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Francisco Beltrão
terça-feira, 27 de maio de 2025

Edição 8.213

28/05/2025

Tem espaço para todos no jiu-jitsu

Esporte

Quando tive a primeira passagem pela Europa, eu fui só para lutar, então morei na academia por um tempo, não saía muito e só treinava. Então vejo muitas pessoas falando sobre uma cultura de uma determinada região através do turismo, com isso você só vai ver coisas boas.
Na segunda passagem, fui para morar e viver por um tempo maior. Nesse período conheci muitas pessoas e pela primeira vez percebi e senti na pele um tratamento diferenciado pelo simples fato de ter outra nacionalidade. É o que chamamos de xenofobia. Países que se dizem primos, mas esquecem dos próprios problemas locais para criticar países que estão do outro lado do oceano.
Muitos ainda não sabem, mas o jiu-jitsu está presente no mundo todo, é o esporte que mais exporta professores do nosso País, acredito também que é o esporte mais democrático, porque você pode ter um cargo elevado e importante para a sociedade, mas dentro do tatame estamos todos de quimono e o tratamento deve ser igual.
No Rio de Janeiro, há uma mistura muito grande, não importa de onde a pessoa veio, por isso somos considerados um povo acolhedor, entendemos que, se uma pessoa abre um comércio local, essa pessoa está contribuindo com a economia local, gerando empregos, pagando seus impostos. Mas, infelizmente, isso não acontece em todos os lugares.
Aqui no País tem o chamado bairrismo. No Sul ainda está presente essa cultura, um pensamento que não tem como entender muito, não vejo problema em desenvolver ou querer aprender com pessoas que vêm de outros lugares. Um grande exemplo foi no ano passado, quando o time do Flamengo teve que trazer um técnico português para mudar a forma de jogo antigo que tínhamos. Pessoas de fora nunca vão tirar o emprego de ninguém. Não é questão de nacionalidade e sim de qualificação.
Tenho 40 anos de idade e 26 anos de jiu-jitsu, quase minha vida toda tive que pegar dois ônibus para chegar na academia e dois para voltar, sabia que um dia poderia viver do esporte. Hoje é fácil, qualquer um acha que está se qualificando pela internet. O esporte é muito parecido com a vida, se você não for atrás, tudo que você fez ficará para trás e outras pessoas virão para fazer melhor.
Um procedimento que deixo claro para meus alunos é que nunca me chame de mestre, tenho 14 anos de faixa preta, peguei meu quarto grau final do ano passado, esse título de mestre é só acima de 31 anos, só na faixa preta, ou seja, quando o professor pega a faixa coral e está atuando; se a pessoa ficar parada, não conta pela Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu. Abaixo da faixa preta é a faixa marrom de instrutor e mais nada. Essas e outras informações passo na minha academia, como quadros dos alunos competindo em eventos oficiais, regras atualizadas, metodologia infantil, com isso deixo os alunos à vontade no meu tatame, sem eles acharem que estou em um nível superior porque tenho mais tempo e sou faixa preta.
Com pequenos gestos, vou tentando quebrar esse bairrismo local dentro da minha academia e com a sociedade ao meu redor. Beltrão é uma cidade em que o povo viaja muito para fora, porém poucos de fora vêm para cá, não adianta só divulgar o nome da cidade, acredito que vamos crescer muito ainda, mas investindo na rede hoteleira, na gastronomia e no turismo, para quem vem de fora e para quem mora na cidade também. Temos uma geração crescendo com pensamentos diferentes e o chamado bairrismo é de uma geração egocêntrica com pensamentos antigos que visam o monopólio de um setor, sem entender que a concorrência em qualquer área só te faz crescer mais e produzir mais. Diga não ao bairrismo, somos todos iguais, independente de quem chegou antes ou depois.

Flavio Santos “Caverna”, professor de jiu-jitsu nascido no Rio de Janeiro e radicado em
Francisco Beltrão.

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