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Francisco Beltrão
quinta-feira, 29 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Mochila nas costas e muita reflexão nos 200 km dos Caminhos de Caravaggio

O personal trainer Magnus de Sousa compartilha um pouco da experiência que viveu nessa caminhada.

O personal trainer beltronense Magnus de Sousa concluiu a jornada dos Caminhos de Caravaggio, no RS, e conta como foi a experiência de fazer os 200 km.

O desafio de percorrer os 200 km dos Caminhos de Caravaggio — percurso turístico-religioso que passa por cinco municípios do Rio Grande do Sul — foi completado com sucesso pelo personal trainer Magnus de Sousa e os colegas: as advogadas beltronenses Liliane Grunh e Kelly Cardoso e os catarinenses Mhanoel Mendes e Derci Wotmeyer, estes experientes em longas caminhadas.

A saída para a trilha aconteceu dia 18 de setembro, em Canela, e a chegada, dia 26, em Farroupilha, trajeto feito para dez dias, mas que eles completaram em nove. Mas a preparação começou muito antes, especialmente para Magnus, Liliane e Mhanoel, que planejavam fazer o Caminho de Santiago de Compostela, entre Espanha e França. Esse sonho foi adiado para 2021 por causa da pandemia do novo coronavírus, mas o pessoal aproveitou o planejamento para percorrer o caminho gaúcho e fazer um “treinamento” para os 820 km que vêm pela frente.

“O Manoel fez o convite para os Caminhos de Caravaggio, até então eu não tinha feito uma caminhada de, em média, 25, 28 km por dia mais que três dias consecutivos. Então, seria nosso grande desafio percorrer 200 km em nove dias, até para a gente saber como é levar a mochila nas costas, material, como organizar a mochila, como é o terreno, calor, chuva, alimentação, lavar roupa… A minha mochila, por exemplo, estava pesando por volta de 9,5 kg, tava um pouquinho acima do que eu deveria carregar, então era uma experiência nova pra gente”, conta Magnus.

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Numa matéria publicada dia 23 de setembro, o JdeB mostrou como estava sendo a experiência no meio do caminho. Nesta edição, o relato é de algumas reflexões e a realidade que o personal viveu nas estradas dos Caminhos de Caravaggio.

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JdeB – Como foram esses dias de caminhada?
Magnus – O caminhar é uma coisa interessante, porque a gente acha que é uma atividade tão simples, ela tá no alcance de todas as pessoas, mas, assim, a gente é bípede e não aproveita a nossa composição física para caminhadas, cada vez mais nós estamos nos movimentando menos, estamos mais sedentários, e o caminhar é como reviver o que a gente já foi um dia, a gente foi feito para se movimentar. Quando a gente começa a caminhar, mesmo sendo vagarosamente, a gente vai chegar ao destino, mas começamos a desfrutar do caminho, a perceber a beleza ao redor, ter momentos de silêncio, de reflexão internamente. No fim do dia, a gente fazia uma certa partilha de como foi o caminho, conduzida pelo Mhanoel, para que não seja apenas um caminho físico, mas um caminho emocional. E a gente começa a se perceber um pouquinho melhor, os teus sentimentos vão ficando mais aflorados. Detalhes simples como ‘muito obrigado’, ‘volte logo’, ‘fique bem’, o sentimento de gratidão por tudo que aconteceu, a gente acaba deixando isso pela correria, infelizmente, e lá, durante a caminhada, é como se nós reativássemos isso, esse ser humano não tão automatizado.

Houve uma preparação física específica antes da viagem?
Eu e a Liliane já vínhamos fazendo uma preparação física, de mochila e chapéu caminhando pela cidade, debaixo do sol, para o Caminho de Compostela. Mas foi muito interessante porque, sendo personal trainer, tendo as minhas companheiras como alunas, uma que não fez a preparação específica, eu tive um parâmetro como treinador. E, aí, para mim também foi tudo muito novo, eu tenho experiência dentro da área de musculação, fisiologia do exercício e treinamento, mas eu não tinha percorrido nove dias caminhando, quem tinha experiência era o Mhanoel, então eu escuto quem tem experiência. Mas realmente a preparação física é de extrema importância, tem que ser específica, tem que ser caminhada, no terreno, muito parecida com que você vai enfrentar, subidas, descidas… É um conjunto, existe a preparação física, o material e a preparação psicológica, porque vai ter momentos que você vai dizer para si mesmo ‘que que eu tô fazendo aqui’, e aí a gente faz uma ligação do caminho mesmo ao nosso dia a dia, sempre existem situações desafiadoras que nós vamos ter que encarar com cautela, enxergar, desafiar e vai ter momentos que você vai ter que fazer isso, ninguém pode fazer por você.

Kelly, Liliane, Mhanoel, De e Magnus no dia da saída para a caminhada, em Canela.

 

Quais foram os momentos mais desafiadores para você?
Os desafios começaram com sair de Francisco Beltrão, do meu trabalho, para me dedicar a essa caminhada, porque eu tenho um compromisso muito grande com os nossos clientes, com a nossa equipe de trabalho, mas eu tive que pensar da seguinte maneira: eu peço sempre para as pessoas que se deem esse tempo, para que se cuidem, se preocupem consigo mesmas, e eu tava fazendo a mesma coisa, porque geralmente é fácil falar, mas, na prática… então eu tenho que dar o exemplo. O outro desafio é você se desligar de internet, de WhatsApp, não completamente, mas boa parte, para que eu pudesse fazer uma caminhada introspectiva mesmo, sem grande preocupação externa. É um caminho para dentro, é um caminho introspectivo, de que você precisa se olhar um pouquinho mais.

Que dica você daria para quem gostaria de iniciar nesse tipo de caminhada?
Eu sou suspeito, porque eu super-recomendo fazer uma peregrinação, que a gente chama esse tipo de caminhada, é um exercício de desapego, de autorreflexão, que, além de fazer bem para o próprio corpo, faz principalmente para mente. Dentre todas essas doenças, pandemias, patologias que surgem, as que mais me preocupam são as doenças mentais, a ansiedade, a depressão. Você fazer um exercício físico, que é uma questão nata do ser humano, próximo de uma paisagem linda, dando um tempo para si mesmo, carregando uma mochila de apenas aquilo que você possa carregar e ainda você tá respirando ar puro, é um remédio gratuito que tá ao alcance de qualquer pessoa. Para quem gostaria de iniciar esse tipo de caminhada, eu sugiro pequenos trechos inicialmente, vá buscando novas paisagens, vai indo para o interior de Francisco Beltrão, da região, tenha esse contato com a natureza, não faça correndo, porque nesse tipo de peregrinação, é uma velocidade no máximo quatro quilômetros por hora e, aí, gradativamente você vai aumentando seu percurso, vai adquirindo materiais específicos. O meu objetivo sempre vai ser com que as pessoas se movimentem cada vez mais. Foi uma experiência única e eu indico para quem quiser fazer, que não vai se arrepender.

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