19.6 C
Francisco Beltrão
domingo, 25 de maio de 2025

Edição 8.211

24/05/2025

Técnico Nei Victor, do Cascavel, diz que ‘a Liga Futsal é um campeonato mentiroso’

 

Ademir Augusto, da Rádio Onda Sul FM, entrevistando o técnico
Nei Victor antes do jogo entre Cascavel 6×5
Cresol/Marreco, sábado, dia 22, no ginásio da Neva.

 

O técnico do Cascavel Futsal é um dos mais respeitados da modalidade no Brasil. Sua história, seus números e títulos comprovam isso. Prestes a completar 50 anos de idade (21 de dezembro), o comandante não tem mais medo de dar declarações sinceras e, ao mesmo tempo, polêmicas. 

- Publicidade -

Sábado, dia 22, antes da semifinal em que venceu o Cresol/Marreco Futsal por 6 a 5 no ginásio da Neva, Nei Victor foi entrevistado pelo repórter Ademir Augusto, da Rádio Onda Sul FM, de Francisco Beltrão, e falou sobre assuntos como a Liga Nacional, a falta de ética de alguns dirigentes ao contratar jogadores e a forma com que monta seus times vencedores (são cinco títulos da Série Ouro: 2003, 2004, 2005, 2011 e 2012).

Onda Sul: Qual é o segredo para chegar a tantas decisões?
Nei Victor – Chegar à decisão é trabalhar, é montar a equipe certa, é ficar estudando os adversários durante o campeonato todo para você tirar atletas deles e trazer pra você, desde que ele tenha qualidade. Se você notar, eu dificilmente trago jogador de outro Estado, trago do Foz, Campo Mourão, Paranavaí, de Quedas do Iguaçu, são os reforços que eu tive este ano. Fico olhando. No Marreco tem três ou quatro jogadores que eu já estou observando, não vou negar. São atletas que servem na minha equipe, se tiver condições de trazer.Ninguém vai tirar atletas de lugar nenhum se não tiver condições melhores que ele já tem no momento. Como todo ano eu perco sete ou oito jogadores para times da Liga, aí tenho que remontar o time de novo. Acho que é trabalhar, olhar bem, ter experiência na hora de montar, escolher as pessoas certas, trazer atletas e não jogadores de futsal. Dentro da equipe não é só o Nei Victor, temos um preparador físico excelente, um auxiliar técnico excelente, um departamento médico muito bom e os patrocinadores sempre dando respaldo para você poder contratar e poder manter o ano todo o pagamento antecipado. Não é em dia no Cascavel, aqui é um dia antes, inclusive. Isso é que faz o time ser forte. Jogador gosta de ser bem atendido, receber em dia, afinal, você está trabalhando e tem que receber o teu salário. Tem que dar condições de trabalho, acho que isso nós oferecemos, tanto de viagem como de alimentação. E o que vocês fazem em Beltrão, em Cascavel é muito grande. Vocês trabalham com a rádio e a televisão. Nós, em Cascavel, temos 14 órgãos de imprensa. O atleta que vem aqui não tem como não ser visto, ou do lado positivo ou do lado negativo. Isso é um ponto favorável para o treinador, porque o atleta não vai se expor tanto na noite. Isso porque o cara chega e diz: ‘ó, Nei, eu vi o cara em tal lugar’. Porque todo mundo me conhece, estou há 17 anos no mesmo lugar. Estou na rua e chegam pra mim dizendo: ó, teu jogador estava na rua aprontando. Aí você vem aqui e manda o cara embora. Pronto.

