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Francisco Beltrão
domingo, 25 de maio de 2025

Edição 8.211

24/05/2025

Setor de eventos voltou em alta, mas inflação e baixo poder aquisitivo são novos desafios

Preço dos combustíveis, dos alimentos, das flores e falta de mão de obra para finais de semana. Setor agora luta para se reorganizar e cumprir os contratos.

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Bibyana e Rodrigo tinham seu casamento agendado para 2020 e devido à pandemia precisaram adiar. O evento aconteceu no dia 16 de abril deste ano. Assessoria: Jéssica Zucco. Foto: Caroline Moschei.

Por Niomar Pereira – O setor de eventos, que foi um dos mais prejudicados durante a pandemia de covid-19, retornou com força máxima. Segundo a Associação Brasileira de Promotores de Eventos (Abrape), a expectativa é que 590 mil eventos (shows, festas, casamentos, congressos, eventos esportivos e sociais, teatro, etc) sejam realizados até o final deste ano, em todo o país. O segmento, responsável por mais de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, movimenta uma gama importante de prestadores de serviços, gerando emprego e renda.

Vilmar Mazzetto, diretor do Departamento de Cultura de Francisco Beltrão, diz que a retomada dos eventos foi como um renascimento. O Teatro Municipal Eunice Sartori (Espaço da Arte) aos poucos está recebendo novas atrações. “Para nós da cultura foi como um renascimento. Foi preciso reavaliar alguns formatos de eventos. Acredito que a população estava sedenta pelos eventos e puderam ver a importância da cultura, do lazer e esporte neste período de pandemia.”

Itamar Vodzicki, diretor da Unisep Francisco Beltrão, diz que a procura para locação do Teatro Unisep, o maior da região, nunca foi tão grande. A instituição de ensino tem priorizado eventos que engrandeçam a agenda cultural da região. “O espaço é para ser locado, entretanto, antes de qualquer coisa, nós nos damos o direito de fazer uma análise. Não queremos somente um espaço de locação e sim que a região possa ganhar, que a cultura seja difundida para engrandecimento da população”, conta.

“Pra você cumprir um orçamento que tinha feito lá no início da pandemia agora é impossível. Não tem como.”

Recentemente houve show com a banda cover do Queen, um musical sobre a Bela e a Fera e já está agendado show com cover do Abba (28 de maio), assim como um novo espetáculo infantil no mesmo dia; e show com Oswaldo Montenegro, em agosto. “Estamos priorizando eventos mais elitizados, mas não no sentido de valores, mas de senso cultural. Então alguns shows nós de fato indeferimos os pedidos, porque não estão alinhados com a ideia do espaço”, ressalta Itamar. Todos os meses o Teatro Unisep recebe eventos e atividades diversas como apresentações de danças, formaturas, entre outros.

O empresário Elton Maronezi, responsável pelo Marabá Centro de Eventos, conta que antes da pandemia fazia uma média de dois a três eventos por mês. “Neste ano, tivemos em praticamente todas as semanas até agora devido às formaturas que foram remarcadas.”

Segundo ele, tudo está voltando ao normal. No dia 29 de março o Governo do Paraná anunciou o fim da exigência de máscara em ambientes internos. E, conforme Elton, aos poucos as pessoas estão esquecendo da pandemia. “A máscara não é obrigatória, mas sugerimos que as pessoas usem ao menos para se servir no buffet, temos luvas também para quem quiser, mas quase ninguém usa.”

Velhos e novos desafios

A cerimonialista Jéssica Zucco observa que o setor enfrentou grandes desafios com o início da pandemia em março de 2020. “Tanto pequenos empresários, no qual eu me encaixo, com organização de eventos sociais, até os produtores de grandes shows e feiras, todos foram afetados.”

Jéssica, que já tinha voltado a trabalhar com carteira assinada em uma instituição financeira, viu a procura por eventos crescer novamente no final de 2021 e retornou exclusivamente para o setor. “Em se tratando da retomada do nosso setor, eu vejo que ainda há muitos desafios para enfrentarmos até que tudo normalize como era lá em 2019.” Ela salienta que há uma agenda de remarcações para serem cumpridas ao longo de 2022 e o que está impactando negativamente neste momento é a inflação dos insumos. O aumento do preço dos combustíveis que afeta toda a cadeia de locomoção dos trabalhadores e produtos utilizados nos eventos, por exemplo. “Alguns contratos ainda com valores antigos, nós temos que conversar, tentar explicar para os clientes. Buffets, por exemplo, fechados lá em 2019, que agora vão ser executados, precisam de uma atualização. Quem vai ao mercado sabe o quanto a comida subiu de valor. Então, é preciso todo esse jogo de cintura com as remarcações que ocorreram.”

Redução do poder aquisitivo

Novos eventos estão surgindo, mas Jéssica percebe que houve uma redução do poder aquisitivo de modo geral da população; e isso está impactando nos fechamentos de contratos. “Uma pesquisa recente mostrou o que os brasileiros mais querem nesse ano, que são as viagens e os eventos. Entretanto, vejo que a retração econômica tem sido nosso maior desafio nesta retomada dos eventos. Precisamos adaptar orçamentos, número de convidados e tamanho das produções para que elas possam ocorrer.”

Falta mão de obra

A empresária Dleiza Rios Barbieri, que comanda junto com sua família o complexo de eventos da Chácara Rios, relata que também está muito difícil de encontrar mão de obra.  “Eu tenho conversado com os colegas e a gente está tendo uma dificuldade muito grande com mão de obra para trabalhar em evento, normalmente fora de horário e finais de semana. Por sorte tenho umas pessoas bem comprometidas, uma equipe muito boa. Mas a família tem que estar à frente, mãe, pai, eu, marido e filho, se não a coisa não acontece. Pra uma empresa funcionar nesse ramo de eventos, principalmente porque você precisa trabalhar às vezes na madrugada, é você e a tua família.”

Preço das flores disparou

Dleiza também ressalta que a questão da inflação impõe uma nova realidade ao setor. Tudo está excessivamente mais caro. Ela cita como exemplo a decoração com flores naturais que subiu cerca de 300%.  “Os produtores de flores de Holambra, São Paulo, por exemplo, na pandemia tiveram percas irreparáveis por conta do cancelamento dos eventos. Pra se manter nesse tempo de pandemia partiram para outro ramo. Aproveitaram os canteiros, os viveiros e as estufas para o ramo de hortaliças e leguminosas.

Quando se posicionaram no mercado com esse produto, resolveram não mudar mais. Pouca oferta, preço sobe. Pra você cumprir um orçamento que tinha feito lá no início da pandemia agora é impossível. Não tem como.” Outro item que aumentou muito é a alimentação. “A carne antes da pandemia você pagava vinte, trinta reais o quilo do [filé] mignon. Hoje está noventa e poucos reais.”

Empresas precisam se manter

Dleiza diz que ouve queixas de que está muito caro para fazer um evento. Mas ela ressalta que essa é a única maneira das empresas se manterem no mercado. “A gente tem que cobrar aquilo que é justo pra gente poder estar aqui também deixando a nossa família de lado, a nossa vida social de lado, a gente nunca participa de praticamente nada de evento social nos fins de semana.” Mesmo a equipe de colaboradores, como trabalham nos finais de semana, muitas vezes até de madrugada, precisam uma remuneração melhor. E isso também encarece a folha de pagamento e os custos das empresas que organizam eventos.

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