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quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Eu poderia ter marcado o gol 2000 em Planalto de Verê

Por Ivo Pegoraro

O encontro de ex-atletas do Palmeiras do Planalto de Verê, neste sábado 8 de abril, me fez lembrar daquela vez que marquei meu gol número 2000 (anoto meus jogos, e gols, desde 1982). Eu estava com 1.999 gols e queria marcar o gol número 2.000 ainda no ano 2000. Entre tantos lugares que procurei um jogo de bola, naquele domingo 31 de dezembro, um foi Planalto de Verê. Segue o texto de 22 anos atrás.

Enfim, o gol 2000!
31.12.00 – 20:40 horas
Na reunião da ABI Sudoeste, dia 9 de dezembro, não teve jogo. No sábado seguinte, 16, tive reunião do Centro de Letras e em seguida viajamos para Pato Branco, na formatura do sobrinho Nédio Chiossi. Dia 23 de dezembro, viajamos pro Rio Grande do Sul (Paim Filho). Fui ‘‘armado’’ com material esportivo, mas não consegui naquela terra, desta vez, nenhum jogo.
A última esperança de marcar o gol 2.000 ainda no ano 2000 ficou para este final de semana. Não gostei do comportamento do tempo, choveu direto desde sexta-feira.
Sábado, 30, depois do almoço, fui ao Clube Marrecas. Os campos todos interditados devido à chuva. Eram três horas quando cheguei lá. O presidente, David Lorenzetti, comentou: ‘‘Quando tem jogo, a uma hora já estão jogando, mas hoje não tem as mínimas condições.’’
Ainda assim, percorri a cidade. Estive no Petrycoski, na Vidroart, Santa Fé, fui em todos os campos que conhecia. Não encontrei ninguém jogando nem preparado para jogar. Voltei pro Marrecas e fiz alguns exercícios na água. Lá pelas 17:30 deu mais uma boa pancada de chuva. A garotinha Mariela Francio Isoton, que naquela tarde estreava um jogo novo de “macarrões”, chamava a atenção da mãe dela para a beleza da chuva caindo sobre a piscina. Realmente era bonito ver todos aqueles pingos caindo sobre um manto verde-azulado de água que estava uma delícia para nadar. Mas lembrava com tristeza que aquela chuva matava as minhas últimas esperanças de um jogo naquele dia.
Eu tinha programado ir a Quedas do Iguaçu, junto com o Bruno (meu filho de 16 anos), passar o último dia do ano com o pai e a mãe. Mas para voltar hoje, 31, porque começam as posses dos prefeitos. Às 22:30 deverei estar em Itapejara D’Oeste (Leonardo Gritti, reeleito, tem agora Celito Beviláqua como vice) e à zero hora em Chopinzinho (Vanderlei Crestani devolve o cargo a Ênio Ceni).
Saímos de Quedas às 15 horas. Vim de olho nos campos. Ninguém jogando. Descemos no Alagado, nada. Resolvi passar pelo Verê, nada. Desci a União da Barra, conversei com o Alemão (Jacir Peloso) e o Severino Sartor: nenhuma possibilidade de jogo. Só se lhes contasse uma história bem dramática, mas ainda assim poderia ficar no insucesso, porque eles estavam em poucos.
No caminho, ao passar por Planalto, mostrei ao Bruno que no alto de um morro havia um campo. E na parte de baixo, outro. No meu tempo de adolescente, havia dois times na comunidade de Planalto, o Palmeiras, que ainda existe, e outro. Em Verezinho também havia dois times, o Flamengo e o Canarinho.
Uma vez (5.3.72), jogando pelo Ouro Preto de União da Barra, empatamos com o Flamengo de 2×2. O campo do Flamengo era de terra. De um tombo que levei, abriu uma ferida no joelho direito. Ainda tenho a cicatriz.
Naquele tempo muita gente vivia na roça, a população era 80% rural e 20 urbana. Hoje, mesmo nos municípios menores, houve quase uma inversão. Tem menos gente que joga bola, menos times.
Se programar, sai. Me disseram que o Nelson Peloso, companheiro de União da Barra nos idos de 70, vem (de Dom Eliseu, Pará), em viagem de passeio, no mês de janeiro. E quer fazer um jogo, com nós, veteranos, dia 20. Mas a minha preocupação é marcar o gol 2.000 no ano 2000. E hoje é o último dia do ano, último do século, último do milênio.
Em União da Barra, o Severino Sartor me convidou até pra tomar vinho doce em sua casa. Adoro vinho doce, mas naquela hora o que eu queria era tentar, pelo menos tentar, o gol que me faltava.
Vim embora já admitindo que o gol 2000 ficaria para 2001. Talvez dia 12, o Hélio Alves nos convidou para um jogo entre Jornal de Beltrão e Rádio Ampere. Mas eu queria hoje!
Deixei o Bruno em casa e saí para uma nova ‘‘ronda’’ pelos campos e clubes. Nada! No Santa Fé havia algumas crianças, igual ao que vi em Lambedor (entre Verê e Dois Vizinhos) e próximo à Fecularia Rio Tuna. Em última instância… Não, nada contra bater bola com crianças, eu jogo com quem quer que seja, mas se é pra marcar o gol 2.000 jogando com crianças, então que fique para 2001. Tem que ser com gente grande.
