reconhecimento.

Sirlei cresceu, casou há 25 anos, teve filhos e passou a trabalhar para ajudar no sustento da família. Depois dos 40 anos de idade sentiu a necessidade de voltar a estudar. E tem conseguido superar as dificuldades. “Eu agradeço sempre a Deus”, afirma, sobre as oportunidades que recebeu ao longo dos anos.

A garra de viver e superar as dificuldades é reconhecida pelos filhos e o marido de Sirlei, que quer o melhor para todos. “Eu tento fazer o melhor, os meus filhos se espelham em mim. Eu nunca escondi dos meus filhos o meu passado. A minha maior felicidade é ver eles seguir nos estudos, formados e ter uma profissão. Não tem profissão diferente, tudo é igual, toda profissão é digna.”

Como voltou a estudar
Ela voltou a estudar em 2019. Estava trabalhando na Escola Municipal Madre Boaventura, do Bairro São Miguel. Alguém falou pra ela que tinha uma turma à noite do EJA e ela decidiu encarar o desafio de voltar a estudar. Atualmente trabalha e estuda na Escola Francisco Manoel da Silva, do Bairro Novo Mundo.

Na turma do EJA, à noite, são dez alunos, todos adultos e casados. “À noite a gente presta mais atenção, não tem fuzuê. A gente tá ali porque gosta. Passa o tempo que a gente nem vê.” A aluna elogia sua professora da turma, a Vandicleia: “Ela é paciente pra explicar. Também ensina os alunos como falar o Português correto.” Sirlei cursa, no momento, a 3ª e 4ª séries. Em 2019, no 2º ano, Sirlei tinha muita dificuldade para reaprender Matemática, mas a professora está lhe ensinando. “No começo, pra escrever com caneta, meu Deus do céu! Agora, tá indo bem, vai da prática.”

Sonho da faculdade
Sirlei é de conversa fácil e lembra, também, do período em que trabalhou na Apae. “Eu sou muito criativa. Sempre digo: se eu for alguém na vida, eu queria ser professora de Educação Especial. É tão bom trabalhar com eles. O valor, o carinho, que eles te dão. Tinha um sinhorzinho lá que vem te chamar de mãe, de dar bênção, o trabalho mais gratificante que eu tive.”

Um espelho?
Na Escola do Bairro Novo Mundo ela trabalha na limpeza. Gosta de cozinhar, mas não pode porque não é sua função. Ela tem uma colega com que estudou na década de 1980, fez faculdade, passou em concurso público e hoje é cozinheira em sua escola.

Ela parece centrada nos estudos. “Eu não vou perder meu tempo, eu quero ser melhor. Eu tenho que aprender mais, pra me capacitar. Num negócio desse [cargos na Prefeitura] é só com estudo.” Por isso, nesta etapa, a meta dela é concluir o ensino fundamental. No final da entrevista, avisa: “Quero ter o prazer de fazer uma faculdade. O primeiro passo eu já dei. Eu ainda vou chegar lá.”

Sirlei até convidou o marido pra voltar a estudar. Mas ele trabalha como marroeiro – profissão de quem trabalha com calçamento – e chega em casa, no fim da tarde, sempre cansado.

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