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domingo, 01 de junho de 2025

Edição 8.216

31/05/2025

Trabalhadores das Olimpíadas são os mais contaminados com a Covid-19

Esporte

CAMILA MATTOSO E CARLOS PETROCILO
TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) – Residentes do Japão envolvidos nas Olímpiadas são os mais contaminados por Covid-19 até agora no evento, segundo as últimas estatísticas do comitê organizador local.
De acordo com boletim médico deste domingo (25), há 132 casos de coronavírus relacionados aos Jogos. Desse total, 73 são de moradores do país-sede, e 64, de estrangeiros.
Fechados numa quase-bolha em hotéis e na Vila Olímpica, os atletas brasileiros estão sendo orientados a ficar atentos a esses números e redobrar a atenção para evitar interações, além de seguir os protocolos adotados desde o início.

Nesse caso, os contatos se tornaram problema maior porque moradores que atuam na organização voltam todos os dias para casa de transporte público, o que os deixa mais expostos do que os esportistas.
Além disso, as recomendações sanitárias adotadas pela organização são desiguais. Nem todos os envolvidos estão testando todos os dias, como acontece com os atletas.
Com zero registros até o momento, a delegação em Tóquio se preocupa com esse risco de contágio. A primeira inquietação veio com aeroportos e aviões. Os mais afetados pelo vírus são até agora trabalhadores terceirizados (66).

“O distanciamento é para todo mundo. Com isso, você também já faz uma proteção [contra] essas pessoas que estão indo dormir em casa e também pegando transporte público”, afirmou Beatriz Perondi, infectologista que coordena a área de situações extremas do Hospital das Clínicas de São Paulo e faz parte da comissão médica do COB (Comitê Olímpico do Brasil).
“Temos falado nas reuniões de boas-vindas sobre os protocolos e estamos dizendo para eles que a ‘workforce’ está com mais casos do que quem está aqui na Vila fechado. E que eles precisam tomar cuidado.”
A equipe médica do comitê afirma que os protocolos estão sendo rígidos desde a preparação e que o principal é manter o que vem sendo feito.
“A orientação é para não ter interação com quem não é da nossa delegação. Não só com pessoas da força de trabalho, mas também de outras delegações”, disse Ana Côrte, coordenadora médica do COB.

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Há discrepâncias entre as regras de testagem adotadas para atletas e para os que estão credenciados a trabalhar nos Jogos. Enquanto competidores e membros das delegações são examinados diariamente, funcionários a serviço do comitê organizador de Tóquio são testados apenas a cada sete dias. Esse prazo cai para quatro dias caso o profissional tenha algum tipo de contato com os esportistas.
O calendário atual causou receio entre os funcionários e fez com que voluntários desistissem do evento. Um dos profissionais, contratado há dois anos, disse, sob condição de anonimato, que não há abertura para dialogar com o comitê.
Em tempos de crise financeira, os salários mensais, para esses trabalhadores, são atrativos e partem de US$ 2.500 (R$ 13 mil). E a organização bancou passagens e a mudança para os profissionais que vieram de outros países.
Quando as Olimpíadas começaram a ser preparadas, os japoneses não tinham a noção do rombo que seria causado pelos gastos com testagem e prevenção contra a Covid-19.
Jornalistas, por exemplo, passaram por testes diários só nos três primeiros dias em Tóquio. Depois, a distância do exame –feito a partir da saliva– pulou para quatro dias entre um e outro. Para quem atua indiretamente, como taxistas, não há exigência de testagem.
Especialistas consultados pela reportagem afirmam que as regras diferenciadas favorecem a contaminação. “Todos deveriam ser testados diariamente, atletas e profissionais do comitê. O risco de transmissão entre eles é muitos grande”, diz a infectologista Raquel Stucchi, professora da Unicamp.
Segundo Estêvão Urbano, da Sociedade Brasileira de Infectologia, o intervalo entre os exames –seja de 4 ou 7 dias– dá brechas para a propagação do vírus, até na Vila Olímpica. “Não é ideal essa separação entre não atletas e atletas, já que todos convivem. Quem não é atleta pode passar dois, três dias transmitindo o coronavírus”, diz Urbano. “É preciso que a testagem seja feita com isonomia no mesmo intervalo, entre todos.”

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