Onda Sul – Existe a possibilidade de disputar a Liga Futsal no ano que vem?
Nei Victor – Acho difícil tentar a Liga, não tem vaga. A gente não consegue ter acesso a ninguém que queira vender. Algumas pessoas também são muito falsas dentro do futsal, a verdade é essa. Quando está com a vaga, eles falam assim: ‘se eu conseguir alguma coisa, falo pra você’. Aí consegue e aluga pra outro. Entendeu? E isso pra mim é falsidade. O Cascavel Futsal não gosta desse tipo de coisa. Só pra relembrar, quando vocês (o Marreco) vieram jogar aqui na primeira fase, houve uma discussão com o nosso supervisor e a gente foi procurar conversar depois do jogo, para que essas coisas não aconteçam, isso é algo tão chato para o futsal. Acho que nós temos que tratar vocês bem aqui, vocês tratarem nós bem lá, é o bem para o futsal. Aqui dentro, se o pau pegar, é problema de jogador, de treinador. Saiu daqui, acabou, não adianta mais. E na Liga Nacional é uma ilusão muito grande, eu estou meio decepcionado com a Liga. Acho que é um campeonato mentiroso, se você analisar os times que chegam são sempre os mesmos. Teve uma vez que o Rondon chegou (em 2010), que foi um acidente de percurso, que um jogador, faltando 12 segundos, acertou um chute e tirou o Corinthians. Se eu não me engano foi isso. E nós chegamos ano passado nas quartas de final e, quando era pra a gente classificar, nos tiraram no tapetão. Ganhamos do Orlândia de 4 a 1, empatamos na prorrogação e nós ficamos fora, o Orlândia classificou ganhando no tempo normal de 3 a 2. Rapaz, quando você está lá dentro, vê o quanto é difícil. Todo mundo sonha com isso por causa da mídia, mas não é tudo aquilo que as pessoas pensam. Eu acho que se os clubes paranaenses se reunissem e fizessem um Campeonato Paranaense forte, divulgado, com rentabilidade, com promoções para o torcedor, é muito melhor que jogar uma Liga. Porque você sai daqui e vai jogar lá em Minas, por exemplo. Sai daqui e vai até Minas Gerais para jogar para quatro pessoas assistirem. Vai em São Bernardo do Campo jogar e tem dez na arquibancada. Vai jogar em São Caetano, tem oito. Os jogos que são ao vivo, na televisão, parece que está lotado. Sabe onde que tá lotado? No Paraná. Vai nos jogos do Guarapuava, tá sempre cheio. Pega o Umuarama, não está cheio, mas tem metade do ginásio. Se o Marreco disputar, vai estar com a casa cheia. Então, pra que jogar com os de fora se eles não trazem atração nenhuma? A não ser o Falcão. Aí daqui um ano acho que o Falcão deve parar de jogar. E quem vai ser a atração para trazer o público? A Confederação não pensa nisso, a Liga não pensa. A hora que o homem (Falcão) parar, quem vai ser a atração para encher o ginásio?

Onda Sul – Nesta semana você postou nas redes sociais sobre a falta de ética de alguns dirigentes em relação a contratações de atletas. O que aconteceu?
Nei Victor – Jogadores do Marreco eu nem passei perto, pode perguntar para cada um. Estou apenas observando e que três me serviriam. Como tem três no Rondon que me servem, três no Guarapuava. Mas tem diretores de times que estão disputando a Liga Nacional que ficam ligando para os meus jogadores na semana decisiva. Ano passado eu perdi o título porque o meu goleiro (Deivid) acabou com o meu time, que tá no Corinthians hoje e na Seleção Brasileira. Ele se desconcentrou no hotel porque um diretor ofereceu 11 mil pra um cara que ganhava 3. Você acha que o cara tem cabeça pra jogar no outro dia? Isso é ter ética? Não é. Espera o jogo terminar e depois ofereça o quanto quiser. O atleta balança, todo mundo é movido a dinheiro. Isso (propostas sem ética) o Cascavel não faz. A primeira coisa: se o Cascavel tiver o interesse em um jogador do Marreco, ele vai pedir pra comissão técnica, pra diretoria, se nós podemos conversar com fulano. ‘Não, ele já acertou com o Marreco.’ Assunto encerrado. Essa é a ética que o Cascavel usa, não sei os outros clubes. Nós somos assim. Então eu fico chateado. Teve clubes que me ligaram pra saber se eu tinha interesse em sair daqui. Eu disse: no dia 8 de dezembro, se o Cascavel chegar até a decisão (e chegou), vocês me liguem. Aí nós vamos conversar. Agora eu estou focado onde eu recebo, é meu trabalho. Acho que isso é o que deve ter dentro do esporte. Não existe essa ladainha, nós somos pessoas sérias.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques