Futsal de Beltrão foi eliminado fora das quadras
O futebol de salão beltronense começou a temporada 2009 despertando inveja em muitas cidades com equipes de destaque e tradição no esporte. No início do ano, tínhamos dois times aptos a disputar – e bem – o Campeonato Paranaense Série Ouro: o ?recém-nascido? Marreco Futsal, campeão da Série Prata em 2008, e o Beltrão Futsal, que chegou às quartas-de-final no ano passado.
Com o início da preparação e a chegada de alguns jogadores, começaram a surgir também os primeiros problemas. Houve grande especulação para unificação dos dois times, pretendendo formar apenas o Beltrão Futsal, atitude que fundamentou a primeira crise do ano. Não consolidada a fusão, após alguns dirigentes do Marreco não aceitarem o acordo e insistirem – com razão – em manter o grupo, cada um seguiu seu rumo.
O Marreco se radicou em Renascença, representando a cidade e em busca do bicampeonato na Série Prata, destacando-se em muitos jogos e se fortalecendo, como que para mostrar: olha o que vocês perderam. E perdemos mesmo.
Já o Beltrão enfrentou sua segunda batalha, ainda fora de quadra, contra a administração municipal. Buscava garantir os recursos que dariam suporte à equipe, para bancar as viagens, os salários dos jogadores e da comissão técnica, entre outras. Esbarrou em empecilhos apresentados na Câmara de Vereadores, que votaria a proposta do repasse de R$ 15 mil mensais para estes fins, mas conseguiu a aprovação.
O campeonato começou e as atenções se voltaram aos primeiros confrontos. A guerra continuou fora das quatro linhas: a ajuda mensal não veio. Jogadores chegaram, outros saíram, alguns foram embora e mudaram de ideia, se reapresentando, até mesmo o técnico pensou duas vezes se valia a pena prosseguir. O time oscilou entre boas atuações contra adversários fortíssimos, como Umuarama, São Miguel e Pato Branco, e períodos de má-fase, que não se detinham apenas ao ginásio.
Acompanhar os jogos significava mais do que torcer e apoiar. Em cada partida disputada se via a superação no rosto dos atletas, que foram verdadeiros guerreiros. Vestiram a camisa e, acima de tudo, mostraram que jogam por amor e com o coração. Ou alguém gosta de trabalhar de graça? Sem contar que a maioria não tem família na cidade, portanto, poderiam muito bem abandonar a equipe e voltar pra casa. Mas o caráter prevaleceu. Exemplo disso foi a convocação do pivô/ala Mauricinho à seleção paranaense, que ficou em segundo lugar no Campeonato Brasileiro de Seleções, disputado em agosto, em Aracaju (SE). Voltou com a garra de sempre, se destacando e dando o melhor de si a cada jogo. Muitas vezes, o time entrou em quadra com apenas seis jogadores à disposição do comandante Fabinho Gomes. O cansaço era uma constante, pois, além dos jogos, havia treinos e viagens. A equipe mostrava dedicação e vontade de vencer sempre, como se o resultado positivo aplacasse as dificuldades do lado de fora. E o esforço não era apenas físico. A pressão para conquistar vitórias e chegar mais longe se somava às barreiras enfrentadas pela falta de pagamento e à incerteza quanto ao futuro do grupo.
Na partida derradeira, em Maringá, contra o time da casa, valendo vaga para as quartas-de-final, o elenco, mais uma vez, era limitado. Fudil viajou, mas não jogou, estava machucado. Outros sete jogadores entraram em quadra para fazer o que estivesse ao seu alcance, para lutar até o último minuto. O resultado não veio.
Infelizmente, como bem disse o jornalista Luiz Carlos Bággio, heroísmo não basta, e merecimento não ganha campeonato. Sem dúvida os atletas se superaram e, de sua parte, nada devem aos beltronenses e aos torcedores. Ainda irão disputar a fase final dos Jogos Abertos, formando uma ?seleção municipal? com alguns jogadores do Marreco, o que nos faz sentir ainda mais orgulho de ter uma equipe comprometida e extremamente profissional representando a cidade.
Com certeza a dívida maior é por parte daqueles que prometeram e não cumpriram, dos que disseram apoiar e recuaram nos momentos difíceis, de quem não soube planejar e se omitiu quando poderia mudar a situação.
Aos demais, cabe reconhecer a bravura, a dedicação e tantas outras qualidades que essa equipe tem, agradecer por abraçar o nome do município e levá-lo ao Estado, e torcer para que pessoas comprometidas com o esporte tomem a frente e se dediquem ao futsal, para que, no ano que vem, as lutas sejam apenas dentro da quadra.
Aline Leonardo, acadêmica de Letras da Vizivali e estagiária no Jornal de Beltrão.