Aos 37 anos de idade, o jogador ainda quer jogar mais uma temporada antes de se aposentar.

“O Figueirense contratou mais um reforço para o Campeonato Brasileiro de 2002. Para as próximas partidas o alvinegro contará com o atacante Marcelo Régis de Souza, de apenas 19 anos, que já treinou com a equipe no Centro de Treinamento do Cambirela, na Palhoça, nesta quinta, dia 26. O jogador foi campeão da segunda divisão do estadual paranaense pela equipe de Francisco Beltrão, cidade natal de Marcelo. O atacante, que se profissionalizou no ano passado, vai jogar pela primeira vez um torneio de elite do futebol brasileiro. Marcelo afirmou à rádio CBN/Diário que a velocidade é a sua maior característica em campo, preferindo cair pelas pontas. O atacante está há uma semana parado e vai realizar exames físicos.” Esse texto é de um recorte de jornal que o atacante beltronense Marcelo Régis de Souza, 37 anos, guarda com muito carinho em suas lembranças de uma carreira que está prestes a completar 20 anos no futebol. Em 2002, ele foi uma das grandes apostas do técnico Jairo Scheid (já falecido) no título do Francisco Beltrão FC da Segunda Divisão do Paranaense. Inclusive, Marcelo fez gol na final da competição, contra o Paranavaí. “Eu estava acertando pra jogar o Paranaense de Juniores pelo Pato Branco quando surgiu essa proposta do Figueirense. Fiquei surpreso, mas fui pra Florianópolis. Cheguei no meio da temporada e, quando me dei conta, estava jogando ao lado de um de meus ídolos no futebol, o atacante Evair, que fez história no Palmeiras, meu clube do coração. Isso até rendeu uma matéria na revista Placar, outro recorte que guardo com carinho”, comenta Marcelo Régis, que segue se recuperando de uma fratura na costela, que perfurou seu pulmão direito em jogo da Primeira Divisão do Paranaense de Futebol, pelo União, no Anilado. Quem treinava o Figueirense em 2002 era Muricy Ramalho, que deu a primeira oportunidade para Marcelo Régis. Na época, Dorival Junior era supervisor da equipe catarinense. “Era muita coisa nova pra digerir ao mesmo tempo. Eu ouvia muito que eu estava jogando porque sou filho do Valdir de Souza, sobrinho do Natalino de Souza, então pra mim foi uma prova sair daqui e aceitar aquele desafio”, lembra-se Marcelo, que com apenas 19 anos estava jogando a Série A do Campeonato Brasileiro.
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Gol que poderia ter mudado a sua vidaEm 2002, nas oitavas de final da Copa do Brasil, o Figueirense enfrentou o São Paulo de Rogério Ceni. No Orlando Scarpelli, em Florianópolis, a equipe catarinense venceu por 3 a 1. “Eu fui titular nesse jogo, estava bem na partida, aí surgiu uma chance na cara do Rogério Ceni e eu desperdicei. Sempre fico pensando o que seria da minha carreira se tivesse feito aquele gol. Talvez pudesse ter ido mais longe no futebol, dado voos maiores. Mas são coisas que acontecem”, lembra-se Marcelo Régis. Mais tarde, em 2009, pelo Campeonato Paulista, o Mogi Mirim derrotou o São Paulo de Rogério Ceni por 2 a 0, com dois gols de Marcelo Régis, que foi para a seleção da rodada do estadual ao lado de Ronaldo Fenômeno, que naquele final de semana marcou três gols pelo Corinthians. “Aquele jogo foi incrível, deu tudo certo. Fiz o meu primeiro gol sem querer da minha vida. Até o cinegrafista achou que o gol era do Sales, que desviou a bola. Só depois se deram conta que o gol era meu. Foi uma temporada muito boa, joguei ao lado do Giovanni, que jogou no Santos e Barcelona. O presidente do Mogi Mirim naquele ano era o Rivaldo, que ainda estava em atividade, mas era o presidente.”
Ida para o AthleticoApós fazer uma grande temporada no Figueirense, com menos de 20 anos de idade, Marcelo Régis assinou com o Athletico, com um contrato de cinco anos. “Quando eu estava no Figueirense, tinha proposta pra ficar mais um ano e tinha outros três interessados: Vitória, Flamengo e Athletico. O Flamengo era uma época que o time não pagava ninguém, mas era o Flamengo. O Athletico tinha sido campeão brasileiro em 2001, estava bem organizado, e foi a opção que escolhi, com cinco anos de contrato. Foi uma negociação boa pro meu empresário na época, porque só depois que cheguei em Curitiba que fui saber que não poderia mais jogar naquele ano devido ao fato de já ter jogado mais de sete partidas pelo Figueirense. Então eu praticamente fiquei encostado em 2002. Aí em 2003, eu fui campeão da Copa Sesquicentenário com o Athletico, aí eu joguei, participei bastante. Mas depois não tive mais espaço, queriam me emprestar e eu acabei pedindo a rescisão para acertar com o Galo Maringá, que na época era treinado pelo Ivair Cenci”, comenta.
