Esporte
A vida de um jogador de futebol é sempre envolta de aventuras, glórias, insensatez e de desfechos que surpreendem as expectativas. Quis o destino que Adriano Borçatto, o “Testinha”, seguisse um roteiro idêntico. Natural de Marmeleiro, começou pequeno nos gramados. Com 7 anos, integrava as escolinhas do professor Airton Neri. Despontou de vez aos 13, quando migrou para o Rio Grande do Sul, mais precisamente para Santo Ângelo, terra de um clube homônimo, na época da 2ª divisão estadual.

Ulbra: e se?
O talento de Testinha – que ganhou o apelido por conta da alcunha do irmão, Alison, conhecido como “Testão” – atraiu olhares. Não demorou para que viesse a convocação para a Seleção Gaúcha de Juniores e a transferência para a Ulbra, clube de Canoas (RS). No entanto, a ausência de categorias de base incomodou o então garoto. “A Ulbra tinha uma das melhores estruturas do futebol gaúcho. Mas eu era novinho, cabeça fraca. Só treinava com o profissional e não tinha campeonato para jogar. Eles iriam montar o júnior no ano seguinte, então o pessoal de Santo Ângelo me ligava e pedia para voltar e terminar o campeonato com eles.”
A inatividade seguida pela saudade do ex-time gerou uma decisão brusca, que por sua vez trouxe arrependimento. “Numa noite peguei o ônibus e fui embora. Não avisei ninguém. Depois descobri que o cara que me levou para a Ulbra não seguraria por lá. Ele tinha uma conversa adiantada com o Fluminense, com o mesmo empresário do Thiago Silva, que já havia me visto jogar”, recorda.
De Beltrão ao Paraná
Após a nova passagem pelo Santo Ângelo, Adriano chegou ao Beltrão FC. Com 15 anos, treinava com os profissionais, num plantel que tinha Wilson Cezario (atual colega de futebol amador) e Tadeu Martins (pai de Diego Tardelli) como treinador. Nas categorias de base, ganhou protagonismo numa campanha histórica. “Fui um dos artilheiros. Na época, Beltrão nunca havia vencido um time da capital, em Curitiba. E nós ganhamos do Paraná, lá, com um gol meu.”
Mais uma vez, as possibilidades se abriram para Testinha, com o interesse de Coritiba e Paraná. Ele escolheu o segundo, que na ocasião integrava a Libertadores. No Tricolor, atuou no elenco principal, mas perdeu espaço por conta de uma lesão. “Rompi um ligamento do joelho, fiquei afastado quase um ano. Quando retornei fui para o Chile, no Everton, na Primeira Divisão. A experiência foi boa. Voltei, joguei a 2ª Divisão do Gaúcho por Atlético Carazinho e 14 de Dezembro.”

Aposentadoria precoce
A carreira acabou em 2011, com 21 anos. “É inacreditável, né? Cheguei do Rio Grande num dia e coloquei na cabeça que não queria mais. Tinha muita proposta para jogar a 2ª Divisão, até do futsal da Itália. Não fui mais e parei.”
O motivo? Desilusão. “O que me desanimou foi sair de um time grande e rodar por pequenos do interior. O salário é menor e muitas vezes você nem recebe. Pagam um mês, dois, o terceiro não”, declara. Nessa época, ele conheceu a esposa, Rosângela. Juntos, fixaram residência em Verê e depois partiram para Dois Vizinhos. Abriram uma loja de confecções, que ficou sob a batuta de ambos por seis anos.
O casal tem um filho: Davi Lucca. O ex-atleta profissional vê no menino de 7 anos um craque em construção. “A minha relação com o Davi é uma coisa de outro mundo. Ele ama o futebol. Treina todos os dias na escolinha do Verê, no Marreco e no Atletas do Futuro. Tenho a experiência de desde os 12 anos estar fora de casa jogando bola, acho que era uma época mais difícil, e posso mostrar no que errei pra ele tomar como lição.”
Ele afirma, inclusive, que Davi o ajuda a não lastimar as decisões do passado. “Não me arrependo tanto, mas vejo amigos reservas meus no Paraná e que hoje estão no Grêmio, Flamengo, Botafogo, Vasco: Rodrigo Pimpão ganhou muito dinheiro, Giuliano está no Corinthians, Éverton defendeu Grêmio e Flamengo, Elvis foi para o Goiás.”
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Futebol amador
Hoje, Adriano mora em Dois Vizinhos, trabalha numa cerealista local, mas tem título de eleitor em Francisco Beltrão, o que o possibilita participar das competições do município. Entre elas, a Copa Ação TV/Farmácias Brava. Ele é uma referência no ataque do Atletas do Futuro/Inovatta: anotou um gol, deu uma assistência e ajudou a colocar a equipe na final, agendada para domingo, 12, no Estádio Anilado.
Desde 2011 atuando no futebol amador da região, jogou o Campeonato Regional por Tarumã, de Nova Prata do Iguaçu (por cinco anos), Braguá, de Santo Antônio do Sudoeste, além de Nova Esperança e Verê. No varzeano beltronense, é fiel ao Nova Concórdia. Sempre defendeu a equipe e só aceitou vestir as cores do Atletas do Futuro por conta da ausência da outra agremiação. E pode ser pelo clube de Altamiro Dias, o Fio, que ele alcance o primeiro título amador. “Fui vice do regional por duas vezes com Nova Prata e outra com Verê. No varzeano, perdi uma decisão para o Jacaré.” Testinha elogiou a organização da Copa Ação TV/Farmácias Brava. “É dos campeonatos mais gostosos que joguei.”