Árbitro residente em Francisco Beltrão é alvo de torcedores da Chapecoense após lance que decretou título do Avaí.

Por Juliam Nazaré – Um dos momentos de ápice da carreira de Gustavo Bauermann se transformou em medo. Árbitro escalado para a final do Campeonato Catarinense, entre Avaí e Chapecoense, sábado, 22, em Florianópolis (SC), ele é alvo de ameaças por parte de torcedores da equipe alviverde. O jogo terminou empatado em 1×1 — na ida, 2×2 — e, como o time da capital teve melhor campanha ao longo do estadual, assegurou o título.
A Chapecoense vencia o jogo por 1×0, gol de Bruno Matias. Aos 15 minutos do segundo tempo, Gustavo foi chamado pelo árbitro de vídeo (VAR) para analisar uma possível falta dentro da área a favor do Avaí. No lance, Bruno Leonardo, da Chape, “sola” o avaiano Gaspar. Após 11 minutos de paralisação, Bauermann marcou o pênalti e expulsou Giovanni Augusto, que confrontou o árbitro a caminho da cabine.
Com Eduardo Brock convertendo a cobrança para os donos da casa, uma série de reclamações e desdobramentos tiveram início. Resultado mantido, Gustavo Bauermann foi ameaçado por um dirigente. É o que ele relatou na súmula da partida, que também apontou agressões do técnico Gilmar Dal Pozzo contra o quarto árbitro, William Machado Steffen, e ao lateral Mário Sérgio, do Avaí.
Em entrevista ao JdeB, nesta segunda-feira, 24, Gustavo Bauermann diz que sua mãe e avó, que moram em Campo Erê (SC), também está sendo ameaçadas. “Só a gente sabe o quanto batalhou pra chegar numa final de campeonato. Depois de 10 anos de filiado à Federação Catarinense consegue apitar uma final. Cheguei na CBF em 2019, fiz três jogos na Copa do Brasil neste ano. Fui o árbitro que mais fez jogos no estadual. Mas também é um momento de dor, porque o árbitro quando vai pro campo precisa ser isento. A arbitragem sempre torce para que a equipe vencedora seja a deles, a de arbitragem. E nós fomos vencedores. Fizemos o trabalho que precisava ser feito. Houve um lance que ninguém queria que acontecesse, um lance polêmico, mas nas imagens a gente vê que houve penal. Uma equipe se sentiu injustiçada e com palavras de baixo calão, ameaças de morte, fez um cenário de angústia, tristeza e medo. Você com uma mãe idosa, a 700 km, com minha avó, de 83 anos, acamada, depois de passar por uma cirurgia de um câncer, vitoriosa da vida, que passou a receber ameaças, recebendo o endereço da casa, fotos da casa, de pessoas que se dizem torcedores, que na verdade são pessoas sem escrúpulos”, relatou.
Gustavo afirma que recebeu mais de mil mensagens e que bloqueou mais de 100 números desde sábado. Ele diz que está intimado a não sair às ruas de Chapecó e Campo Erê, e que até mesmo em Francisco Beltrão, onde reside, terá de se cuidar. “Não esperava passar por isso na minha carreira. Porque o erro é do ser humano, mas ele não aconteceu nessa partida. Houve acerto. O julgamento está envolvendo gente que não tem nada a ver. Peço a Deus que ilumine essas pessoas de alma dolorosa. Cada um oferece o que tem.”
O árbitro confirmou ao JdeB que durante a semana irá acionar a Justiça para procedimentos civis e cabíveis ante quem ameaçou a ele e sua família. “Vão ter que provar que sou corrupto e ladrão.”