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Chegando como ídolo no FortalezaEm 2012, talvez Marcelo Régis estivesse no auge de sua carreira. Após várias temporadas de sucesso no futebol carioca, jogando por Resende e Volta Redonda, o atacante foi apresentado como grande contratação no Fortaleza, que na época disputava a Série C do Brasileiro, mas já tinha uma grande estrutura. “No Ceará eles assistiam muito o Campeonato Carioca, então já conheciam o meu futebol, eu só não fiz gol contra o Botafogo dos grandes do Rio, fiz contra Flamengo, Fluminense e Vasco. Mas eu fiquei surpreso com a minha recepção, fui recebido pela torcida e até pelo presidente no aeroporto. Parecia um sonho, foi um dos meus melhores salários na carreira, tudo que eu pedi eles me deram, tinha dois anos de contrato, ganhei luvas, me colocaram morando num apartamento beira mar. O problema é que não consegui desenvolver meu futebol, eu não conseguia acreditar. Eu me esforçava, fazia de tudo, mas a bola não entrava. O Vica era o técnico e queria insistir pra eu jogar, mas teve um jogo que eu pedi pra não jogar, foi a única vez que isso aconteceu na minha carreira. Eu passei cinco jogos numa pressão danada, eu pegava na bola e recebia vaias de 40 mil pessoas nas arquibancadas. Ninguém consegue reverter uma situação como essa. Você perde confiança, não se sente à vontade, tudo atrapalha. Fiquei seis meses no time e pedi pra sair, minha mulher queria me matar, pois a gente tinha uma vida muito boa lá, mas eu não conseguia jogar”, afirma o jogador.
Outros clubesAlém de duas passagens pelo Francisco Beltrão FC, em 2002 e em 2005, e uma passagem pelo União, em 2019 e 2020, Marcelo Régis passou pelos seguintes clubes: Figueirense (SC), Athletico (PR), FC Oberneuland (ALE), FC Lustenau (AUS), Mogi Mirim (SP), Atlético de Ibirama (SC), Brasil de Pelotas (RS), Uberlândia (MG), Resende (RJ), Volta Redonda (RJ), XV de Piracicaba (SP), Cabofriense (RJ), Fortaleza (CE), Caldense (MG), Metropolitano (SC), Nacional (MG), Patrocinense (MG) e Serrano (RJ).
Gol mais importanteMarcelo Régis já fez gol no São Paulo de Rogério Ceni, no Flamengo de Ronaldinho Gaúcho, no Vasco de Carlos Alberto, no Fluminense de Rafael Moura, no Atlético-MG de Victor, fez 13 gols no Catarinense pelo Atlético de Ibirama, quando Leandro Damião era seu reserva, mas, na opinião dele, nenhum é mais importante que o gol de pênalti marcado em 2019 pelo União, contra o Prudentópolis, na vitória por 1 a 0. O gol deu o acesso ao time de Francisco Beltrão. “Aqui é diferente, eu sou daqui, tenho que dar a minha cara a tapa. Quando eu peguei a bola e fui bater, senti uma pressão muito grande. Eu sabia que se perdesse o gol, podia mudar pra Pato Branco, que iam xingar até a minha quinta geração. Mas eu estava confiante e, graças a Deus, consegui fazer o gol. A comemoração foi um desabafo, guardo essa foto com muito carinho, é uma das melhores da minha carreira. Eu bati três pênaltis contra o goleiro Rudi, do Prudentópolis, os três no mesmo lado. Ele sabia como eu batia, foi bem na bola também, mas deu tudo certo no final.”
“Quase morri de bobeira”O último jogo de Marcelo Régis foi no Paranaense 2020 contra o Operário, de Ponta Grossa. O jogador levou uma cotovelada, fraturou duas costelas e perfurou o pulmão. Mesmo assim, permaneceu em campo durante 15 minutos e ainda deu entrevista no final do jogo. “Eu, sempre querendo dar uma de durão, fui pra casa após o jogo, não conseguia respirar, o osso espetava o pulmão, aí eu fui pro hospital. Minha esposa nunca me viu chorar, mas dessa vez não teve jeito. Quando cheguei no hospital, me apavorei. O doutor falou que meu pulmão direito, 80% já tinha ido pro pau. Podia dar uma parada cardíaca ou uma embolia pulmonar. Quase morri de bobeira”, diz o jogador, que ainda se recupera dessa lesão. Em 2020, ele não espera voltar a atuar, mas não se aposentou ainda. “Esse ano, além da minha lesão, tem toda essa situação do coronavírus, eu estou me cuidando bastante, porque minha imunidade tá debilitada. Esse ano já me conformei que não jogo mais. Mas ainda quero jogar em 2021, minha última temporada. Depois no final do ano pretendo fazer um jogo com meus parceiros da bola pra encerrar. Aí vou estar realizado profissionalmente.”
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