No Marrecas também não tinha o menor sinal de jogo. Estava a cada minuto mais conformado, embora a tarde ainda fosse linda, e já mais fresca, ótima para bater uma bola. Lembrei de uma última tentativa: a Ajub. Quem sabe?
Desço pela rua Antônio Carneiro Neto, no que chego em frente à Tram’s… não é que vejo uns marmanjos jogando! Vejam só, são dois times e de gente grande.
Não sou sócio da Ajub. Mas encostei o carro e falei para o porteiro que precisava falar com o César (Anísio César Pereira, o César Cabeleireiro, ele é o presidente da Ajub, e também vereador eleito pela primeira vez, assume amanhã de manhã).
O César estava atendendo ao celular. Quando desligou, perguntei ‘‘tem jogo aí?’’ Ele falou ‘‘tem, mas está faltando quatro pra completar os dois times, vamos lá que eu vou também’’.
Pensei ‘‘não é possível, será que vai dar certo, tomara que não aconteça nada contrário e que seja o que ele disse’’.
O César emendou: ‘‘Só que tem que ser descalço’’.
‘‘Então estou pronto’’, falei.
Ele ainda chamou o filho Fernando e mais um. Um minuto depois estávamos jogando. Aquecimento? Pois é, naquelas alturas, seja o que Deus quiser.
Percebi logo que o time deles era melhor e dos meus improvisados companheiros ninguém me conhecia como ‘‘boleiro’’, nunca tinha jogado com nenhum deles. Num caso desses é difícil receber bola. O time deles ia pra cima, marcava gols, e o nosso nada! Revezavam o nosso goleiro, pensei ‘‘só me falta pedirem que eu vá pro gol’’.
Menos pior que eu estava bem. Me sentia bem, tocava legal na bola, tocava certinho, não exagerava. Jogava solto, aproveitava bem as bolas, recebia, carregava um pouco ou cortava alguém e entregava no pé.
Uma hora nosso time estava tão pressionado que senti necessidade de ajudar a defesa. Depois de um ataque errado do nosso time, três companheiros ficaram lá no gol deles. E a nossa defesa aberta, dois contra três ou quatro. Voltei e dividi uma bola e senti logo o impacto que até me assutou e me adverti: estou aqui pra correr, tocar na bola e chutar; dividir não, lembre-se da coluna.
De tanto soltar bola, recebi uma em boa posição, na direita do ataque. O cara cobrou o lateral pra mim, toquei pra ele mais adiante, ele enganou o lateral e me devolveu. Ao receber, toquei pra frente, deixando o zagueiro batido. Quando o goleiro quis sair, chutei de direita, já sabendo que iria marcar. ‘‘Gol, é o dois mil, depois te conto, César’’, falei, numa alegria verdadeira.
O jogo continuou como se tivesse acontecido apenas mais um gol qualquer. Logo depois recebi uma bola da esquerda, do Heitor. Chutei de direita, no tempo certo. Peguei o goleiro no contrapé. Ele ficou reclamando da defesa, nosso time estava equilibrando o jogo.
Era o segundo gol, e eu que precisava só de um! E o jogo continuava. Mas logo alguém cansou. Pára um, o outro vai buscar a camisa que deixou pendurada no poste, nem meia hora depois do início do jogo, tínhamos parado. Na saída, pedi pro César que me desse o nome de todos que jogaram e lhe contei a história. ‘‘Que sorte a nossa, então’’, disse o Cesar.
No bar da Ajub, encontrei o Silvério Teixeira, companheiro (ora companheiro, ora adversário) dos tempos do Barro Preto. ‘‘Você continua jogando, está em forma’’, me disse. Contei-lhe minha história, agora estou voltando, após quase um ano parado, por uma hérnia de disco.
O Silvério me olhou e disse: ‘‘Você, um cara magro, com hérnia de disco! Eu, veja minha barriga, estou com 130 quilos, nunca tive problema de coluna’’.
Meu time jogou com Diego Felipe da Cruz, José Roberto Rodrigues, Heitor de Lima, Jéferson Camargo, Altair Samuleski, Alex Baldissera e eu.
Time deles: César (fiz os dois gols no César, depois ele revezou com o Negrão da Ajub – Romildo de Oliveira), Fernando Pereira, Marcelo Ferreira, Cláudio Rodrigues (da Manga Rosa), Paulo César Pereira e Cris (ninguém soube dizer o sobrenome, ele já tinha ido embora).
São 21:20, consegui marcar o gol e fazer estas anotações ainda no ano 2000! Ufa, que bom, como faz bem!
Agora vamos às posses dos prefeitos e curtir o novo milênio. Alguém me disse hoje à tarde ‘‘poxa, vocês do jornal vão terminar o milênio e começar o outro trabalhando!’’
Pois é, quem me mandou escolher jornalismo!

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