Educação

Mayara Regina Pereira,
psicopedagoga clínica e institucional.
Por Mayara Regina Pereira
A realidade vivenciada em tempos de Covid-19 nos levou a incorporar certos hábitos até então pouco discutidos sob a ótica atual, principalmente no que se refere à utilização e ao uso saudável de eletrônicos na infância. A educação escolar passou a ter a sua via de acesso nesses recursos que tanto discutíamos em seus benefícios e prejuízos, porém, muitas reflexões que até então estavam silenciadas na vida cotidiana vieram à tona.
Isso tudo nos leva a analisarmos todas as esferas atingidas. No contexto da educação, temos professores que estão se reinventando a cada dia para fazer aulas e pensar propostas que cheguem ao entendimento de seus alunos; pais com rotinas de trabalho, afazeres de rotina, filhos para acompanhar em suas atividades e necessidades básicas; crianças e adolescentes aprendendo a lidar com ferramentas e contextos de aprendizagens diversificados e, em meio a tudo isso, a nossa bagagem emocional tentando entender o que é esse tal de Covid-19 e como chegou em nossas vidas trazendo tantas mudanças.
Para tentarmos buscar respostas a algumas de nossas indagações, nos referimos às evidências científicas, que tanto foram testadas, estudadas e analisadas. Quando nos referimos ao uso de eletrônicos, evidências científicas mostram que programas educativos de TV são eficazes em ensinar crianças a resolver problemas cotidianos, promover desenvolvimento de vocabulário e potencializar habilidades escolares, contudo, também existem evidências claras demostrando que o uso incorreto de eletrônicos pode levar as crianças a desenvolverem problemas de saúde física e mental.
Falando em tempo médio por dia que uma criança pode utilizar-se de eletrônicos, em idade de 2 a 5 anos, seria de uma hora, já de 3 a 13 anos seria de três horas, porém, a grande questão está que essa carga horária recomendada deve ser supervisionada pelos pais ou responsáveis, valendo de intervenção constante para aquilo que é absorvido pela criança.
Estudos apontam que pais que sentem maior estresse na orientação de seus filhos tendem a controlar pouco o tempo de uso de eletrônicos e, em geral, as crianças fazem uso direto de 2 horas/dia e indireto de 4 horas/dia (um total de cerca de 6 horas/dia de exposição), o tempo de exposição é inversamente proporcional ao nível de instrução dos pais.
Mas como tirar proveito disso tudo em relação ao momento que estamos vivendo? É possível o uso saudável dessas ferramentas para as orientações voltadas à educação e às atividades escolares?
Práticas podem ser adotadas por parte da família e assim contribuir para uma efetividade durante um dia da vida de uma criança, afinal, a infância é um período crucial do desenvolvimento humano, pois nele se formam diversos hábitos que o indivíduo mantém ao longo de sua vida.
Dentre as práticas sugeridas estão monitorar o tempo, tipo, conteúdo e horário para essa exposição. Usar conjuntamente em família, sob a orientação, educação e favorecimento da potencialização de efeitos benéficos.
Quando esse monitoramento acontece por meio da orientação, tem-se por consequência promover o uso de programas educativos e apropriados melhorando habilidades sociais, conhecimentos gerais e comportamento. Ao assistir programas com os filhos, os pais têm a oportunidade de selecionar os programas e demostrar seu prazer em ver determinados programas, sendo que suas escolhas influenciam as das crianças.
Ver programas que ensinam matemática, que promovem a leitura, que estimulam proteção à natureza e principalmente que ensinam boas práticas de saúde, sociais e comportamentais junto com os filhos determinam a preferência dos mesmos por este tipo de programa ao longo da vida.
A educação refere-se nesta orientação ao explicar aos filhos os conceitos, conteúdos e contextos durante o uso conjunto de eletrônicos, aprimorando o entendimento e evolução cognitiva das relações humanas das crianças, bem como sua relação com o meio ambiente. Programas educativos auxiliam os pais no direcionamento da educação dos filhos, muitas vezes trazendo assuntos que não seriam abordados sem esta interferência.
Para chegarmos a um ponto comum? Fica evidente que programas de conteúdo apropriado, usados conjuntamente por pais e filhos, com tempo de uso controlado, têm efeitos benéficos comprovados em vários aspectos do desenvolvimento mental e físico. E isso se evidencia no momento atual, ao passo que o Covid-19 nos trouxe outros olhares à educação e ao mundo como um todo, mas ao que se refere especificamente ao meio da aprendizagem, ficou explícita a individualidade de cada ser aprendente.
Usar eletrônicos faz parte da vida moderna, mas como toda vivência do ser humano, deve ser orientada e educada para que os hábitos permitam um lazer saudável e seguro nos seus aspectos físicos, mentais e sociais.
O trabalho do psicopedagogo mostra essas evidências em sua prática clínica, já que a educação escolar passa por várias especificidades, e, diante de turbulências e incertezas, podemos voltar o nosso olhar neste contexto, valendo-se de todos os envolvidos com a criança e o adolescente, para que o vínculo com a aprendizagem não seja rompido.
Mayara Regina Pereira, psicopedagoga clínica e institucional.